Porque é que só nos lembramos de ser solidários no Natal
Há um mundo para o qual só despertamos no Natal, mas que infelizmente existe o ano inteiro. Quase me atrevo a dizer que existem demasiadas iniciativas solidárias num curto espaço de tempo, e que por este motivo muitas ficam esvaziadas de sentido ou de intenção.
Inês Guerra
26 de janeiro de 2022
O Natal é uma época mágica, as ruas iluminam-se, as famílias reúnem-se e o espírito natalício inunda-nos o corpo e a alma. As ruas tornam-se lugares de excesso, mostrando que o consumismo, muito característico do Natal, também transborda para outras situações. Nesta altura do ano enchemo-nos de ótimos propósitos, é-nos dada a hipótese de renascermos, delineando novos projetos e objetivos. Todos os anos nos é dada a oportunidade de recomeçar novamente!
No Natal, todos nós assistimos a inúmeras iniciativas solidárias, seja de pessoas, grupos ou até de empresas. Estas pessoas reúnem-se com o digníssimo objetivo de ajudar alguém, de apoiar uma instituição ou uma família. São iniciativas de enorme valor para a comunidade.
As instituições sociais agradecem o apoio, visto os seus orçamentos, na maioria das vezes, serem escassos para fazer face às necessidades existentes.
Muitas são as vezes em que ouvimos o verso da canção: Natal é quando o homem quiser. Então porque é que não somos solidários o ano todo? Porque não prolongamos este espírito natalício? Porque é que só telefonamos àquele familiar ou amigo durante o Natal, mas esquecemo-nos de que existem outros dias, outras datas e outros momentos? Devem estar a pensar – mas ligar no Natal é ótimo! E eu concordo. Mas será que podemos prolongar o Natal? Porque é que os vários grupos, empresas e pessoas só se organizam para realizar ações solidárias ou oferecer cabazes no Natal? As pessoas têm de se alimentar o ano inteiro, as instituições sociais continuam a existir, as crianças institucionalizadas infelizmente continuam institucionalizadas…
Há um mundo para o qual só despertamos no Natal, mas que infelizmente existe o ano inteiro. Quase me atrevo a dizer que existem demasiadas iniciativas solidárias num curto espaço de tempo, e que por este motivo muitas ficam esvaziadas de sentido ou de intenção. Creio que estas iniciativas solidárias poderiam estar presentes ao longo de todo o ano e em diversos momentos, em que se torna crucial a atenção ao outro.
O Natal, enquanto encontro das famílias e de pessoas que cruzam as nossas vidas, torna-se um momento propício para que se realize um balanço de vida. Recordamos e repensamos o impacto que temos nos outros e no mundo e, já que assim é, devemos usá-lo como impulsionador de uma ação solidária, que se mantenha constante. Acredito que não deve ser necessário esperar pelo Natal para ser solidário!
Assim sendo, porque não revermos o nosso conceito pessoal de solidariedade e nas revisões e intenções deste novo ano o incluirmos na nossa vida?