Estamos a celebrar o primeiro domingo da quaresma. Este domingo está marcado por palavras fortes, tais como: Aliança, Compromisso, Missão, Conversão, Deserto… todas estas palavras conduzem-nos a um encontro profundo com Deus. Para tal necessito sair do meu isolamento e das minhas lamentações para ir ao encontro de Deus.
I Domingo da Quaresma
Na quarta-feira iniciámos o tempo quaresmal, um tempo favorável para estarmos connosco próprios, para nos podermos encontrar com Deus. É um tempo de escuta, de conversão, de compromisso. O Papa Francisco salienta que é tempo para renovar fé, esperança e caridade.
Estamos a celebrar o primeiro domingo da quaresma. Este domingo está marcado por palavras fortes, tais como: Aliança, Compromisso, Missão, Conversão, Deserto… todas estas palavras conduzem-nos a um encontro profundo com Deus. Para tal necessito sair do meu isolamento e das minhas lamentações para ir ao encontro de Deus. Deste Deus que se faz próximo, que estabelece uma aliança connosco, que tudo faz para que cada qual se possa salvar usando sempre de ternura, de compaixão, não se cansando de perdoar aquele que humildemente lhe pede perdão.
A primeira leitura usa imagens simples para nos recordar a presença de Deus sempre ao nosso lado. Deus salva o homem do dilúvio das águas, salva do dilúvio dos sofrimentos, salva do dilúvio que é a vida afastada d’Ele. Neste dilúvio podemos experimentar feridas, fracassos, sofrimentos, egoísmos que nos fecham a Deus e aos outros porque o pecado fecha-nos em nós mesmos, mas Deus quer abrir o nosso coração, através duma aliança de amor que cada um experimenta no perdão. Pois, como refere o Papa Francisco, “as dificuldades que parecem enormes são a oportunidade para crescer, e não a desculpa para a tristeza inerte que favorece a sujeição. Mas não o façamos sozinhos, individualmente. Deixemos de ocultar a dor das perdas e assumamos os nossos delitos, desmazelos e mentiras. A reconciliação reparadora ressuscitar-nos-á, fazendo perder o medo a nós mesmos e aos outros” (FT 78).
Este apelo, a caminhar com Cristo, ajuda-nos a converter o nosso coração, a ressuscitar para uma vida nova, comprometidos com a missão de vencermos as dificuldades que criamos em nós mesmos, para nos libertarmos para a missão comprometida de evangelizar com o nosso testemunho. Pelo nosso baptismo iniciamos uma relação privilegiada de amor com Deus, um tomar consciência da salvação que Deus nos promete e nos dá. Deus espera, pacientemente, que cada um faça o caminho ao seu encontro, purificado pelas águas e renascido pela presença de Cristo no seu caminhar. O homem “não se realiza, não se desenvolve, nem pode encontrar a sua plenitude «a não ser no sincero dom de si mesmo» aos outros. E não chega a reconhecer completamente a sua própria verdade, senão no encontro com os outros. Ninguém pode experimentar o valor de viver, sem rostos concretos a quem amar” (FT 87). É na relação com os outros, relação fraterna, relação de comunhão que criámos verdadeiros vínculos de fidelidade a Deus.
Jesus é impelido para o deserto, no deserto assume a natureza humana, sente as dificuldades humanas, as vicissitudes das limitações humanas, a fome, a sede, a solidão, mas encontra-se na oração, na relação com o Pai. No deserto Jesus prepara-se para a missão, para anunciar a proximidade do Reino de Deus. Prepara-se para assumir e manifestar a divindade que a todos atrai e Jesus atrai com a sua presença, com a sua vida, sendo Ele próprio sinal de Esperança, vivência da fé, realização da caridade, do amor.
No deserto Jesus cria uma verdadeira intimidade com Deus, e manifesta-nos que através dessa intimidade com Deus, nós, somos capazes de superar as barreiras que criamos, somos capazes de derrubar os muros que construímos, somos capazes de abrir o nosso coração ao outro. “A partir da intimidade de cada coração, o amor cria vínculos e amplia a existência, quando arranca a pessoa de si mesma para o outro” (FT 88). Jesus no deserto encontra a profundidade dessa intimidade com o pai e liberta-se de Si próprio para viver a missão evangelizadora, para estar com o outro, para o libertar. Deixa-se conduzir pelo Espírito, não procura o apoio em si próprio, mas todo o apoio está na relação de intimidade com o Pai e no Espírito Santo.
Jesus é impelido para o deserto, deixa-se conduzir pelo Espírito, fortalece os laços de amor com o Pai e ultrapassa as tentações. As tentações, também nos assolam a nós, e onde encontramos a força para as ultrapassar? Por vezes, deixámo-nos cair nas tentações do egoísmo, do individualismo, do facilitismo, da superficialidade… E onde nos conduzem? Conduzem-nos à tristeza, ao isolamento, à solidão, à degradação moral, à morte… Necessitamos de Deus para sentir a vida, a felicidade duma vida de compromisso, uma vida “contra a corrente”, marcada pela ética, pela bondade, pela honestidade, pela fé, que alimentam a esperança de que o mundo pode ser diferente, enraizado nos valores cristãos, no bem; um mundo marcado pela ressurreição.
Pois, como salienta o Papa Francisco “O individualismo não nos torna mais livres, mais iguais, mais irmãos. A mera soma dos interesses individuais não é capaz de gerar um mundo melhor para toda a humanidade. Nem pode sequer preservar-nos de tantos males, que se tornam cada vez mais globais. Mas o individualismo radical é o vírus mais difícil de vencer. Ilude. Faz-nos crer que tudo se reduz a deixar à rédea solta as próprias ambições, como se, acumulando ambições e seguranças individuais, pudéssemos construir o bem comum” (FT 105). Estas são as nossas tentações actuais, e estamos sempre a ser tentados, porque queremos o fácil, o rápido, o prazer… defender os nossos próprios interesses e caímos na ilusão, ficamos iludidos. Pois, “transmitimos egoísmo, violência, corrupção, indiferença, uma vida fechada à transcendência e entrincheirada nos interesses individuais” (FT 113).
Daí, a necessidade de criarmos deserto, encontro com Deus, para podermos superar todas estas tentações. Só enraizados na intimidade com Deus pela oração, com uma vida aberta à transcendência e marcada pela acção que Deus realiza em nós é que vencemos estas tentações e temos liberdade para amar o outro e para viver a caridade.
A quaresma é caminho… percorramo-lo… renovemos em nós a fé, a esperança e a caridade.