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Lições bíblicas

Jesus e o seu evangelho já não se apresenta como repetição da história (não é o Elias, não é João Batista, não é nenhum dos profetas antigos), mas como desfecho da mesma história com a concretização da esperança: “Tu és o Messias”.

Domingo XXIV do Tempo Comum

Parece estar inscrito no coração do homem o desejo, mais ainda, a ânsia de libertação dos males que o afligem e que o impedem de ser feliz, e de se ultrapassar e de romper a barreira dos seus limites..

Obviamente que ao alimentar esta esperança aparece sempre no horizonte, mais ou menos próximo, de uma maneira clara ou difusa, alguém que o ajude, que lhe deite a mão e o arranque a esta situação de carência. A isto se chama esperança messiânica ou messianismo.

Na história bíblica, esta esperança tomou várias formas ou expressões, conforme as situações vividas: umas vezes era um rei israelita, da descendência de David, mas também não havia pejo que fosse alguém de fora, desde que nele se manifestasse a força salvadora de Deus, como no caso do rei persa, Ciro, a quem o profeta chama “Ungido do Senhor” e que tem como missão libertar o povo de uma situação de opressão.

Todavia, as frustrações e as esperanças defraudadas por estes personagens, naturalmente humanos, e também limitados, fizeram com que se alicerçasse esta esperança, este desejo em fundamentos mais sólidos e consistentes.

I. Assim, aparece-nos, em Isaías, na 1ª leitura, a figura misteriosa do “Servo sofredor”, protótipo da condição humana sofredora, carregando sobre si toda a miséria humana, mas também com a missão de a salvar porque portador de uma força que lhe vem de Deus.
Desta leitura e do personagem que a preenche, destaco atitudes inspiradoras para o quotidiano da vida do cristão:
1. Não desistir perante as dificuldades da vida: “não desviei o rosto dos que me insultavam”, “não recuei um passo”;
2. Não fugir ao fugir ao confronto de ideias;
3. A certeza de que não estamos sozinhos porque o Senhor está connosco: “O Senhor vem em meu auxilio” (2 vezes);
4. Por isso mesmo a convicção firme de que sairemos vitoriosos, porque a causa não é nossa mas de Deus.

II. À medida que o tempo vai decorrendo, esta esperança não se dilui, mas torna-se mais forte e mais espiritual. Já não é a libertação política, social e económica, mas muito mais abrangente, a começar pelo interior do homem, na área misteriosa do seu coração.

Assim, Jesus e o seu evangelho já não se apresenta como repetição da história (não é o Elias, não é João Batista, não é nenhum dos profetas antigos), mas como desfecho da mesma história com a concretização da esperança: “Tu és o Messias”.

A isto não se chega por aquilo que se ouve dizer (quem dizem os homens que eu sou…), mas pelo encontro pessoal com o Senhor… (e vós quem dizeis que eu sou?)
Mas o crescimento na fé não é um processo acabado…Pode acontecer que à mais pequena contrariedade, ou diante das dificuldades em entrarmos nos desígnios insondáveis de Deus, manifestemos a nossa pouca maturidade na fé. “Isso não te pode acontecer”. Como quem diz: não é isso que eu quero que aconteça, isso não dá jeito, não é esse o meu sonho e o meu projecto.

Perante esta intervenção de Pedro, destaco a atitude de Jesus em duas vertentes:
1. Uma de censura a Pedro, chamando-lhe “Satanás”: aquele que pelas suas atitudes ou má compreensão ou por uma visão muito egoísta, mesmo das coisas de Deus, impede ou é obstáculo à realização dos seus desígnios.
2. Uma outra atitude, pedagógica para com a multidão, falando-lhe do mesmo mistério da sua morte e ressurreição: “Se o grão de trigo não morrer fica só, mas se morrer dará muito fruto”, “Quem quiser salvar a vida, perdê-la-á; mas quem a perder, por causa de mim e do Evangelho, salvá-la-á.
3. Perante o “baquear” de Pedro, é preciso reafirmar os novos valores capazes de ajudar a humanidade a recuperar a dignidade: a capacidade de se dar, de se gastar, até morrer, por amor. Jesus Cristo realiza tudo isto em Si. Por isso, dizemos que é o homem novo, o modelo, protótipo da nova humanidade… e cada um de nós, será novo de vida, em comunhão com Ele.

III. A segunda leitura, tal como no domingo anterior, escrita com a Comunidade cristã já em “andamento”, concretiza, para os primeiros cristãos, esta “novidade” de vida, vivida por Jesus e transmitida aos seus discípulos, agora, pelo Batismo. É a preocupação transversal a toda a carta de S. Tiago
A fé em Jesus Cristo não é uma teoria; não são palavras bonitas, eventualmente carregadas de uma “unção melíflua”. A fé é novidade laboriosa, manifestada na pessoa do crente e na sua ação.
Se ela não chega à ação é porque a semente estiolou, estragou-se, não deu fruto. S. Tiago diz com toda a frontalidade “está completamente morta”. Responde àqueles que dizem, hoje também, para se defenderem da sua falta de compromisso cristão: “eu cá tenho a minha fé”. Não tens fé nenhuma, ela está morta. E num desafio final: “mostra-me a tua fé sem obras, que eu te mostrarei a minha fé, pelas obras”.

Tal como nos grandes projetos políticos e sociais, também no âmbito da vida cristã, a grande dificuldade está sempre na concretização: teorizar é fácil, concretizar é mais difícil.

Tudo depende da força que nos anima. A nós cristãos é a força viva da fé. E quando ela é autêntica, nada e ninguém lhe resiste. Só o egoísmo.

Pe. José Alves, CM
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