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Fair play - minuto 10

A palavra fair, que passou do inglês para a linguagem desportiva universal, significa simplesmente «decente», «honrado», «justo». E fair play designa o comportamento decente de companheiros que se coaduna com as regras.

Fair play - minuto 10
Fernando Soares, CM
19 de junho de 2021

Quem me conhece sabe da minha apetência e gosto pelo desporto em geral e pelo futebol em particular. Desde que me conheço, qualquer espaço e tempo livre era ocasião para o mais empenhado dos torneios e/ou qualquer obstáculo “geofísico” era ocasião para mais uma prova “olímpica” interpares. E perder, já se sabe, “nem a feijões”!

Ora, sendo o futebol um desporto tão popular deveria ser, a meu ver, a mais bela e evidente manifestação do «jogo limpo» (fairness). A palavra fair, que passou do inglês para a linguagem desportiva universal, significa simplesmente «decente», «honrado», «justo». E fair play designa o comportamento decente de companheiros que se coaduna com as regras. Não foi, certamente, por acaso que a expressão «comportamento desportivo», entendido nesse sentido, se tornou proverbial. Embora, nem sempre dominante no espírito competitivo.

Por isso, nunca é de mais refletir sobre o que significa «jogo limpo», fair play, respeito e competição.
O recente acidente com o jogador da Dinamarca, Christian Eriksen, mostrou, mais uma vez, o melhor e o pior do futebol. Por um lado, o melhor: a solidariedade e proteção da dignidade da pessoa, espírito de grupo, a superação, o sacrifício por uma causa, a disciplina, etc. Por outro lado, o pior: a submissão aos interesses económico/comerciais, o voyeurismo, a falta de respeito pela pessoa, por parte da UEFA (organização).

O desporto, sabemo-lo bem, é uma riquíssima fonte de valores e virtudes que nos ajudam a melhorar como pessoas. É, por isso, necessário aprofundar a estreita relação existente entre o desporto e a vida, de modo a iluminarem-se reciprocamente, e a fazer com que o esforço de superação evidenciado numa disciplina atlética sirva também de estímulo para melhorar sempre como pessoa em todos os aspetos da vida.

Só esta busca nos coloca no caminho que, com a ajuda da graça de Deus, nos pode conduzir rumo àquela plenitude de vida, a que nós chamamos santidade. Acreditamos que para isso, é preciso mais alguma coisa do que a estrita «observância das regras específicas de cada desporto, imposta unicamente pela ameaça de sanções».

Exige-se «uma atitude espiritual global que fomente o compromisso com os princípios éticos e que afirme também interiormente estas regras. Que não se queira obter o êxito a qualquer preço…; que não se veja no rival um inimigo a abater, independentemente dos meios; mas que o considere, antes, um companheiro e concorrente (que corre conjuntamente) na competição desportiva. E, por conseguinte, lhe conceda o direito à igualdade de oportunidades e a ver respeitada a sua integridade física e dignidade humana independentemente da sua nacionalidade, raça e extrato social.

Tudo isto pode ser facilmente entendido como a concretização da regra de ouro do sermão da montanha: «não faças aos outros o que não queres que te façam a ti». E, ainda, na perspetiva do sermão da montanha pode transformar-se inclusive numa regra positiva: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (Mt 7, 12). Regra que se deve aplicar entre equipas, adeptos e dirigentes.

O desporto é um lugar de encontro onde pessoas de todos os níveis e condições sociais se unem para obter um resultado comum. Numa cultura dominada pelo individualismo e pelo descarte das jovens gerações e dos idosos, o desporto é um âmbito privilegiado em volta do qual as pessoas se encontram sem distinções de raça, sexo, religião ou ideologia, e onde podemos experimentar a alegria de competir para alcançar uma meta juntos, participando num grupo no qual o sucesso ou a derrota são compartilhados e superados; isto ajuda-nos a rejeitar a ideia de conquistar um objetivo, centrando-nos somente em nós mesmos.

O desporto é também um veículo de formação. Sabemos que as novas gerações olham e se inspiram nos desportistas! Por isso, é necessário que todos os desportistas sejam um exemplo de virtudes como a generosidade, a humildade, o sacrifício, a constância e a alegria.

É verdade que o futebol pode transformar-se num sucedâneo da religião. Em relação a ele, fala-se de «culto», de «adoração», «ídolos» e até «deuses». E os ritos nos estádios apresentam alguns paralelismos com as liturgias religiosas: o gesto dos jogadores a benzer-se, as mãos levantadas aos céus, as invocações implícitas. Até o erguer da taça acabada de conquistar traz à memória a exibição da custódia. E dificilmente pode negar-se que os coros de cantos e estribilhos dos grupos de adeptos têm a virtude de suscitar, em milhares e milhares de pessoas, experiências de comunhão quase religiosa.
No entanto, o decisivo não é o fenómeno isolado enquanto tal, mas sim o ambiente global que sugere ao indivíduo que o está a viver. Portanto, se apenas enche o vazio interior, e não há mais nada lá dentro, o futebol torna-se perigoso para a pessoa. E, como infelizmente temos visto várias vezes nos últimos tempos, acaba por fomentar apenas prazeres niilista e violentos.

Sob condições adequadas, a globalização que o desporto encerra pode ser uma excelente oportunidade. Se bem orientado, pode representar uma ocasião única de reunir pessoas de nações, culturas e religiões diferentes, servindo assim como meio de missão e santificação.

Venha lá mais minutos 10, fair play e respeito!

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