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Subir Aquela Colina

A primeira metade deste ano ficou marcada por uma imagem-still de uma série de ‘coisas estranhas’ em defesa da ficção científica e dos miúdos à margem dos grupos populares na escola.

Subir Aquela Colina

13 de julho de 2022

Há imagens que não esquecemos. Vinte-vinte-e-dois trouxe-nos a vivência numa cultura popular que anseia meses a fio por novos episódios, novas temporadas, novas séries de televisão em plataformas de streaming.

Através da Netflix, HBO, Disney+ ou Amazon Prime – espero não me esquecer de nenhuma – reconhecemos atrizes, intérpretes e performers que nos transportam para outros mundos, réplicas deste mundo, num movimento imediato. As telas do telemóvel ou do computador abrem-nos simultaneamente as portas para redes sociais, que aumentam de dia para dia: se as quisesse enumerar certamente me perderia a contar. Aí identificamo-nos com estas personagens e vamos seguindo os seus passos. Ou as vossas filhas ou sobrinhos vão seguindo (follow) estes atores.

A primeira metade deste ano ficou marcada por uma imagem-still de uma série de ‘coisas estranhas’ em defesa da ficção científica e dos miúdos à margem dos grupos populares na escola. Este grupo de miúdos junta-se para jogar Dungeon and Dragons, para utilizar a ciência e a arte do desenrasque para sobreviver.

Stranger Things alcança records de visualização e transporta-nos para o universo dos anos ’80. Traz-nos imagens com música. Não é por acaso que a mítica canção Running Up That Hill (A Deal with God) de Kate Bush, um clássico de 1985, alcançou três novos recordes do Guinness com os seus novos ouvintes. Porquê? Porque é a trilha sonora de uma das imagens mais celebradas pelos fãs da série. A personagem Max, uma miúda a sofrer com o trauma de perder o irmão, sem desabafar com os amigos ou com o namorado, vive numa depressão que a consome. Este monstro – a depressão pode ter vários nomes, como Vecna – obriga-a a correr por montanhas assustadoras, a fugir desta guerra que se trava na sua mente.

O mesmo acontece com um dos personagens mais queridos pelo grupo, Will, o artista que desenha em realismo como mais nenhum miúdo com a sua idade. A depressão atinge-o fortemente. Neste caso, apenas o irmão de Will reconhece esta dor, depois de meses em sofrimento... E as conversas destes dois irmãos revelam-se mais-do-que-pedagógicas, são educação para as vossas filhas e sobrinhos em forma de imagens.

Uma em cada três crianças e adolescentes em Portugal vive diariamente a subir estas colinas em profundidade; muitos sem a ajuda da música de Kate Bush – “de trovões no coração” (thunder in our hearts) –, o que pode ser extremamente difícil de lidar.

Estas séries podem ser consideradas portais para lugares bem reais, onde vivem pessoas de carne e osso, pessoas com emoções. De facto, a força de vontade para abrir esse portal pode chegar depois dos miúdos verem estas imagens, porque reconhecem que não são os únicos, que não estão sozinhos nesta luta e podem abrir portas que pareciam trancadas a sete chaves.

Mesa Redonda 
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