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Luís de Camões: Também Embaixador das Migrações

Acredito que Camões e seus escritos refletem a crença de que é possível expandir os horizontes sem fechar os olhos à riqueza de outros povos.

Luís de Camões: Também Embaixador das Migrações
Aline Villas Boas
29 de janeiro de 2025

Agora em janeiro de 2025, celebra-se os 500 anos do nascimento de Luís de Camões, escritor essencial na construção da identidade cultural do país. A data me trouxe pensamentos e algumas reflexões sobre a influência do poeta, não apenas na literatura, mas também como um verdadeiro embaixador da experiência migratória, aquele que apresentou Portugal ao mundo e abriu o mundo aos portugueses.

Luís de Camões mostra em seus textos não só a expansão portuguesa através dos mares, mas mostra nos seus versos a amabilidade e a capacidade de compreensão do outro. Em Os Lusíadas, é possível perceber a imensidão que emerge dos encontros culturais. Este trecho de Sonetos mostra esse olhar positivo sobre a migração: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança; / Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades."

E é neste aspeto que vejo a visão de Camões perante o mundo: a ideia de que a existência é movimento, transformação, aceitação do novo e do diferente. A ideia central que me toca o coração como imigrante é como Camões ensina-nos que o contacto com o outro é enriquecedor e que o mundo é de todos e para todos, desde que haja empatia e entendimento mútuo.

Pessoalmente, Camões é o que chamamos hoje de cidadão do mundo, e o chamo de embaixador pela exaltação de características essenciais para os que vão e aos que recebem: respeito e interesse pelas culturas diferentes da sua própria.

É como se a experiência de sair do seu lugar de conforto cultural, sua casa, no sentido amplo da palavra, não é apenas uma busca por melhores condições físicas de vida, mas também uma jornada emocional, uma emigração cheia de emoção, esperança e até desespero. Quiçá conseguíssemos ser como Camões e ter o olhar empático, sem julgamentos, reconhecendo tanto os feitos heroicos quanto as falhas humanas próprias do encontro com outras culturas. Para muitos ao longo dos séculos, as palavras de Camões funcionaram como um elo que ajudou a manter vivo o sentimento de pertença ao novo espaço, mesmo a milhares de quilómetros de casa. O seu legado continua a inspirar emigrantes de todas as partes, mostrando que o deslocamento, voluntário ou não, é também uma forma de enriquecimento cultural.

"Não me pesa, ó clara luz, meu duro fado, / Se eu vos soubesse as minhas dores claras, / Que o mundo todo é feito de saudade." (Sonetos, Luís de Camões)

Acredito que Camões e seus escritos refletem a crença de que é possível expandir os horizontes sem fechar os olhos à riqueza de outros povos. Celebrar os 500 anos de Camões é reconhecer a sua importância como um verdadeiro embaixador dos emigrantes, uma voz que transcendeu o seu tempo e continua a ecoar nos corações daqueles que partem em busca de novos mundos. O seu legado recorda-nos que, mesmo em terras distantes, somos parte de um todo maior, e que a experiência humana é universal na sua essência.

"Cesse tudo o que a musa antiga canta, / Que outro valor mais alto se alevanta." (Os Lusíadas, Canto I, 3)

Hoje, esse "valor mais alto" está na abertura ao mundo, no acolhimento do diferente e na perceção de que o mundo pertence a todos, uma verdadeira Casa Comum.

Foto. Fonte: Gerado pela autora em IA no Canva (Magic Studio™)
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