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Setembro, mês de regressos

Em setembro de 1868, a comunidade da Congregação da Missão instala-se novamente no Norte de Portugal, mais propriamente em Felgueiras. Os benefícios deste regresso foram visíveis de imediato, o seu apoio aos mais carenciados, mas particularmente a sua ação na área educacional com a fundação do Colégio de Santa Quitéria marcaram a presença nesta comunidade.

Setembro, mês de regressos

Carlos Ferreira

13 de setembro de 2023

O termo regresso implica, necessariamente, voltar de novo, fazer-se presente novamente, estar de novo e, o mês de setembro, é por excelência um mês de regressos. Para muitos, após umas merecidas férias, regresso ao trabalho e às rotinas laborais, para outros, regresso à escola na chegada de um novo ano letivo.

Por estes dias, também em setembro, celebram-se 155 anos de um também importante regresso: o da Congregação da Missão ao Norte de Portugal. Não sendo esse o objetivo deste texto é importante, no entanto, uma breve retrospectiva pelo tempo e pela história, antes desse regresso.

A chegada da Congregação da Missão a Portugal, os também conhecidos Padres Vicentinos, nomenclatura herdada do fundador desta comunidade, S. Vicente de Paulo, deu-se nas primeiras décadas do séc. XVIII, com o apoio do monarca D. João V. Os seus trabalhos pastorais, o seu zelo, mas particularmente o seu carisma, levou à expansão desta comunidade por vários locais do reino português e não só. A Casa da Cruz, situada junto a Guimarães, primeira casa desta Congregação no Norte de Portugal, assumiu-se durante décadas como um oásis missionário e profundo na espiritualidade vicentina e na caridade aos mais indigentes. Mais tarde, e com os ventos do liberalismo em 1834 é extinta e são expulsos, tal como outros religiosos os da Congregação da Missão. Ataques às ordens religiosas, controlo sobre o clero, encerramento de mosteiros e conventos marcaram esta época, período em que luzes de esperança tardavam em chegar.

A autorização para em meados do séc. XIX regressarem as Filhas da Caridade, abriu uma porta de esperança, no caso dos Vicentinos estes vinham como diretores espirituais das irmãs e, a chegada destes, possibilitou também a instalação de outros que regressaram, passo a passo, a Portugal.

Três décadas depois, em setembro de 1868, a comunidade da Congregação da Missão instala-se novamente no Norte de Portugal, mais propriamente em Felgueiras. Os benefícios deste regresso foram visíveis de imediato, o seu apoio aos mais carenciados, mas particularmente a sua ação na área educacional com a fundação do Colégio de Santa Quitéria marcaram a presença nesta comunidade.

O Colégio de Santa Quitéria assumiu-se, durante décadas, como um dos mais importantes colégios do Norte de Portugal. Interno, masculino, não assumia apenas um ensino de valores cristãos, mas uma prática educacional científica que se traduzia desde as primeiras letras até aos estudos mais avançados. Os docentes eram, também, marca de qualidade na instituição, desde alguns professores estrangeiros, a um dos maiores vultos da cultura portuguesa do séc. XIX, Sena de Freitas, vários foram os que ali lecionaram.

O colégio não foi a única obra da Congregação, mas antes dali do alto do monte de Santa Quitéria nasceu também um verdadeiro núcleo missionário que dali partiam para outros lugares pregando missões, mas também, fortificando um dos maiores lemas da sua comunidade: “formar o pobre povo do campo.”

A implantação da República, em 1910, veio novamente obrigar ao abandono daquele lugar pelos Padres Vicentinos, mas pouco mais de uma década depois deu-se novo regresso.

Esta comunidade soube adaptar-se a partidas e regressos que o tempo lhes impunha. Saber partir talvez seja uma virtude, particularmente quando se parte ao encontro, tal como regressar seja um apanágio de novas partidas. Não apenas partidas forçadas, mas também, partidas obedientes onde o carisma de S. Vicente de Paulo era, e continua a ser, o lema: “não sou daqui, nem dali mas de qualquer lugar onde Deus quer que eu esteja.”

Entre expulsões e regressos, a comunidade Vicentina está hoje presente no alto do monte de Santa Quitéria, quer com os Padres Vicentinos, quer com a comunidade das Filhas da Caridade há mais de uma década. Monte onde outros, tal como nos lembra o Evangelho, sobem e descansam, não montam tendas, mas ali regressam em cada período conturbado das suas vidas.

Bom setembro e bons regressos…

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