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Hildegarda von Bingen. Uma singularidade no feminino

As mais de sete dezenas de músicas a si atribuídas, reunidas nas coletâneas Symphonia armoniae celestium revelationum e Ordo Virtutum, fazem de Hildegarda uma das compositoras mais prolíficas da Idade Média.

Hildegarda von Bingen. Uma singularidade no feminino

João Andrade Nunes

14 de setembro de 2022

No âmbito desta rúbrica, já tinha pensado dedicar algumas linhas a Hildegarda von Bingen, mas nem sempre se tinha propiciado o momento. Por estes dias, ao ler a recente entrevista que o Papa Francisco concedeu à jornalista Maria João Avillez, entendi vir o assunto a “talho de foice”.

Defende o Papa Francisco que as mulheres na Igreja não são uma moda feminista, mas um ato de justiça. É certo que o alcance das palavras do Santo Padre é outro. Não se refere, naturalmente, à existência de mulheres na Igreja (o que há muitos séculos é habitual) mas ao papel ativo e decisório que devem ter no seio da hierarquia eclesial.

Face ao exposto, com as devidas adaptações, papel interventivo, ainda que de forma indireta, parece ter logrado Santa Hildegarda de Bingen, a monja que, segundo reza a história, terá influenciado decisões de pontífices, de reis e de imperadores.

Para uns mais conhecida, para outros menos conhecida, Hildegarda de Bingen (Santa e Doutora da Igreja desde 2012), foi uma monja beneditina, teóloga, mística, médica, poetisa, pintora, dramaturga e compositora alemã que, afortunada com uma vida longuíssima para o comum homem medievo, nasceu em 1098 e faleceu a 17 de setembro de 1179.

Filha dos barões de Bermershein, aos oito anos de idade, decide ingressar na vida
eclesiástica. Fazendo votos de clausura, torna-se abadessa aos 38 anos e funda dois mosteiros.
Seguindo de perto algumas das principais biografias sobre si escritas, a fragilidade da sua saúde aliada a uma fisionomia insegura e atormentada por uma excessiva sensibilidade às condições climatéricas e aos fenómenos naturais, ter-lhe-ão despertado capacidades extraordinárias incomuns no ser humano.

Parte dessas suas capacidades podem ser também encontradas na sua atividade composicional. Numa época em que a papel de compositor estava, praticamente, associado ao género masculino, a sua ação criativa musical mostra-se, desde logo, algo disruptiva.

De forma muito superficial, o seu gosto pela música, enquanto forma de contemplação, tê-la-á levado a aprender composição e a tocar saltério e harpa.

As mais de sete dezenas de músicas a si atribuídas, reunidas nas coletâneas Symphonia armoniae celestium revelationum e Ordo Virtutum, fazem de Hildegarda uma das compositoras mais prolíficas da Idade Média.

Do ponto de vista musical, a sua escrita, maioritariamente monódica e melismática, distingue-se pelo recorrente uso de tessituras de largo espectro e de frases melódicas extensas, cujo objetivo é conferir força às palavras. Como referiu o musicólogo Michael Gardner (2019), “para Hildegarda, som e voz ocupam o continuum que a alma percorre conectando providência e destino”.

Há, por isso, uma contínua sensação de plenitude diáfana, de encantamento, quando escutamos as obras desta mulher tão singular: https://www.youtube.com/watch?v=Ei88J4lERbk.

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