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Lições bíblicas

A celebração da Santíssima Trindade convida-nos a celebrar algumas características ou atributos divinos que só o Cristianismo (nas suas várias tradições) captou na leitura e meditação da revelação divina, sem que nenhuma outra fé monoteísta (judaísmo e islamismo) tenha lá chegado.

Solenidade da Santíssima Trindade

Encerrou-se o tempo pascal. Começa o tempo comum: o tempo da aprendizagem da vida cristã ao longo nossa peregrinação de 34 semanas, simbolizando o tempo da Igreja peregrina.

Como frontispício desta etapa, aparece-nos a Solenidade da Santíssima Trindade para nos ajudar a refletir sobre quem é nosso Deus; Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos e nos enviou o Espírito Santo; e que está no centro da nossa vida de fé; quem é?

1. O nosso Deus é o “Deus dos nossos pais” cujo primeiro atributo é ser Salvador e Criador; Aquele que de Abrão até Jesus Cristo se vai revelando gradualmente ao seu povo, atingido o ponto mais alto e pleno desta revelação no mistério da incarnação do seu Filho Jesus. N’Ele e através d’Ele nos revela toda a força do seu amor.

2. A celebração da Santíssima Trindade convida-nos a celebrar algumas características ou atributos divinos que só o Cristianismo (nas suas várias tradições) captou na leitura e meditação da revelação divina, sem que nenhuma outra fé monoteísta (judaísmo e islamismo) tenha lá chegado.

3. Assim:
a) O nosso Deus é um Deus comunhão, em permanente relação e não um Deus solitário, fechado sobre si mesmo.
b) É um Deus que comunica e se comunica. Dá-se a conhecer. “Chamo-vos amigos porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai”. A comunicação gera a amizade e a confiança. Ajuda a abrir o coração e liberta-o daquilo que o oprime.
c) É um Deus que ama. No mistério da incarnação, o amor do Pai revela-se em Jesus Cristo, Seu Filho. “Deus amou tanto a humanidade que lhe entregou o Seu Filho único para que todo o que acreditar no Filho único de Deus, não se perca, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3,16); e a Comunidade cristã da primeira geração exprime isto, admiravelmente, através de S. Paulo na sua carta aos Romanos. Em Jesus Cristo, Deus Pai não se poupou a nada para nos mostrar toda a força indestrutível do Seu Amor. (Cf.R 8,32)
No mistério da Igreja, revela-se no Espirito Santo. “Disse-vos estas coisas estando entre vós, mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo, e vos recordará tudo o que vos disse” (J.14,26). A comunidade cristã da primeira geração tinha consciência disso quando através de S. Paulo, na sua carta aos Romanos diz “a nossa esperança não nos engana, o amor de Deus foi largamente derramado nos nossos corações pelo Espirito Santo que nos foi dado”

4. A Comunidade cristã reflete e inspira-se, no tempo da sua peregrinação, na Comunidade da Trindade. Celebrar o mistério da Santíssima Trindade para além de fazer uma profissão fé em Deus que é Pai, e como tal nos ama; em Jesus Cristo, Seu Filho, que nos revelou, ao vivo, toda a força salvadora desse amor; e no Espírito Santo que anima, esclarece e orienta a vida da Igreja, celebrar a Santíssima Trindade, é desenvolver, no tempo, e nas nossas Comunidades cristãs, alguns atributos da Comunidade trinitária.

Assim:
a) Num mundo dividido por interesses mesquinhos e obscuros, os cristãos, inspirados na Trindade, propõem-se construir a comunhão geradora de unidade. Respeitam a pluralidade; não anulam mas, pelo contrário, valorizam a diferença. Esta, no respeito pelas diversas funções dos elementos que compõem a Comunidade, nunca pode ser vista como fonte de antagonismo mas de complementaridade na realização de uma missão comum.
b) Numa sociedade egoísta, onde a palavra “amor” parece significar tudo o que satisfaz o egoísmo de quem a usa de maneira tão efémera e volátil quanto o humor e a disposição de momento, os cristãos são convidados a viver e a testemunhar o amor doação, o amor serviço, o amor eterno, tão bem retratado na 1ª carta aos Coríntios, 13: “O amor é paciente e prestável. Não é invejoso. Não se envaidece, nem é orgulhoso. O amor não tem maus modos nem é egoísta. Não se irrita nem pensa mal. O amor não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade. O amor tudo suporta, acredita sempre, espera sempre e sofre com paciência. O amor é eterno” E os cristãos
acreditam que o seu amor, quando bebido nesta fonte, também é eterno. Por isso, professam-no em vários momentos das suas vidas!
c) Numa cultura onde as pessoas “ligam muito” (liga-me mais tarde, depois eu ligo-te, o meu amigo ligou-me) mas falam pouco e ainda muito menos comunicam, os cristãos, inspirados na Trindade, esforçam-se por criar relações que os tornem presentes aos seus irmãos. Presença por inteiro, corpo e alma, sentimento, emoção e racionalidade, cabeça e coração. Só assim, o homem todo é capaz de criar relações que o dignifiquem.

Na celebração do mistério da Santíssima Trindade, mais do que uma discussão de números, porque continuará sempre a ser um mistério, é um novo modelo de comunidade e de sociedade, baseado no amor, com novos dinamismos, criando novo tipo de relações e tudo inspirado na Comunidade trinitária. Utopia? Sem a utopia o mundo estagna.

Na linguagem cristã, estes dinamismos chamam-se virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade. E a utopia, ... sãos os novos céus e a nova terra, a nova Jerusalém para onde todos caminhamos orientados pelo Espírito que vai falando às igrejas (cfr Ap.2,17) e onde o Senhor Deus e o Cordeiro são seu templo e a sua luz (cfr. Ap.21,22 s).

Pe. José Alves, CM
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