Discípulos Missionários
Que o exemplo do Papa Francisco nos inspire, pois, a ser «originais», a ousar trilhar novos caminhos e a sermos testemunhas comprometidas com Cristo, o «Enviado» do Pai!
Pe. Bruno Cunha, CM
25 de setembro de 2024
O Papa Francisco, aos 87 anos e com notórias debilidades físicas, terminou, recentemente, a sua 45ª viagem apostólica, a mais longa do seu pontificado. Foram cerca de 33 mil quilómetros percorridos para visitar a Indonésia, Papua-Nova Guiné, Singapura e, pela primeira vez, Timor-Leste. Entre os vários temas que abordou na sua viagem encontramos a paz, o diálogo inter-religioso, a reconciliação social e as mudanças climáticas. Antes de partir, recebeu um grupo de sem-teto no Vaticano. Um «gesto» vale por mil palavras, como se costuma dizer!
Inspirado pelo seu testemunho de discípulo missionário, partilho 3 breves apontamentos sobre a urgência missionária na Igreja.
1. “Donde és Tu?” (Jo 19,9). Para muitos exegetas, esta pergunta que Pilatos dirige a Jesus é crucial em todo o Evangelho de São João, pois revela a origem divina de Jesus e a sua missão como «Enviado do Pai». E é como «Enviado» que Ele constitui a comunidade dos 12 «enviados», tal é o significado etimológico grego da palavra «apóstolo». Está, pois, bem vincada a condição de «enviado» (missionário) própria do cristão, desde a origem e fonte de todas as coisas criadas, o nosso Deus, uno e trino. Por esta razão, precisamos, segundo o dizer do servo de Deus, Antoni Gaudí (arquiteto da Sagrada Família em Barcelona), de ser constantemente «originais», ou seja, voltar sempre à origem, pois “nada é inventado, já que está escrito primeiro na natureza”. Saber «de onde é Jesus» torna-se, assim, determinante para entender a condição cristã e a sempre urgente missão evangelizadora.
2. Novos caminhos e métodos. Foi com surpresa que o leigo católico Gabriel Magalhães, autor do livro “A casa da alegria”, depois de haver ensinado desde sempre a sua filha a fazer o sinal da cruz com a mão direita, notou que ela – por ser canhota – o fazia com a mão esquerda. Aí, conforme constata o docente de Literatura, descobriu que, com igual pureza, se podia fazer por esse lado da vida aquilo que ele próprio sempre tinha feito pela direita, tal como a tradição da Igreja ensina. Há, pois, outros caminhos que podem e devem ser trilhados, mesmo que fujam da tão autoritária fórmula do «sempre se fez assim». É preciso não ter medo de arriscar novos caminhos e novas formas de evangelização, pois os tempos são novos e assim o exigem.
3. Testemunho e santidade. Conta-se que um eremita foi enviado para uma ilha solitária no meio de um lago. Antes de ser enviado aprendeu a rezar do seu abade em latim… Mas com o passar do tempo esqueceu-se do latim e apenas reteve uma frase que rezava sempre, mas mal pronunciada. Rezava assim: Miserere tui, Deus! Traduzido fica assim: tende compaixão de ti, meu Deus, tende compaixão de ti! Repetia todos os dias esta santa e blasfema jaculatória. Um dia passou por lá São Nicolau e ouvindo este disparate parou para ensinar o eremita a rezar convenientemente. Deves rezar: Meserere mei Deus – tende piedade de mim, meu Deus. Fraco de memória o nosso eremita repetiu vezes sem conta esta frase. De partida, o nosso São Nicolau deixou a ilha satisfeito por ter corrigido um ignorante – praticou uma obra de misericórdia. Mal o santo partiu já o eremita estava na dúvida sobre a jaculatória correta. Desata a correr atrás do barco do nosso santo na esperança de ser corrigido… Sem dar conta naquela gritaria infernal começou a caminhar sobre as águas… Ao ver aquilo, o nosso santo deu conta que ali andava um milagre de Deus e que para Ele não contam as palavras, mas o coração. E diz para o eremita: esquece o que te ensinei… Continua a rezar como sabes. Tenho a impressão que Deus ouve melhor a tua jaculatória do que a minha!
Sem dúvida que o conteúdo do que se anuncia é importante e, por essa razão, a Igreja se preocupou e continua a preocupar com a instrução e o ensino das verdades da fé. Contudo, à luz de documentos recentes como, por exemplo, “Catequese: a alegria do encontro com Jesus Cristo”, da Conferência Episcopal Portuguesa sobre a catequese, coloca-se em evidência a importância do testemunho e a capacidade de criar um verdadeiro encontro entre cada cristão e Jesus. É sempre refrescante recordar as sábias palavras do Papa São Paulo VI no famosíssimo nº 41 da Exortação Apostólica Evangelli Nuntiandi: “Os homens contemporâneos escutam com mais boa vontade as testemunhas do que os mestres e se escutam os mestres é porque eles são antes testemunhas”.
Que o exemplo do Papa Francisco nos inspire, pois, a ser «originais», a ousar trilhar novos caminhos e a sermos testemunhas comprometidas com Cristo, o «Enviado» do Pai!