Hoje, ao celebrarmos Sexta-feira Santa, temos em conta todas estas cruzes. E valorizamo-las porque Jesus acabou a sua vida numa Cruz. E é essa que dá sentido às nossas. É claro que não as procuramos, mas também não as ignoramos, não as desprezamos nem recusamos.
Sexta-feira Santa
Toda a liturgia de hoje, de modo especial a leitura da paixão, anda à volta do mesmo tema: a Cruz.
Como padre, tive de traçar, muitas vezes a cruz na fronte de muitas crianças apresentadas pelos seus pais para serem batizadas, como um dia fizeram comigo também. Recorro ao sinal da cruz para abençoar, para perdoar e para celebrar os sacramentos. Com esse sinal começamos a Eucaristia e a terminamos.
Nos “cruzeiros”, nas bermas ou cruzamentos de caminhos, nas paredes das nossas casas ou até nas escolas (se não as tivessem mandado retirar) está bem presente esse símbolo que nos identifica como cristãos em qualquer parte do mundo.
Em tempo de pandemia, salta aos olhos, ainda com mais intensidade, a realidade da cruz na vida de tantas pessoas e famílias.
Hoje, ao celebrarmos Sexta-feira Santa, temos em conta todas estas cruzes. E valorizamo-las porque Jesus acabou a sua vida numa Cruz. E é essa que dá sentido às nossas. É claro que não as procuramos, mas também não as ignoramos, não as desprezamos nem recusamos. Lutamos, isso sim, por aliviar a dor que elas provocam em nós e nos nossos irmãos, como o fez o próprio Jesus. E, depois de percebermos que não é possível “afastar de nós este cálice”, aceitamo-las.
Seguir Jesus implica não buscar uma fé cómoda, mas procurar Cristo nos “crucificados” do nosso tempo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade. Contemplar a cruz significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender, com Jesus, a entregar a vida por amor.
Reconhecemos o rosto de Cristo nos nossos doentes, naqueles que estão a sofrer, nos que padecem nos nossos hospitais. Eles são para nós a expressão do Cristo vivo e crucificado!
Hoje é dia de silêncio, de esperança contra tudo e todos, de acolher o profundo amor de Deus pela humanidade oferecido com a cruz e a morte de Jesus
Quando nos aproximarmos para o gesto de adoração à cruz, pensemos no que estamos a fazer: estamos a dizer ‘sim’ ao projeto de Deus manifestado em Jesus; estamos a pedir coragem para carregarmos também essa cruz na nossa vida; estamos a manifestar a nossa humilde colaboração no projeto de Salvação de Deus. O que salva é o amor, não é a dor. Mas, muitas vezes, o amor carrega dor e sofrimento.
É esse amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo que hoje celebramos, tendo como pano de fundo a Cruz e a morte do Senhor.