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A vida, o amor e a arte musical de Jorge Palma

Trago a esta “mesa-redonda”, Jorge Palma, que aos 72 anos edita um disco sobre o qual responde que o título só poderia ser: Vida.

A vida, o amor e a arte musical de Jorge Palma
João Pedro Chantre
31 de maio de 2023

Costuma dizer-me uma amiga, que encontrou a fé católica em idade adulta, que antes teve como catequistas: Milton Nascimento, Elis Regina, Maria Bethânia e outros nomes da música brasileira. O que, para mim, é absolutamente compreensível. Também eu encontrei e encontro pontes entre a espiritualidade, a fé, e arte, ou não fosse ela, em todas as suas formas, uma busca profunda pela vida, a inquietação pelo infinito, a atração constante pelo bom, o belo e o verdadeiro.

Letras de canções como: “Cio da terra” (Debulhar o trigo/ recolher cada bago do trigo/ forjar no trigo o milagre do pão) ou “Maria, Maria” (É um dom, uma certa magia/ uma força que nos alerta / uma mulher que merece viver e amar/ como outra qualquer do planeta), ambas de Milton Nascimento; e “Romaria” (Me disseram, porém/ Que eu viesse aqui / Pra pedir de romaria e prece / Paz nos desaventos / Como eu não sei rezar/ Só queria mostrar/ Meu olhar, meu olhar, meu olhar) de Elis Regina, e “Abelha Rainha” (Ó abelha rainha/ Faz de mim um instrumento de teu prazer, sim, e de tua glória) de Maria Bethânia, entre muitas outras.

Faço esta ligação para falar de uma das últimas canções de Jorge Palma. O tema intitula-se “Vida” e , nos primeiros versos, no tom intimista e profundo de Jorge Palma, senti um hino à vida, como um salmo:

“Vida
Causa de todas as causas
Princípio de todo o princípio
Final de todos os finais
Nasce em mim […]”

E num tom quase de prece:

“Eleva-me em cada momento
Cresce em mim

Mostra-me os meus ideais
Os mais nobres e os demais
Ajuda-me a classificar os anjos

Vida
Moldura de todos os astros
Fonte de todo o oceano
Pilar de toda a construção
Vive em mim”


Para além da distância de vários palcos, até hoje não me encontrei com Jorge Palma. Tenho, por outro lado, muitos anos de encontro nas canções/poemas que ficam agarrados à memória, ou como dizemos: sabemos de cor, sabemos de coração. Recordo o “Bairro do amor” (é uma zona marginal/ Onde não há prisões nem hospitais), “Só” (Só por inventar/ Só por destruir/ Tenho as chaves do céu e do inferno/ e deixo o tempo decidir), e “Terra dos sonhos” (Na terra dos sonhos/ podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal / Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual), e “O meu amor existe” (O meu amor ensinou-me a partir/ Nalguma noite triste/ Mas antes, ensinou-me/ A não esquecer que o meu amor existe), e este outro poema também ele com semelhanças a um salmo: “Passeio dos prodígios” (Para quê fazer projetos/ Quando sai tudo ao contrário? /Pode ser que por milagre / Troquemos as voltas aos deuses).

Trago a esta “mesa-redonda”, Jorge Palma, que aos 72 anos edita um disco sobre o qual responde que o título só poderia ser: Vida. Em dez canções proporciona uma viagem que se conclui na canção que escreveu a pedido de Carlos do Carmo, também com vida no título: ‘Canção de Vida’ (E tu, tu que nem sempre me entendes/ Mas que tão bem sabes aconchegar/ Aquele que eu sou/ Talvez num breve instante, ao olhares-me/ Consigas simplesmente, sem pudor, rever-te em mim).

Agora, que cada vez mais se aproxima a Jornada Mundial da Juventude, tenho presente a encíclica "Fratelli Tutti", a par da “Laudato Si”, que marcarão o histórico pontificado do Papa Francisco. No subcapítulo sobre diálogo social para uma nova cultura, da "Fratelli Tutti", o Papa cita este samba doce de Vinícius de Moraes: "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida". Sendo mais humanos convergiremos para o encontro, para caminhos comuns, para a paz.

Legenda da imagem: sem título, c. 1938, Grafite sobre papel, 40,5 x 47 cm, Coleção Câmara Municipal de Vila do Conde.
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