O sucesso da Missão
A condição indispensável para o sucesso da missão é a exigência de sobriedade de vida, quer individual quer coletiva.


Silvino Ruivo
15 de janeiro de 2025
A Missão do cristão é trabalhar e contribuir, quer na vida individual quer na vida social, para que tudo seja subordinado a “... Deus, origem e fim de todas as coisas” (Heb 2,10).
Ao batizado, enquanto cidadão do Reino (de Deus), por um lado, e por outro, enquanto cidadão de um povo (nação) em concreto, torna-se-lhe difícil dirimir entre as questões da nação e as questões (imperativas) do Reino.
No entanto, o cristão, no seu quotidiano, sabe que é animado pelos dons do Espírito Santo repartidos por cada um “segundo a sua vontade” (Heb 2,4), assume com confiança as suas decisões e práticas de vida em relação às questões do Reino e às do seu povo (nação).
Como a Missão se concretiza na ação individual levada a cabo em contexto de duas cidadanias, quais são a condições para o sucesso da missão?
Os evangelhos de Jesus estão povoados de referências a espíritos bons e maus, puros e impuros. Para o cristão, que acolhe os evangelhos com simplicidade e sem preocupações de exegese, os bons e puros são as energias que são santas porque vêm de Deus e são benéficas para as pessoas, crentes, qualquer que seja a sua religião, ou não crentes; os maus e impuros são as energias negativas que não vêm de Deus e são contrárias ao bem das pessoas.
A condição indispensável para o sucesso da missão é a exigência de sobriedade de vida, quer individual quer coletiva.
Na esfera individual, e enquanto cidadão do Reino, a sobriedade pautar-se-á pela humildade, pela conversão aos mandamentos eternos da simplicidade e do amor, pela disponibilidade para participar em obras e movimentos de solidariedade social, pela busca contínua do que é justo ou injusto nas relações entre indivíduos e povos, pela predisposição contínua para usar o diálogo para dirimir conflitos, pela procura da humanização como o teólogo José Maria Castillo propõe: “O aspeto mais importante e decisivo na nossa vida cristã é o da humanização, o de procurarmos ser cada dia mais humanos, mais tolerantes e compreensivos com tudo o que é humano e, sobretudo, contagiarmos os outros com a nossa humanidade”, isto, claro, sem esquecermos que o cristianismo não é (só) uma filosofia, uma ética, é, também, uma pessoa, Cristo, a quem louvamos e oramos, e pelo qual conhecemos a importância de “amar a Deus como Sumo Bem comum” Duns Scoto.
Na esfera social, enquanto cidadão da nação e do mundo terrestre, a sobriedade não depende do cristão individualmente considerado, mas todo o cristão deve empenhar-se para que o fosso entre ricos e pobres não se alargue, antes diminua, e que não seja destruída a natureza por uma economia da ganância – a que mata, no dizer de Francisco –, ou seja, é intolerável que, segundo as estatísticas, cerca de 20% mais ricos do mundo se apropriem de 80% dos recursos do planeta, sobrando apenas 20% para os mais pobres repartirem entre si.
Os pobres são os novos evangelizadores dos nossos tempos, no dizer de Francisco. A eles, os cristãos não pobres se devem juntar.
Perante eventuais conflitos de consciência do cristão entre os deveres do Reino e os deveres da Nação – não esquecer, e por exemplo, nas questões migratórias, Francisco, na Fratelli Tutti, chamava a atenção para a necessidade dos imigrantes respeitarem os usos e costumes dos povos de acolhimento –, é em Igreja, una e santa, ministerial, por natureza, na pluralidade dos dons, carismas e ministérios que o Espírito suscita e na autonomia da consciência de cada uma das pessoas que, na sua dignidade, são santas, que se devem ultrapassar e resolver estes conflitos, usando o diálogo.
Com o cumprimento dos imperativos individuais e sociais, da humanização dos nossos relacionamentos e ultrapassagem dos conflitos usando o diálogo, e com a assistência do Espírito Santo, o sucesso da Missão, pelo menos individualmente, será assegurado.