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Céu e Inferno. Uma visão alegórica que entrecruza a literatura, a música e a pintura

Pensei ter algum interesse dar a conhecer uma obra musical que, circulando mais perifericamente, retoma, uma vez mais, esta temática. Falo da sinfonia n.º1, do espanhol Oscar Navarro, crismada “Hell and Heaven”.

Céu e Inferno. Uma visão alegórica que entrecruza a literatura, a música e a pintura

João Andrade Nunes

07 de junho de 2023

Se há assunto que, ao longo de séculos, se tem constituído como fonte inesgotável de representações artísticas, a antinomia Céu e Inferno é disso paradigma. Por certo, a imaterialidade subjacente a ambos os conceitos permitiu, e continua a permitir, fantasiosas recriações da mais enigmática viagem do Homem enquanto ser espiritual.

Curiosamente, se essas representações nas artes plásticas assumem, maioritariamente, um pendor assaz piedoso (e.g. “O Juízo final” de Michelangelo ou de Beato Fra Angelico), na literatura e na música não é difícil encontrar essa temática numa abordagem dicotómica que se reparte em seriedade e sátira. A título de exemplo, basta lembrar a visão virgiliana do Inferno – que herdada de Homero fora tomada por S. Paulo –, a “Divina Comédia”, de Dante Alighieri ou, de certa forma, o mito de Caronte satirizado no “Auto da Barca e do Inferno”, de Gil Vicente, e o de Orfeu na ópera “Orfeu nos Infernos”, de Jacques Offenbach.

Inúmeros exemplos poderiam ser trazidos a lume. Porém, e talvez com alguns laivos de parcialidade, pensei ter algum interesse dar a conhecer uma obra musical que, circulando mais perifericamente, retoma, uma vez mais, esta temática. Falo da sinfonia n.º1, do espanhol Oscar Navarro, crismada “Hell and Heaven”.

Concebida para orquestra de sopros, esta obra programática, que data de 2019, convoca o mundo tríplice do Inferno, Purgatório e Paraíso, onde, no dizer de Fidelino Figueiredo, “as sombras humanas se prolongam sem termo, muito mais desproporcionadas que nos nossos prolixos crepúsculos”.

Assim, longo de trinta minutos, em semelhante violência à de Jacob que se digladiava com anjo, na representação de Léon Bonnat (1876), é percetível esse grande combate entre a morte e a vida; entre a mentira e verdade.

No final, rememorando Antero de Quental, ouve-se “para lá das bandas do futuro/a grande voz de Cristo, a voz eterna/erguer-se sobre os filhos da verdade”.

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