À procura do equilíbrio
Silent expressed, push my head into my chest, bind them up, forever wed.
Diogo Florentino
18 de setembro de 2024
O coração. O centro do nosso ser. Aquele encarregue da tarefa de bombear a essência do Homem, a obra-prima da Natureza. Aquele responsável por fazer circular o líquido da vida, pelas nossas veias. Aquele que traz cor à carne humana e aquele que alimenta cada um dos nossos órgãos, para que todos possam funcionar, em uníssono. Aquele que tem vindo a ser desvalorizado mais, e mais, e, cada vez, mais. Num sentido metafórico, claro.
Nos dias de hoje, somos ensinados a separar a razão da emoção. A sociedade moderna promove uma narrativa falsa de desigualdade e desunião entre o intelecto e a emoção. Aprendemos, maioritariamente, a tratá-las como duas coisas distintas e autossuficientes. A racionalidade é priorizada. É vista como superior, associada ao progresso, à ciência, ao controlo. O sentir, por outro lado, é muitas vezes visto como irracional, impulsivo, pouco fiável. “Cabeça fria, coração quente”, como se fossem opostos, não complementos. É fomentado um abismo, esta desconexão, entre a mente e o coração. Um abismo que aparenta estar enraizado na espécie humana, um contraste presente nas entrelinhas de toda a História. Era-nos dito que “os homens não choram”, pois devem ser líderes, a figura racional. Que as mulheres são as histéricas, as emocionadas, as choramingas, piegas, sentimentais! Mas, quando é que esta separação começou? Aristóteles acreditava que o pensamento, o conhecimento, vinham do coração. “Saber de cor” vem do latim, saber de coração. Lembrar-se de algo que está, lá, guardado.
O que é que aconteceu? Qual é o porquê da desvalorização dos sentimentos e o que é que levou as pessoas a acreditarem que podemos dividir estes dois aspetos, fundamentais à existência humana, sem nos tornarmos incompletos? O pensamento racional desprovido de comoções leva a uma existência fria, carecida de paixão, empatia e espontaneidade. Das alegrias de viver. Parece que, progressivamente, as pessoas têm vindo a ser entendidas mais como números, como estatísticas. Incentivadas a focarem-se em “produtividade” e na lógica e no sucesso, a custo da sua saúde mental, do seu bem-estar. Dos seus sonhos e aspirações. Reduzidas à sua utilidade prática. Educadas a fazer escolhas “inteligentes”, mesmo que as magoem, se for o “melhor a fazer”. É triste. No entanto, por outro lado, uma vida guiada meramente pela lei do instinto pode levar à dor, também. Ao caos e à vulnerabilidade.
Nos dias de hoje, em que somos ensinados a separar a razão da emoção, é necessário encontrarmos um equilíbrio. Um equilíbrio que não nos permita, só e somente, sobreviver, mas que nos permita viver. Um equilíbrio que nos permita refletir todas as cores, dos azuis mais frios, aos vermelhos mais quentes. Um equilíbrio que dê espaço ao sonhar, ao amar, ao cobiçar, ao sofrer, e um equilíbrio que não nos deixe cegar pelo agir, sem pensar. Sem extremos. Um equilíbrio que dê espaço à aprendizagem e à inteligência, seja essa teórica, prática ou emocional. Que dê espaço ao crescer. Afinal, essa é uma das grandes graças de ser-se humano. Ter o poder de crescer e mudar.