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A partilha exige escuta, acolhimento e empatia

Por vezes esquecemo-nos, mas é impossível não comunicarmos! A comunicação vai para além das palavras, comunicamos através de atitudes e comportamentos, quase que me atrevo a afirmar que tudo é comunicação.

A partilha exige escuta, acolhimento e empatia
Inês Guerra
01 de junho de 2022

A comunicação é essencial para a vida humana e para a forma como nos relacionamos, desde o nível microssocial ao um nível mais macrossocial. A comunicação, ou a forma como comunicamos, enriquece a sociedade. Uma das qualidades que mais valorizo nas pessoas é o dom de conseguirem escolher cuidadosamente as palavras e os gestos que utilizam para ultrapassar conflitos e incompreensões, e para construir paz e harmonia. As palavras têm o poder de criar pontes, de favorecer a inclusão e o encontro entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais e os povos de culturas diferentes.

Sabendo o poder que as palavras e os comportamentos têm, devemos estar atentos ao seu conteúdo, mas principalmente à forma como queremos que estes sejam rececionados. A forma como falamos influencia o modo como o outro vai receber a mensagem; até podemos ter de abordar um assunto delicado, mas que se o abordarmos educadamente, a pessoa vai acolher a mensagem de outra forma, e consequente vai estar mais recetiva a acolhê-la. Por outro lado, ao estarmos atentos às nossas palavras e ao outro, também conseguimos percebê-lo de outra forma.

A linguagem é a principal forma de comunicação, de partilha de conhecimento, ideias, crenças e até emoções. A forma como é assumida no processo do relacionamento social é determinante, cria elos de ligação ou de afastamento entre as pessoas e as comunidades.

Por vezes esquecemo-nos, mas é impossível não comunicarmos! A comunicação vai para além das palavras, comunicamos através de atitudes e comportamentos, quase que me atrevo a afirmar que tudo é comunicação. Sabe-se que a comunicação oral e escrita é muito relevante, mas muitas vezes esquecemo-nos da comunicação não verbal, a qual é tão subtil, mas ao mesmo tempo tão poderosa na mensagem que quer passar. Manifesta-se em coisas tão simples do nosso dia-a-dia, como a cor do nosso vestuário ou a postura corporal que assumimos.

Na sua mensagem para o 50.° Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco reflete sobre o tema, «Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo», e convida-nos a refletir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia. Com efeito, a Igreja é chamada a viver a misericórdia como característica do seu “ser e agir”. Tudo o que dizemos e o modo como dizemos, cada palavra e cada gesto, deveria expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor, pela sua natureza é comunicação, refere o Papa Francisco, e leva a uma maior abertura, e não ao isolamento. Se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus.

A linguagem e as ações devem transmitir misericórdia, para tocar no coração das pessoas e sustentá-las no caminho, rumo à plenitude da vida. De acordo com o Papa Francisco, devemos acolher e irradiar o calor materno da Igreja. As palavras devem fazer crescer a comunhão e jamais quebrar o relacionamento e a comunicação. Por isso, o Papa convida todos a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de “curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades”. A misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar.

É desejável que também a linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia. O Papa fez um apelo, sobretudo aos que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que sejam sempre vigilantes no modo de agir diante de quem pensa ou age de maneira diferente. É preciso coragem para orientar as pessoas diante de processos de reconciliação e soluções de conflitos para uma paz duradoura.

O estilo da nossa comunicação deve saber avaliar situações de violência, corrupção e exploração. É nosso dever denunciar abusos e injustiças de certos comportamentos, defendendo a verdade com amor.

Somente as palavras pronunciadas com amor e acompanhadas pela misericórdia tocam os corações. Neste sentido, o Santo Padre encoraja todos a encararem a sociedade humana como a sua casa ou a sua família, onde a porta está sempre aberta para receber.

Comunicar significa partilhar e a partilha exige escuta, acolhimento e empatia. Escutar é desafiante: exige prestar atenção, compreender o diferente, dar valor, respeitar a palavra; é um dom.

Nunca, como hoje foi tão importante comunicar!

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