Será que o bem é sempre bem? Esta é uma pergunta que, à primeira vista, parece absurda e sem sentido, pois a resposta é óbvia… Ou será que não? A Palavra de Deus deste domingo ajuda-nos a perceber que a resposta a esta pergunta é um pouco mais complexa…
Domingo XXVI do Tempo Comum
Será que o bem é sempre bem? Esta é uma pergunta que, à primeira vista, parece absurda e sem sentido, pois a resposta é óbvia… Ou será que não? A Palavra de Deus deste domingo ajuda-nos a perceber que a resposta a esta pergunta é um pouco mais complexa…
Na 1ª leitura escutamos Josué que vai interceder junto de Moisés para que proíba Eldad e Medad de profetizar porque não estiveram na tenda da reunião aquando da partilha do Espírito. Josué julga proceder corretamente ao denunciar uma «irregularidade» que pode afetar o bem da comunidade. Ele quer que o bem recebido – o dom da profecia – seja apenas propriedade de um grupo restrito. Este é o seu erro: limitar o bem recebido a um grupo fechado, colocar-lhe fronteiras, torná-lo um bem exclusivo… Um bem, entendido desta forma, cria ciúmes, invejas e divisão. Moisés desmascara e corrige Josué com a sua resposta: “tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta…”
Na 2ª leitura, por sua vez, São Tiago fala-nos dos ricos. Estes, têm um mal grave: querem o bem, mas apenas para si mesmos. Não estão dispostos a partilhá-lo com mais ninguém e, pior do que isso, tiram-no e roubam-no aos outros. Quando se trata de riqueza e de bens materiais, procurar o seu próprio bem pode ser impeditivo do bem dos outros ao criar injustiças e desigualdades. É isto mesmo que São Tiago denuncia de forma veemente “O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar a vossa carne como fogo”.
No Evangelho, João encarna o papel de Josué na 1ª leitura. Ele quer proibir quem não é do grupo dos discípulos (os que andam com Jesus) de expulsar demónios em nome de Jesus. João também quer o bem… Mas quer colocar-lhe fronteiras, limitá-lo e torná-lo exclusivo do grupo dos discípulos. Esta atitude é sinal de arrogância, sectarismo, intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez e acarreta a pretensão de monopolizar Jesus e a presunção de serem os donos exclusivos do bem e da verdade... A resposta de Jesus não se faz esperar: “Não o proibais (…) Quem não é contra nós é por nós”. O bem que divide e exclui nunca é bem. Só é bem quando conduz à comunhão e à fraternidade.
Assim, a Palavra de Deus deste Domingo mostra-nos que o bem não tem fronteiras e não é propriedade de ninguém. Por isso, a Igreja é chamada a ser uma comunidade aberta, acolhedora, tolerante, capaz de aceitar como sinais de Deus os gestos libertadores que acontecem no mundo, independentemente da confissão religiosa ou ausência dela. Só desta forma podemos compreender porque é que um simples copo de água dado com amor não ficará sem recompensa. E, por sua vez, a procura do bem sem fronteiras e sem dono ajuda-nos a compreender a exigência extrema de cortar a mão, o pé ou arrancar algum dos olhos se forem causa de escândalo. São um bem em si, mas, se não prestarmos atenção, podem gerar más ações, levar-nos por maus caminhos e entregar-nos a desejos desordenados.
Comprometamo-nos com o bem… o bem sem fronteiras, sem pretensos donos, fruto de gestos simples como a oferta de um copo de água e de um testemunho digno, com as mãos, os pés, os olhos e o coração sempre dispostos a fazer o bem. Tal como Jesus!