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Cantiga para poeta em águas-furtadas

“Queria escrever um livro que quisesse muito ler quando fosse a uma livraria.” A oportunidade surgiu e Francisco Teles da Gama compôs a Cantiga para poeta em águas-furtadas, já disponível em pré-venda na Book Cover.

Cantiga para poeta em águas-furtadas

Francisca Gigante

04 de setembro de 2024

“Queria escrever um livro que quisesse muito ler quando fosse a uma livraria.” A oportunidade surgiu e Francisco Teles da Gama compôs a Cantiga para poeta em águas-furtadas, já disponível em pré-venda na Book Cover. O autor nasceu na vila da Batalha e rapidamente trilhou o seu percurso de Historiador na cidade de Lisboa. É nesta cidade de boa luz que nos embrenhamos na ação deste portento da Literatura portuguesa.

O Millennial Dinis de Lencastre, que muito provavelmente nasceu – como eu – com o advento dos walkmans, com videoclipes a passar Oasis na MTV e heróis como Harry Potter, vive nas águas-furtadas de um prédio nas ruelas clivosas do Bairro Alto. Partilho convosco que conheço algumas pessoas que viveram neste espaço de colossal insalubridade e de frequência sonora excessiva durante a madrugada e não o recomendam para morada. Este, parece ser, no entanto, um lugar eletrizante, admito mesmo excecional, para quem se tornou no maior poeta da sua geração. São os seus pais, claro está, que o apoiam neste empreendimento. Ora, os valores das rendas dentro da cidade não estão para brincadeiras e acredito que também não estavam ao alcance do nosso bardo alfacinha, se não tivesse este amparo. O nosso poeta passa de estudante a mendigo, abdicando tragicamente do amor da sua namorada e colocando uma série de amigos e família em modo ghost (fantasma).

Os seus amigos parecem-me muito conhecidos… Juntos denominam-se Clube de Calíope, inspirados pela musa da mitologia grega dedicada à poesia épica. São convidados em sua casa, entram em bares ilustres, brindam com cálices de vinho do Porto, passam pelos teatros mais belos e por exposições singulares. Jogam, inclusivamente, um desporto sui generis, que adoraria que existisse na vida real. O ténis poético saído da imaginação do autor é o desporto-rei. As partidas são, para mim, um dos capítulos-chave deste romance. As trovas que emergem a cada encontro não deixam ninguém indiferente. Gostaria de ver um grupo inspirado por este livro a jogar raquetes num daqueles dias fabulosos de verão em setembro. Ao mesmo tempo que fazem um slice na bola vão compondo o próximo verso de um poema original numa batalha onde todos se superam.

Dinis vive como um hipster, preferindo um estilo de vida alternativo. A tecnologia é relegada para último plano, pois a pena e a escrita revelam-se essenciais tanto para o trabalho criativo como para o ócio. O mais engraçado é que este grupo tem todas as referências musicais desta nossa geração: escuta Chet Baker como quem bebe água fresca e The Kooks como quem saboreia um pão com manteiga acabadinho de sair do forno. Nesta obra, encontramos alusões às belíssimas cidades do Porto e de Veneza e temos a oportunidade de acompanhar as odisseias deste grupo num microcosmo que caminha em direção ao sublime.

É, de facto, prodigiosa a quantidade de géneros literários que se manifestam nestas páginas: romance, poesia e ensaio. Mas, não será demais recordar que Francisco não se coíbe de ir para lá do que nos parece possível. O legado deste nosso poeta-maior coleciona não só os seus poemas, os seus contos e o seu manifesto, como altera o rumo da História. Essa é talvez a maior das surpresas, pois o mundo pós-Dinis é o mundo que eu gostaria de habitar.

Legenda da imagem: Tennis at Newport (1919), George Bellows (1882-1925), Capa do livro Cantiga para poeta em águas-furtadas, de Francisco Teles da Gama.

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