A Solenidade da Imaculada Conceição, em 8 de Dezembro, quer sublinhar, de modo especial, a missão confiada a Maria na história da salvação. Maria é, então, a cheia de graça, a Mulher escolhida por Deus desde a eternidade para que, por meio dela, acontecesse o Mistério da Encarnação.
Solenidade da Imaculada Conceição
A Solenidade, que celebramos, é profundamente mariana, fazendo parte dos dogmas da Igreja relacionados com Nossa Senhora. Na Bíblia não encontramos para ela um fundamento bíblico explícito: a primeira notícia da celebração desta Solenidade remonta aos finais do século VII, no Oriente.
A Solenidade da Imaculada Conceição, em 8 de Dezembro, quer sublinhar, de modo especial, a missão confiada a Maria na história da salvação. Maria é, então, a cheia de graça, a Mulher escolhida por Deus desde a eternidade para que, por meio dela, acontecesse o Mistério da Encarnação.
A primeira leitura do livro do Génesis, fala-nos da origem do pecado. Está em questão o choque entre a liberdade humana e a liberdade divina. Usa-se uma linguagem muito simbólica. A criação estava completa, Deus tinha visto que era tudo muito bom, tinha posto o casal primordial no paraíso, onde podia comer todos os frutos exceto o da árvore do conhecimento do bem e do mal. E eis que acontece o drama: A serpente, sinal da sabedoria e da astúcia, provoca o casal para que se alimente precisamente do fruto proibido por Deus. E os dois cedem à tentação. De facto, só teriam conhecimento do bem e do mal depois de comerem daquele fruto. Deus estava a privá-los de uma liberdade a que eles julgavam ter direito. E este pecado é o protótipo de todos os pecados. Esta tentação é a origem do pecado em geral, ontem, hoje e sempre…O mal surge disso mesmo: das opções livres do homem que o põem em contradição com Deus.
Na verdade, a primeira leitura apresenta-nos a condição existencial do homem. Desde os inícios da história esteve à mercê da “ serpente”, começou a sonhar projetos alternativos aos de Deus e decretou a própria ruína. Deus interveio a seu favor e prometeu estar a seu lado nesta luta sem igual contra a “ serpente”.
Maria é o sinal mais nítido do triunfo de Deus sobre o mal. É imaculada desde a sua concepção, ou seja, na totalidade da sua existência. Nela, a “ serpente” nunca prevaleceu, as suas escolhas estiveram sempre em sintonia com o projeto de Deus. É neste contexto que se insere a mensagem de alegria – surpreendente, inesperada – da Carta do Apóstolo São Paulo aos Efésios:” num longo hino de bênção a Deus pelas maravilhas por Ele operadas em favor dos homens, anuncia-se também o nosso destino: “ Deus escolheu-nos, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença….” Também nós, como Maria, seremos imaculados. Também em nós o mal sofrerá uma derrota total.
Mas a serpente, que os seduziu, não vai vencer no jogo da sedução. A serpente enganou Eva; será também uma Mulher, Maria, a Nova Eva, que a vai calcar aos pés e repor a harmonia original. Na verdade, se na primeira leitura, o autor sagrado explica, mediante a narrativa das origens, a transgressão original e a grande tentação presente na Humanidade de querer ser como Deus, o Evangelho de Lucas responde, através de Maria, a esta desordem entretanto desencadeada. À criação de Eva por parte de Deus responde o mesmo Deus com a nova criação que em Maria começa.
Os pensamentos de Deus são muito diferentes dos nossos. Deus escolhe uma mulher, de Nazaré, de onde não vem nenhuma coisa boa ( Jo 1, 45), virgem ( em Israel permanecer virgem era uma vergonha para a mulher) e pobre. É por ser pobre, por pertencer ao resto, que ela é a cheira de graça, a amada por Deus, que lhe consagrou a sua pobreza e a sua virgindade: “ Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo.” Deus enriqueceu-a com a Sua graça e tornou-a fecunda. Maria deixa-se interpelar e envolver pelo projeto divino. É importante olharmos para Maria como alguém preservada por Deus para ser Mãe do seu Filho, mas também como alguém que teve de exercer a sua liberdade para poder entrar no projeto divino. Maria não é uma semideusa com uma autoconsciência inata da sua missão nos desígnios de Deus, mas uma “mera” criatura que vivia seriamente a sua fé e que por isso mesmo estaria mais apta a acolher a proposta de Deus. Esta adesão ao projeto de Deus manifesta-se perfeitamente no diálogo que estabelece com o Anjo Gabriel. Poderemos talvez pensar erradamente que Maria também duvidou, também não aceitou à primeira a proposta divina, ao perguntar: “ Como será isto, se eu não conheço homem?” Esta não pode ser vista como uma interrogação de quem duvida, mas antes como a manifestação de uma disposição para o facto. Ou seja, Maria pergunta ao Anjo o que pode fazer para que isso se tornasse possível. E esta é a primeira condição para que possamos, como Maria, ser pessoas duma fé viva e verdadeira: não colocar obstáculos ou dúvidas à ação de Deus, mas assumirmos a atitude de disponibilidade para entrar nesse projeto, ainda que carregado de incertezas e indefinições. Maria sabe que é a Deus que pertence o controle da história e, por isso, também o da sua vida. Esse dado é facilmente reconhecível pela expressão, que se tornou célebre: “ Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. É a resposta de Maria à proposta de Deus. O seu sim é completo, total, incondicional, para a vida inteira… E do mesmo modo que o não das origens tinha impedido a passagem do homem rumo a Deus, assim o sim de Maria abriu o caminho a Deus no meio de nós. É o sim mais importante da história, o sim humilde que inverte o não soberbo das origens, o sim fiel que cura a desobediência, o sim disponível que aniquila o egoísmo do pecado. Cada sim pleno a Deus dá origem a uma nova história: dizer sim a Deus é verdadeiramente “ original”, é origem, não como o pecado, que nos envelhece por dentro. Cada sim a Deus dá origem a uma história de salvação, tanto para nós como para os outros. Foi assim o “sim” de Maria. E o meu? E o nosso?
O dogma da Imaculada Conceição não quer evidenciar uma “ supermulher”; quer, antes, mostrar à Humanidade um modelo, uma mulher igual a todas as mulheres, que no seu Sim a Deus se deixou tocar pela Graça, que aceitou o plano de Deus para a sua vida, e nos revelou a verdadeira Luz do Mundo: Jesus Cristo, nosso Salvador.
Maria, um grande “ SIM “, dado com generosidade , confiança e entrega total.