No segundo Domingo do Advento, somos chamados a centrar o nosso olhar em João Batista. É sobre "esta voz que anuncia a vinda do Salvador," que o Pe. Nélio Pita nos convida a meditar.
II Domingo de Advento
Há vozes que ecoam pelos séculos, superando todas as barreiras do tempo e do espaço. A voz daqueles que mais amamos perduram em nós, mesmo quando a morte se intrometeu na relação. Por vezes, durante a noite, ouvimo-la sem aviso prévio, em algum sonho, como que a recordar uma mensagem esquecida. O misterioso sussurro tem o poder de reavivar uma esperança esmorecida, marca presença em momentos decisivos, alerta para uma situação negligenciada, é uma seta que aponta para uma nova meta.
Não desvalorizemos a voz daquele que fala no nosso mais íntimo. Calemo-nos. Procuremos lugares desertos onde a possamos ouvir, sem interferências, sem o ruído estonteante do mundo, sem a música de fundo das cidades, pobre e repetitiva.
Há muito tempo, quando o homem do deserto começou, com inusitada audácia, a repetir «preparai-vos…endireitai», uma multidão obedeceu-lhe porque reconheceu nele a realização da promessa antiga. João era o profeta esperado. Prepararam-se afluindo ao deserto, deixando-se submergir nas águas do rio Jordão, num ritual de penitência, sinal de um batismo «no fogo» que havia de ser oferecido a todos os homens, mais tarde, pelo Filho de Deus.
João batizou aqueles que deixavam o conforto das suas casas, a segurança das rotinas diárias e se aventuravam em caminhos virgens, veredas diversas, que confluíam no rio, no meio de um prolongado deserto. O lugar sagrado tornou-se a fronteira que divide os homens em duas categorias: por um lado, os nómadas de Deus e, por outro, os conformados, os incrédulos e certos procrastinadores. Na verdade, como quase sempre acontece, apenas alguns perceberam que aquele era o momento, a oportunidade única que não podia ser desperdiçada. Face a emergência de uma nova etapa na história dos homens, a voz rude despertou-lhes a consciência para dimensões esquecidas e uma água límpida purificou-os dos pecados. Prepararam-se a sério.
A voz corajosa de João ressoa no coração de todos nós, em especial neste tempo de advento. Preparemo-nos para celebrar a vinda D’Aquele que é causa de uma nova história. Procuremos o batismo da reconciliação, ousemos atravessar as ruas barulhentas das nossas cidades, permaneçamos vigilantes. Neste advento, escutemos, de novo, a voz inconfundível de João e não hesitemos em fazer o que ele nos pede.