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Lições bíblicas

Como é atual a Palavra deste Domingo da Palavra! A pandemia está a clamar a necessidade de uma conversão radical. De uma profunda mudança de mentalidade. A pandemia veio evidenciar os errados caminhos desta sociedade. Temos vivido como que adormecidos e satisfeitos com nossos pensamentos e ações egoístas; com nossa lógica cómoda e hedonista, na procura da auto-satisfação estéril.

III Domingo do Tempo Comum

Neste Domingo III do Tempo Comum, domingo da Palavra de Deus, é-nos dada a graça de escutar o Evangelho de Marcos 1,14-20. É a primeira vez que podemos “ouvir” a voz de Jesus. Serão, portanto, dizeres importantes e programáticos: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Eis que a esperança de Israel inicia a sua realização: o Messias, o Salvador esperado chega inaugurando o Reino de Deus, anunciado pelos profetas!

Com Jesus, em seus gestos e pregação, o Reino de Deus, a proximidade do «Santo de Israel», é realmente experimentada pelo povo de Deus. Em Jesus, Deus fez-Se próximo, Deus veio acolher, consolar, indicar o caminho, salvar! Em Jesus, o Filho amado, Deus veio revelar a sua paternidade, debruçando-se sobre os últimos: os aflitos, os pobres, os pecadores.

Mas há algo surpreendente neste alegre anúncio de Jesus: logo após afirmar que o Reino chegou, o Senhor exorta: “arrependei-vos e acreditai no Evangelho!” E podemos perguntar-nos: por que é que Jesus faz esta exortação? Os israelitas não estavam à espera do Reino? Por que é que precisavam de se converter?

O Reino que Jesus veio trazer não é um Reino de encomenda, não é sob medida, como se tivesse sido visto em algum panfleto ou newsletter promocional. Porque o Senhor não nos vem trazer um Deus à nossa medida, à medida do mundo… Um espécime de deus (ídolo) moderninho para consumo e consolo das nossas necessidades, interesses e expectativas.

O Reino de Deus inaugurado e anunciado por Jesus não segue a cultura do fácil, do prático e do descartável. Jesus renova o apelo radical e profético de João Batista: “arrependei-vos”.
Com efeito, acolher a novidade de Deus, a Boa-notícia/Evangelho, exige que saiamos de nós mesmos, como os ninivitas que, escutando a pregação de Jonas, foram capazes de se arrepender e mudar de vida!
Como é atual a Palavra deste Domingo da Palavra! A pandemia está a clamar a necessidade de uma conversão radical. De uma profunda mudança de mentalidade. A pandemia veio evidenciar os errados caminhos desta sociedade. Temos vivido como que adormecidos e satisfeitos com nossos pensamentos e ações egoístas; com nossa lógica cómoda e hedonista, na procura da auto-satisfação estéril.

Não podemos esquecer, caros irmãos e irmãs: uma das primeiras palavras do Senhor no Evangelho é “arrependei-vos”. Não é possível “domesticar” Jesus; não é possível um cristianismo à nossa mesquinha medida!

Não é por acaso que o Evangelho de hoje começa por falar da prisão de João Batista, mártir da verdade. E logo após apresentar o apelo de Jesus, são Marcos nos fala da vocação dos quatro primeiros discípulos.
Certamente, esse chamamento pode ser compreendido de modo muito particular como referindo-se à vocação sacerdotal, que faz dos chamados “pescadores de homens”. Mas, esse chamamento indica também a vocação de todo cristão: seguir Jesus no caminho da vida. Nesse sentido, a indicação é clara: seguir Jesus exige deixar tudo; deixar-se e colocar a vida em relação com o Senhor. Somente assim poderemos acolher o Reino!

Nunca esqueçamos, irmãos: diante da urgência de estar com Jesus, de viver unido a Ele, de acolher Sua Pessoa, tudo o mais é relativo! Daí a advertência de São Paulo na segunda leitura de hoje: “o tempo é breve. Doravante, os que têm esposas procedam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que andam alegres, como se não andassem; os que compram, como se não possuíssem; os que utilizam este mundo, como se realmente não o utilizassem. De facto, o cenário deste mundo é passageiro.”

A cultura atual deseja que esqueçamos ou invertamos os valores que sustentam o edifício da nossa fé. Que absolutizemos aquelas coisas que são relativas, que deixemos de lado aquilo que realmente importa: a vida humana, o bem comum, a justiça, a solidariedade e o respeito pela diferença, a atenção aos mais frágeis, a fraternidade. Neste sentido e neste contexto particular da pandemia, continuam a soar como proféticas as palavras do Papa Francisco na mensagem para o dia primeiro deste ano: «a cultura do cuidado como percurso de paz»; a cultura do cuidado para erradicar a cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje muitas vezes parece prevalecer».

Caríssimos, convertamo-nos! Levemos a sério que o modo de pensar e agir de Deus não são, necessariamente, os nossos! E tenhamos a coragem de nos deixar conduzir por Cristo que nos diz: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». É triste perceber como hoje, muitas vezes, tantos ditos “cristãos” se sentem tão à vontade numa sociedade consumista, secularizada, pagã e satisfeita consigo própria.

São Jerónimo, um amante da Palavra de Deus, comentando a atitude dos quatro primeiros discípulos chamados pelo Senhor, afirma: “A verdadeira fé não conhece hesitação: imediatamente ouve, imediatamente crê, imediatamente segue...” Seja assim a nossa fé no Senhor; seja assim a nossa adesão ao Salvador! Pois, então, seremos felizes de verdade. Então, perceberemos que o que Cristo nos trouxe é uma Boa Notícia/Evangelho: Deus ama-nos, caminha connosco e, no seu bendito Filho, convida-nos ir com Ele, para, animados pelo seu Espírito, fazer de nós «discípulos missionários».

Pe. Fernando Soares, CM
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