Compromisso e responsabilidade no voluntariado
Hoje ser voluntário é ousar! Exige tenacidade e acontece na continuidade. É escolher livremente envolver-se e responsabilizar-se. Atualmente, o voluntariado faz a diferença na vida das pessoas e das comunidades em muitos e diferentes contextos.
Inês Guerra
13 de outubro de 2021
Nos dias de hoje, ser voluntário implica responsabilidade e compromisso. Cada voluntário contribui, na medida das suas possibilidades, com aquilo que sabe e quer fazer. Uns têm mais tempo livre, outros só dispõem de poucas horas por semana. Alguns sabem exatamente onde ou com quem querem trabalhar. Outros estão prontos a ajudar no que for preciso, onde a necessidade é mais urgente. O voluntariado pede dedicação a uma causa, a alguém ou a algum objetivo. Segundo definição das Nações Unidas, "voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos."
Entendemos que o voluntariado comprometido deve assentar no ato de nos lembrarmos que há pessoas e projetos que podem depender de voluntários. No âmbito da Educação para a Cidadania, apresenta-se uma prática que “não se restringe ao campo social, mas alarga-se à cultura, à educação, à justiça, ao ambiente, ao desporto e a outras dimensões do nosso quotidiano e tem vindo a responder às questões que continuamente emergem do tecido social, económico ou político”.
No voluntariado, quando não nos comprometemos e envolvemos com o projeto ou instituição em causa, fica trabalho por fazer, atrasa o processo de desenvolvimento de uma ação, mas acima de tudo existem pessoas que ficam prejudicadas. Exemplo disso são os projetos de ligados à área da infância ou do envelhecimento: para os destinatários do voluntariado, nada é mais dececionante do que fazerem-lhes promessas e estas não serem cumpridas. Portanto, sentido de responsabilidade e compromisso são dois valores que devem acompanhar os voluntários, tomando consciência de que estes têm uma obrigação para com a sociedade.
O tempo de (pós-)pandemia que vivemos obriga-nos a uma profunda reflexão sobre esta realidade; como nunca, é a hora do altruísmo e da solidariedade. Num artigo do Jornal de Negócios de abril de 2020, em pleno primeiro confinamento, o jurista António Moita escrevia: “Ninguém pode ficar indiferente ao que se passa hoje […] aos milhares de pessoas fragilizadas, pela idade, pela doença ou pela condição económica, que vivem isoladas nas suas próprias casas. Mas também ninguém poderá passar ao lado das situações de desemprego ou de empobrecimento […]”.
Hoje ser voluntário é ousar! Exige tenacidade e acontece na continuidade. É escolher livremente envolver-se e responsabilizar-se. Atualmente, o voluntariado faz a diferença na vida das pessoas e das comunidades em muitos e diferentes contextos. Contribuir e servir o bem-estar social são os motores do voluntariado. Existem projetos de entidades públicas ou privadas para que o voluntariado possa partir da vontade pessoal de cada um, conforme a sua área de interesse: da saúde à educação, do cuidar do ambiente, da cidadania à ação social, muitas as áreas podem ser desenvolvidas pela ação de voluntários. O voluntariado reforça os laços sociais, devido à organização que é criada, à integração em grupos, que revelam e consolidam um sentido de pertença.
No atual contexto socioeconómico, ser voluntário, muitas vezes, pode ter um sabor amargo pelas dificuldades e desafios que apresenta. Muitos voluntários trabalham em instituições ou projetos com questões desafiantes, difíceis de encarar, mas com escassos recursos para dar uma resposta eficaz e transformadora. Estes voluntários e as organizações em que se inserem são muitas vezes obrigados a fazer um enorme exercício de criatividade e mobilização para encontrar ou mesmo inventar respostas para os problemas colocados. Enfrentam muitas dificuldades no quotidiano para conseguir ajudar quem precisa, travando batalhas exigentes para obter recursos, visibilidade e concretizar ações.
Em Portugal, a ação voluntária tem crescido em importância, muito por causa de vários acontecimentos recentes: além do contexto da pandemia, os graves incêndios de 2017, catástrofes naturais, a pobreza arraigada ou as dificuldades de uma plena integração social. Sim, porque o voluntariado tem um papel fundamental no reforço da coesão social e económica e na formação de uma cidadania consciente e ativa. É uma decisão pessoal e uma ação individual, mas é sobretudo uma forma de estar na sociedade, agindo na construção de um mundo melhor.
Termino com as palavras de um voluntário da AMI, o enfermeiro José Aranha que assim descreve o que é ser voluntário: “[…] é exercer cidadania, ser solidário, ter disponibilidade, responsabilidade, compromisso e competência. É, acima de tudo, ser útil sem esperar recompensas nem compensações e contribuir para uma sociedade mais justa e equilibrada.”
Não é isto, afinal, o que todos desejamos?