Os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos, e os critérios de Deus não são os nossos critérios. É muito importante que cada um de nós seja confrontado com o perfil de Jesus: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir”.
Domingo XXIX do Tempo Comum
Irmãos caríssimos,
Em pleno decurso do mês missionário, e a uma semana do dia mundial das missões, a Palavra de Deus vem instruir-nos sobre a alegria de estar ao serviço. O versículo do Aleluia interpela a nossa meditação quando canta: “O Filho do homem veio para servir e dar a vida pela redenção de todos”. Os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos, e os critérios de Deus não são os nossos critérios. É muito importante que cada um de nós seja confrontado com o perfil de Jesus: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir”. É neste confronto que surge a indignação entre os discípulos de Jesus perante a tentação do carreirismo por parte do Tiago e do João. Pelo contexto da narrativa, o pedido de ficarem sentados ao lado do Senhor, tem mais em vista as glórias deste mundo do que a glória do Céu. Mas os critérios do Céu não são os critérios do mundo. O compadrio, o favoritismo, a corrupção, o tráfico de influências, a ganância pelo poder, o prestígio interesseiro e a vanglória não são compatíveis com os critérios da glória futura.
À luz do mistério da fé, para compreendermos a perspetiva do Filho de Deus é necessário meditar na citação da segunda leitura: “Permaneçamos firmes na profissão da nossa fé”. Quando a generosidade do serviço acontece à luz da identidade crente, então os critérios humanos ganham uma nova sabedoria: estar ao serviço constitui um dom, um carisma, uma verdadeira vocação. Quem corre por gosto não cansa; quem serve com carisma vive o serviço com alegria e louva a Deus sem reservas. O perfil e a postura de quem está vocacionado para servir passam, em grande medida, pelas virtudes descritas por São Vicente de Paulo: simplicidade, humildade, mansidão, mortificação e zelo apostólico. Ou seja, não há um verdadeiro espírito de serviço quando não há uma fecunda espiritualidade na alma de quem serve.
À luz do mistério de Cristo a generosidade de quem está para servir vai até às últimas consequências: o Filho do homem veio para dar a vida pela redenção de todos. Isto significa que, na sua radicalidade, servir é dar a vida. Se isto nos parece demasiado meditemos no inciso da primeira leitura onde se diz: “Aprouve ao Senhor esmagar o seu servo pelo sofrimento”. Meditemos também no testemunho daqueles que o seguiram, os apóstolos, os mártires, os santos, e tantos outros que ao longo dos tempos, e ainda hoje, testemunham com generosidade a alegria do Evangelho. Quem serve não está só, pode sempre contar com o conforto da palavra de Deus: “Vamos, portanto, cheios de confiança ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obteremos a graça de um auxílio oportuno”.
Quem serve deste modo está na comunidade dos crentes. À luz do mistério da Igreja o espírito de serviço acontece na comunhão, na humildade e no desprendimento. Quem quer ser grande deverá ser servo, quem quer ser o primeiro deverá ser o último. Quem serve na comunidade eclesial sabe que a missão da Igreja não se acrescenta à de Cristo e do Espírito Santo, mas é o sacramento dela (CIC 737). Deste modo, quem é chamado a servir não está só: é membro de um corpo, que é a Igreja, sacramento de salvação para o mundo. Quem serve com alegria tem do seu lado um auxílio oportuno: o Espírito Santo, que Cristo-cabeça derrama sobre os seus membros, constrói, anima e santifica a Igreja. Ela é o sacramento da comunhão da Santíssima Trindade com os homens (CIC 747).
Este ensinamento da Palavra de Deus converge na celebração do Mês Missionário e prepara o Dia Mundial das Missões na medida em que nos interpela para o sentido missionário da nossa identidade de batizados e para a dimensão de serviço implícita nessa identidade. Com efeito, ser missionário é estar ao serviço do anúncio da alegria do Evangelho: “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13). Interpelados pela mensagem do Papa Francisco somos levados a compreender que a vocação missionária não surge da superficialidade das aspirações pessoais mas do imperativo espiritual de quem experimentou as maravilhas de Deus: “Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos” (At 4, 20). Quando experimentámos a força do amor de Deus, as motivações que nos levam a estar ao serviço ganham uma nova alegria. Com a intercessão de Maria, Rainha das Missões, vamos ter presente na nossa oração a obra missionária da Igreja. Que o Senhor nos dê muitos e santos missionários. Amen.