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Lições bíblicas

Toda a espiritualidade deste dia, 5ª feira Santa, convida o cristão a ir beber à fonte do mistério eucarístico que é Cristo: foi Ele quem instituiu a Eucaristia, foi Ele quem inaugurou o sacerdócio da Nova Aliança, foi Ele quem deixou aos seus seguidores o legado do amor e do serviço, que simbolicamente a Igreja representa no rito do lava-pés.

Quinta-feira Santa

Antoine de Saint-Exupéry diz no seu livro o principezinho que “quando o mistério é demasiado impressionante não é possível desobedecer”. Precisamente hoje, 5ª feira Santa, celebramos o Mysterium fidei (mistério da fé), que a Igreja recebeu de Cristo, seu Esposo, como dom do seu imenso amor e tesouro mais precioso (Beato Paulo VI, Enc. Mysterium fidei).

Para o cristão, este é o mistério «demasiado impressionante» ao qual não é possível desobedecer. São muitos os nomes que lhe damos e todos eles manifestam e desvelam uma dimensão diferente e reveladora da profundidade do mistério que encerra:
Chamamos-lhe Eucaristia, porque é ação de graças a Deus.
Chamamos-lhe Banquete do Senhor, porque recorda a Última Ceia e é antecipação do banquete das bodas do Cordeiro, tal como o descreve o livro do Apocalipse (Ap 19).
Chamamos-lhe Fração do Pão, porque é alimento da nossa fé, foi ao «partir do pão» que os discípulos de Emaús reconheceram Jesus e assim a denominavam os primeiros cristãos (At 2,42.46; 20,7.11).
Chamamos-lhe Memorial e Santo Sacrifício, porque faz memória e atualiza o sacrifício de Cristo que ofereceu a sua vida por nós.
Chamamos-lhe Santa e Divina Liturgia, sobretudo nas tradições orientais, porque é o centro e a expressão mais profunda de toda a vida eclesial.
Chamamos-lhe Assembleia eucarística, porque se celebra na comunhão do povo de Deus reunido para celebrar a sua fé pessoal e comunitariamente.
Chamamos-lhe Pão dos anjos (CIC nº 1414) e Pão do céu (Jo 6), porque é alimento de vida eterna.
Chamamos-lhe Missa, porque nela o cristão é enviado ao mundo em missão.

As leituras deste dia também aprofundam várias das dimensões do mistério da Eucaristia. A primeira leitura recorda o banquete pascal do povo de Deus liberto da escravidão do Egito; a segunda leitura, pela boca de São Paulo, proclama as palavras da consagração como memorial e anúncio da morte do Senhor; e o Evangelho relata a Última Ceia onde o Senhor institui a Eucaristia e apresenta o serviço como norma de conduta para os seguidores do Mestre: “Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também” (Jo 13,15).

Toda a espiritualidade deste dia, 5ª feira Santa, convida o cristão a ir beber à fonte do mistério eucarístico que é Cristo: foi Ele quem instituiu a Eucaristia, foi Ele quem inaugurou o sacerdócio da Nova Aliança, foi Ele quem deixou aos seus seguidores o legado do amor e do serviço, que simbolicamente a Igreja representa no rito do lava-pés. Infelizmente, muitos cristãos parecem ter perdido a sede que nos leva a ir beber à fonte que é Cristo, deixaram de sentir que o mistério eucarístico é «demasiado impressionante» para ser possível desobedecer. Atento a esta realidade, o Papa Francisco não se cansa de insistir na sua fulcralidade para a vitalidade da Igreja e recorda que é na Eucaristia que Jesus deseja ficar connosco. Para o Papa, a Eucaristia é “a síntese de toda a existência de Jesus, que foi um único ato de amor ao Pai e aos irmãos”, é a união com Cristo e a comunhão entre os que se nutrem d’Ele, não é um prémio para os bons, mas remédio para os fracos, e contém os anticorpos necessários para a nossa memória doente de negatividade, pois nela Jesus torna-nos imunes à tristeza. E refere ainda que “nutrir-nos do Pão da vida significa entrar em sintonia com o coração de Cristo, assimilar as suas escolhas, os seus pensamentos, os seus comportamentos. Significa entrar num dinamismo de amor oblativo e converter-se em pessoas de paz, de perdão, de reconciliação, de partilhar solidário”.

Necessitamos de reaprender a deixar-nos impressionar por este mistério de amor que celebramos na Eucaristia. Conta um sr. Bispo que ouviu uma jovem dizer que não rezava o terço porque era uma seca e muito repetitivo. O sr. Bispo escutou-a atentamente e depois perguntou-lhe: «porventura a jovem tem namorado?». Ela respondeu que sim. E de novo outra pergunta: «quantas vezes costuma dizer por semana ao seu namorado que o ama? Uma, duas, três vezes…?». Ela ficou algo indigna e respondeu que diziam várias vezes um ao outro que se amavam não apenas semanalmente, mas diariamente. Foi aí que o sr. Bispo acrescentou: «E não acha isso demasiado repetitivo?». É claro que não é repetitivo porque se trata de uma manifestação de amor. O terço é uma manifestação de amor. E assim também a Eucaristia. Quando não rezamos ou não participamos na Eucaristia talvez não seja porque é repetitivo ou porque não temos tempo ou por outra razão qualquer. Pode ser por falta de amor…

Celebrar a Eucaristia é celebrar o mistério de amor de Deus para com os homens e dos homens para com Deus e entre si. Peçamos ao Senhor da Vida a graça de nos deixarmos continuamente impressionar por este mistério para não deixarmos de «obedecer», isto é, de descobrir a alegria de celebrar e viver envolvidos no amor de Deus e aos irmãos!

Pe. Bruno Cunha, CM
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