A Liturgia deste domingo brinda-nos com o convite à renovação e indica-nos como viver cada dia: “Olhai, estai alerta, os sinais estão aí, basta reconhecê-los”. É nestas situações que a Palavra de Deus nos mostra o caminho da fé, da esperança, num Deus que “não nos abandona”, um Deus que devemos ter presente e em quem podemos confiar.
Domingo XXXIII do Tempo Comum
A Esperança da Promessa
As leituras proclamadas começam a preparar-nos para o final do ano litúrgico, que termina já no próximo domingo com a Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo. E logo a seguir damos início a um novo ano, com o Tempo do Advento. Neste contexto, as leituras de hoje têm uma linguagem diferente daquela que temos vindo a escutar, como que a chamar-nos a atenção, para estarmos vigilantes, para despertarmos da rotina e preparar-nos para algo de importante que vai acontecer.
A linguagem apocalíptica da primeira leitura do livro de Daniel e do Evangelho de Marcos não procura meter medo, mas, pelo contrário, transmitir esperança e confiança em Deus. Ao longo da história sempre houve grupos, mais ou menos radicais que, diante de situações catastróficas, apregoaram o fim do mundo, tentando apoiar-se nas Escrituras. Mas, na realidade, mesmo no meio das crises, Deus não está interessado na destruição física do universo, mas na salvação do homem.
Ao longo dos últimos tempos vivemos e continuamos ainda a viver situações de angústia que nos colocam perante a pergunta do sentido da vida. Neste contexto, a Palavra de Deus leva-nos a olhar, com realismo, para a situação social e eclesial que vivemos e dois acontecimentos são marcantes neste processo, o Dia Mundial dos Pobres e o caminho sinodal que a Igreja está chamada a fazer.
E surgem perguntas. Quanto tempo vai durar esta crise? Quando haverá trabalho para todos? Quando deixarão de aumentar os preços dos bens essenciais? Será que um dia deixará de haver pobres, famintos, explorados...? Estas questões tornam-se mais angustiantes, principalmente para quem é vítima dos efeitos da crise e da pobreza. E afinal Jesus também referiu “pobres sempre os tereis convosco”. Em tempo de crise económica e social, existe sempre a tentação de querer encontrar soluções fáceis, apelando ao populismo e tantas vezes a programas sociais apenas para “dar nas vistas”.
O evangelho fala de um tempo novo que vai surgir. Para compreendermos melhor, Jesus dá o exemplo da figueira. O que acontece a uma figueira quando surge a primavera? Começam a brotar “ramos tenros”. A partir desta parábola, Jesus afirma que o mal não tem a última palavra na vida ou na história e que já existem no mundo sinais de uma nova primavera. Jesus convida-nos a viver em atitude de esperança, a confiar n´Ele, porque Ele vê sinais de esperança onde nós só vemos catástrofes e pessimismo. No meio de tantas necessidades, surgem as boas notícias de muitos cristãos que se disponibilizam a apoiar os mais pobres. De muitas instâncias da sociedade que procuram estratégias e mobilizam recursos para erradicar a pobreza.
O Dia mundial dos pobres, instituído pelo Papa Francisco, procura ser um destes sinais, apelando à generosidade, ao amor e à solidariedade. “A solidariedade social e a generosidade de que muitos, graças a Deus, são capazes, juntamente com projetos clarividentes de promoção humana, estão a dar e darão um contributo muito importante nesta conjuntura”, escreve o Papa Francisco na mensagem para este dia. Esta jornada serve para centrarmos o nosso pensamento e oração nos mais desprotegidos e vulneráveis da comunidade, e é um convite a aumentar a sensibilidade para compreender as necessidades dos pobres, encontrando-os onde eles estão, com momentos de oração e comunhão.
E se olhamos a dimensão social também podemos encontrar as mesmas preocupações em relação à vida da Igreja. Alguns vêem-na como estando numa situação dolorosa, que apenas anuncia o seu fim. Mas a verdade é que temos de compreender e enfrentar estes momentos difíceis que vivemos e que talvez apontem para uma nova forma de ser Igreja. Também aqui temos de saber ler a parábola da figueira. E mais uma vez o Papa Francisco a desafiar-nos ao convocar um Sínodo para refletir sobre a comunhão, participação e missão da Igreja, num caminho sinodal. O Papa não apenas convocou os bispos, mas também os milhões de católicos para trabalharem juntos.
O Papa Francisco sabe que os desafios que a Igreja enfrenta são tão preocupantes que propõe ações surpreendentes e arriscadas, em vista de uma renovação. Será que estamos preparados para este desafio? Certamente que muitos se perguntam acerca do que resultará deste trabalho, mas uma coisa é certa, o Papa sabe que é preciso fazer algo diferente. Não é possível continuar a fazer tudo como até agora!
A Liturgia deste domingo brinda-nos com o convite à renovação e indica-nos como viver cada dia: “Olhai, estai alerta, os sinais estão aí, basta reconhecê-los”. É nestas situações que a Palavra de Deus nos mostra o caminho da fé, da esperança, num Deus que “não nos abandona”, um Deus que devemos ter presente e em quem podemos confiar.