Bach e Händel. Diálogo entre a razão e a emoção
Desde logo, Johann Sebastian Bach e Georg Friedrich Händel são figuras maiores da História da Música Ocidental cujo legado, vasto e complexo, continua a potenciar novas leituras e experiência artísticas.


João Andrade Nunes
22 de outubro de 2025
No dia 11 de outubro, a Igreja de São Tomás de Aquino acolheu o concerto inaugural da XI Temporada de Música de São Tomás de Aquino, concerto que marcou o 10.º aniversário do Ensemble São Tomás de Aquino.
Numa formação com três dezenas de instrumentistas e cantores, sob direção de João Andrade Nunes, foi apresentado um programa intitulado “Bach e Händel. Diálogo entre a razão e a emoção”. Entre as principais obras apresentadas encontram-se Dixit Dominus, HWV 232, de Georg Friedrich Händel, e Suite Orquestral n.º 2, em si menor, BWV 1067, de Johann Sebastian Bach, com o flautista Rui Marques.
Distantes da nossa contemporaneidade, quem são estes compositores e por que motivo recuperar a sua música?
Desde logo, Johann Sebastian Bach e Georg Friedrich Händel são figuras maiores da História da Música Ocidental cujo legado, vasto e complexo, continua a potenciar novas leituras e experiência artísticas.
Apesar de nascidos no mesmo ano (1685) e no mesmo espaço geográfico (Sacro Império Romano-Germânico, atual Alemanha), a respetiva atividade musical fora desenvolvida em países diferentes. Bach, essencialmente, circulara entre cidades do Sacro Império. Händel, depois de residir em várias cidades italianas e germânicas, acabara por se fixar em Londres. Aí ascendera ao estrelato e permanecera até à sua morte.
Ainda que inseridos numa estética musical comum, são notórios os diferentes idiomas de Bach e de Händel. De forma muito generalizada, poder-se-á dizer que à escrita enigmática e cerebral de Bach, em que a razão se tem como pedra de toque, contrapõe-se a emoção de Händel vertida numa elegância melódica singular. Mas se este fora o traço mais distintivo da escrita de Händel, sobretudo aquando da sua estada na capital inglesa, a escrita da sua juventude, nomeadamente a que se encontra vertida em Dixit Dominus [salmo 109], mostra-se diversa. Composta aquando da sua passagem por Itália [1707-1708], então o polo mais fervilhante de criação musical europeu, Dixit Dominus fora fortemente inspirado no estilo vivaldiano. Não surpreende, por isso, a sua feição virtuosística. Porém, a exuberância nele presente, respondendo ao gosto e anseios do patronato, não ofuscava o génio melódico handeliano que então já germinava.
Num gesto de tradição e inovação, este concerto colocou em diálogo duas obras coevas com linguagens e finalidades distintas – suite orquestral n.º 2, em si menor, BWV 1067, e o salmo Dixit Dominus, HWV 232 – com a obra Adoro Te devote, encomendada pelo Ensemble São Tomás de Aquino a Fernando Lapa, um dos compositores portugueses mais proeminentes da sua geração. Trata-se da revisitação a um dos textos hínicos mais emblemáticos da tradição dominicana, atribuído a São Tomás de Aquino, no ano em que passam 750 anos sobre a sua morte. Numa lógica de envolvimento comunitário e potenciando uma experiência profissional, esta obra foi interpretada com um coro participativo que envolveu cantores de todos os coros da mencionada Paróquia.



