A cidade da esperança, dos sonhos e da paz
Acredito que setembro de 2023 ficará marcado na memória pelos reencontros e recomeços dos jovens, das suas famílias, grupos e amigos, que participaram nas JMJ.
João Pedro Chantre
20 de setembro de 2023
No verão passado reencontrei-me com a minha professora de francês do 8.º e 9.º anos. Entre vários temas de conversa surgiu uma pergunta, ao estilo de estado da arte da língua francesa no nosso dia a dia. Falamos francês com regularidade? Lemos jornais ou revistas em francês? Ouvimos música francesa? Que cantor ou cantora da língua francesa conhecemos na atualidade?
Em dias de finais de agosto lembrei-me de imediato da canção “C'est en septembre” de Gilbert Becaud: C'est en septembre. Uma canção que lembra os dias de fim de verão, da praia, do sol poente a aproximar-se o frio.
Setembro é este tempo de recomeços. Uma espécie de início de ano sem “réveillon”, um mês em que pressentimos no ar algo propício à mudança. Uma espécie de convite, como o poema “Sísifo” de Miguel Torga:
"Recomeça Se puderes; Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres; Nesse caminho duro; Do futuro, Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances; Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade.”
Acredito que setembro de 2023 ficará marcado na memória pelos reencontros e recomeços dos jovens, das suas famílias, grupos e amigos, que participaram nas JMJ. Nos vários reinícios, ou como dizem os franceses, na “rentrée”, quer do ano escolar, quer no pós-férias de trabalho, ou até na “rentrée” política.
E sobre política também falou o Papa aos jovens, convidando-os a envolverem-se na política, no debate e resolução dos problemas que sentem no dia a dia. Nessa linha, evocou Lisboa, cidade da União Europeia que pode ter protagonismo numa abordagem humanista dos problemas europeus e de confluência com o mundo global, por exemplo, na construção da paz e no acolhimento de migrantes. Este setembro tem (de ter) o sabor do mês de agosto da JMJ 2023.
O excerto do poema “Sisífo” poderia figurar, nos discursos do Papa Francisco, ao lado dos citados: Camões, Pessoa, Saramago, Daniel Faria, Sophia e da fadista Amália Rodrigues. “De nenhum fruto queiras só metade” é o que se deseja a um jovem que se dispõe a caminhar (a levantar-se), a acolher (todos, todos, todos), a construir (pontes), ou como o Papa sublinhou, na missa do envio, em três verbos: “Resplandecer, ouvir e não temer”.
Setembro é o primeiro mês do pós-JMJ, o momento de partilhar as experiências vividas com aqueles que não estiveram lá, com aqueles que não são de lá, com aqueles que não querem saber...
E agora o que vamos fazer, inspirados na JMJ 2023?
Este primeiro tempo após JMJ 2023 poderá proporcionar uma reflexão/ação em torno da comunicação e da linguagem da Igreja, na Igreja e na sociedade. O exemplo, entre outros, da surpreendente Via Sacra JMJ preparada por uma equipa ligada aos Jesuítas manifestou não só uma, mas várias linguagens, e de como é possível comunicar de uma forma nova, (dança/expressão corporal, teatro, canto, poesia) em contexto celebrativo.
E depois enviou-os como profetas. Esta dimensão de profecia é por vezes colocada em segundo plano na prática da Igreja. O crente é um profeta: aponta o que tem de ser corrigido, aponta aquilo que precisa de receber a luz de Deus. Há um número significativo de jovens que se têm mantido ativos e ativistas das causas da preservação do planeta, da causa da habitação para todos, da economia sustentável, do combate aos abusos, às descriminações e às desigualdades. Os jovens estão em quase todas as linhas e assumem papeis de profetas da esperança pois o que mais querem é um futuro. É possível fazer melhor, é possível pensar de forma nova os problemas e hoje. Tudo isto foi visto, ouvido e lido na voz dos jovens, na Jornada Mundial da Juventude que fez da nossa capital a cidade da esperança, dos sonhos e da paz.