A narrativa do Evangelho interrompe a sequência de S. Marcos, própria do Ano B, para incluir o capítulo VI de S. João, durante cinco domingos, sobre o Pão da Vida, começando hoje pela multiplicação dos pães, relatada pelos 4 evangelistas.
Domingo XVII do Tempo Comum
Nos textos litúrgicos deste domingo (2Rs 4,42-44; Sl 144; Ef 4,1-6; e Jo 6,1-15) destaca-se o tema do pão da vida e do convite a partilhá-lo com todos aqueles que têm "fome".
Na primeira leitura, o profeta Eliseu ordena ao homem que lhe entregara “20 pães de cevada e trigo novo” que os desse a comer a cem pessoas. E perante a perplexidade do homem, o profeta insiste: “dá-os a comer a essa gente, porque assim fala o Senhor: “comerão e ainda há- de sobrar”. E, efetivamente, comeram e ainda sobrou.
O Salmo repete: “Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome!”.
Na segunda leitura, o apóstolo Paulo, estando na prisão, recomenda uma vida digna da vocação que recebemos. na “humildade, mansidão, paciência e caridade”, em união de espírito e ambiente de paz.
A narrativa do Evangelho interrompe a sequência de S. Marcos, própria do Ano B, para incluir o capítulo VI de S. João, durante cinco domingos, sobre o Pão da Vida, começando hoje pela multiplicação dos pães, relatada pelos 4 evangelistas.
Percebemos a preocupação de Jesus em alimentar a fome da multidão que o seguia, dada a dificuldade de encontrar comida naquele local, na quantidade necessária, Ele mesmo provoca os discípulos para se encontrar uma solução. E, assim, André, descobre “um rapazito que tinha cinco pães de cevada e dois peixes”, à primeira vista, insuficientes para tanta gente. Aqui entra Jesus em ação, envolvendo os discípulos, para “mandar sentar aquela gente”, em “número de uns cinco mil” e, organizadamente, “tomar os pães e os peixes, dar graças e distribuí-los”, de modo que “comeram quanto quiseram”. Após a refeição, Ele manda ainda “recolher os bocados que sobraram, para que nada se perca”, alertando contra a prática do desperdício e do descarte. A reação do povo é de O reconhecerem como “o Profeta que estava para vir ao mundo” e de o quererem fazer rei”. Mas Jesus “retira-se novamente sozinho para o monte”, até porque nem fazem ideia de que tipo é a sua realeza messiânica.
Era difícil para a multidão entender os sinais de cura e agora este da multiplicação dos pães. Na altura da Páscoa, a distribuição dos pães e dos peixes antecipava a entrega pascal de Jesus. A Sua ação de graças remete-nos para a Eucaristia, “o Pão do céu”. Nela celebramos a gratuidade do dom de Deus aos homens e a nossa gratidão ao Senhor da vida.
Ainda hoje deparamos com desafios semelhantes, quando como discípulos continuadores da missão de Jesus, olhamos com os seus sentimentos de compaixão e o seu amor efetivo as multidões famintas de pão material e de todo o alimento necessário para viverem com dignidade como filhos de Deus.
Somos especialmente interpelados pela fome que, nos nossos dias, mata milhões de pessoas em dezenas de países, mesmo se a comida produzida na terra é suficiente para cada pessoa receber as 3 mil calorias necessárias. Organizações mundiais como a FAO, o FAM ou a Oxfam têm atualizado os dados perturbadores deste flagelo.
No relatório de 08/07/21, a Oxfam diz-nos que 11 pessoas morrem de fome a cada minuto e que o seu número em todo o mundo aumentou seis vezes no último ano. O mesmo relatório mostra que o número de mortes causadas pela fome supera o da pandemia Covid-19, que mata cerca de sete pessoas por minuto. As estatísticas são impressionantes, mas devemos lembrar que esses números são compostos por pessoas que enfrentam sofrimentos inimagináveis.
Perante tal cenário e à luz da Palavra escutada, que caminho seguir? O Senhor e os seus fiéis discípulos do passado e dos nossos tempos, apontam-nos o rumo, na linha da mensagem fundamental do Evangelho: a da partilha em favor dos irmãos necessitados.
Quantas pessoas dizem: “Gostaria de ajudar, mas não tenho experiência neste domínio. Muitas outras pessoas podem fazer isso melhor que eu”. Muitos, sob pretexto de que não têm formação, conhecimento, meios financeiros, não fazem nada. Jesus diz-nos: “trazei os vossos cinco pães de cevada e os vossos dois peixes e vereis o que se pode fazer”.
Perante as necessidades, não podemos resolver os problemas sozinhos. Mas com Deus e com os outros, podemos mudar as situações. O Senhor tem necessidade da nossa colaboração, por mais pequena que seja. Deus não faz milagres a partir do nada, mas a partir dos cinco pequenos pães de cevada e dos dois peixes. Quer contar com os pães que um homem generoso entregou ao profeta Eliseu e este partilhou com cem pessoas e com o farnel do rapazito do Evangelho, distribuídos pela multidão.
Mais que nunca, Deus quer contar com gente como Vicente de Paulo, Frederico Ozanam, Madre Teresa de Calcutá, grupos solidários como a Cáritas, a Cruz Vermelha, a Ajuda à Igreja que Sofre, a Unicef, as Manos Unidas, voluntários que visitam os doentes, os idosos, os presos, os que trabalham com os deslocados e refugiados, os que partilham os seus bens e reúnem fundos para ajudar as vítimas das catástrofes naturais e das guerras de toda a espécie. Juntos poderemos encontrar soluções para os graves problemas do nosso mundo. Não esqueçamos: o pão repartido multiplica-se, e o mesmo se passa com os outros bens materiais e espirituais: dinheiro, cultura, a fé, a esperança, o amor.
O Papa Francisco, na proximidade da memória litúrgica dos pais de Nossa Senhora, avós de Jesus (26/07), marcou para o 4º domingo de Julho o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, com uma bela mensagem em que nos ajuda a entender que todos, jovens e idosos, avós e netos, pertencendo à mesma família ou não, somos “um só corpo e um só espírito, como uma só é a esperança à qual fomos chamados” (2ª leitura de hoje).
Que onde quer que estejamos, olhemos e cuidemos dos avós e dos mais velhos, seguindo o apelo do Papa para o encontro de gerações: “O futuro do mundo está na aliança entre os jovens e os mais velhos! Quem senão os jovens pode agarrar os sonhos dos idosos e levá-los por diante?”