É fácil de perceber porque é que o Papa Francisco diz que, ao falar das famílias, muitas vezes “lhe vem à mente a imagem de um tesouro”. Este tesouro é-nos revelado na contemplação da Sagrada família, pois, no dizer de Paulo VI, “aqui se aprende o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu caráter sagrado e inviolável”
Festa da Sagrada Família
Depois de celebrarmos o Natal, mistério do encontro de Deus com o Homem e do Homem com Deus no menino Jesus, a Igreja convida-nos, no decorrer da oitava do Natal, a contemplar a Sagrada família. Assim, a liturgia, que acompanha e ilumina a vida do Homem, confirma e afirma que Natal e família são inseparáveis, são parte do mesmo mistério da salvação porque o Natal é a história de uma família, cruzada na história de outras famílias como as nossas.
O Evangelho apresenta-nos o mistério do encontro de gerações: o menino Deus (filhos), José e Maria (pais), Simeão e Ana (avós). Três gerações diferentes unidas à volta de uma criança que transforma completamente as suas vidas, as nossas e o mundo inteiro!
O que guardar no coração e para a nossa vida deste encontro geracional originado pelo nascimento do menino Deus?
Primeiro, a centralidade de Jesus. É à volta dele que que tudo se concentra e ganha sentido… É isto mesmo que acontece em qualquer família que se prepara para receber um filho: ele passa a ser o centro das atenções dos pais e a razão de ser do seu amor e agir. Jesus quer ser também o centro das nossas atenções.
Segundo, o exemplo de Maria e José que vão ao templo para apresentarem o Menino a Deus. Com este gesto expressam a sua colaboração para a entrega total de Jesus ao Pai e o convite renovado a cada cristão para seguir Jesus neste caminho de entrega.
Terceiro, a atitude de Simeão, cujo nome em hebraico significa «escutador», que esperava a consolação de Israel, que foi ao Templo movido pelo Espírito Santo e que recebeu Jesus nos seus braços. Por esta razão os Padres da Igreja gregos lhe dão o título de Theodóchos - «recebedor de Deus». Imitemo-lo na escuta, na espera, na orientação do Espírito Santo e no acolhimento de Deus nas nossas vidas.
Quarto, Ana, a profetisa. Servia a Deus dia e noite e começou a louvar a Deus e a falar do Menino a todos os que esperavam a salvação de Israel. Nestes dois maravilhosos anciãos, vemos representada a Escritura inteira dos dois Testamentos: Simeão espera o Messias e Ana anuncia a sua vinda. Seguramente que nos fazem lembrar muitos avós que transmitem a fé e ensinam os seus netos a rezar, substituindo muitas vezes os pais nesta tarefa evangelizadora indispensável.
Mas a mensagem da Palavra de Deus deste dia não se esgota no Evangelho. A primeira leitura recorda alguns dos princípios que devem presidir à relação dos filhos para com os pais: amá-los, honrá-los, obedecer-lhes e ampará-los na velhice. A segunda leitura, por sua vez, completa esta descrição com outras características que se aprendem e cultivam na família e que se estendem à Igreja, como família e comunidade cristã: santidade, misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, perdão, paz e viver em ação de graças constante.
Por tudo isto é fácil de perceber porque é que o Papa Francisco diz que, ao falar das famílias, muitas vezes “lhe vem à mente a imagem de um tesouro”. Este tesouro é-nos revelado na contemplação da Sagrada família, pois, no dizer de Paulo VI, “aqui se aprende o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu caráter sagrado e inviolável” (Paulo VI, Alocução em Nazaré, 5 de janeiro de 1964).
Neste ano difícil, rezemos por todas as famílias que não se podem reunir ou que passam por dificuldades para que o Menino Deus seja a força de que precisam para continuarem a ser lugar onde se cresce «em sabedoria e em graça», onde é possível o encontro com Deus e onde se aprende a colaborar para o bem dos outros. Que todas as famílias saibam esperar e receber o Senhor como Simeão, anunciá-lo como a profetisa Ana e a viver sempre na presença de Deus cujo maior sinal é o menino Deus!