Esta é a grande novidade do cristianismo. Em Cristo, formamos um só corpo. Ele consubstancia um novo modo de agir. Por Ele são desconstruídas as culturas que justificam desequilíbrios sociais, promovem a injustiça, favorecem a corrupção, exploram recursos, como se o amanhã fosse um problema para outros resolverem.
Domingo XVI do Tempo Comum
«Cristo é a nossa paz»
Um simples funcionário de uma grande cadeia de hotéis dizia-me, com pesar, que um dos hóspedes, um dos multimilionários que se instalara no hotel, era rude e desprezava os trabalhadores. Considerava-se de uma casta superior e não admitia ser tocado pela sombra de um assalariado a não ser, de modo transitório e, com vantagens. Era um homem barrigudo, cinzento, de dentes amarelos e pernas arqueadas, que se cobria de apetrechos de ouro, vestia roupas caras e só entrava em carros confortáveis e rápidos.
A figura fazia lembrar o rei da história do principezinho. Não era capaz de compreender como estava contaminado por um espírito que o desumanizara. O excesso de bens, a riqueza não partilhada, tornara-se um mal. Na verdade, ela é uma manhosa armadilha. Como se fosse uma nuvem tóxica, ela costuma multiplicar as vítimas que, por sua vez, aparentemente muito felizes, estão condenadas a semear a infelicidade à sua volta. Ela tem o poder de transformar irmãos em inimigos de morte. Salvo raras exceções, assim é a tragédia inevitável da riqueza.
Diga-se que os senhores deste mundo, presas fáceis desta ilusão, vivem em permanente estado de guerra. Ainda assim, não faltam candidatos que desejem este estatuto. Vêem-se ao longe, tais senhores nos tristes programas de televisão ou nas redes sociais.
Diga-se ainda, que esta condição de vida em nada se assemelha ao perfil de um bom discípulo de Jesus. Aquele que foi formado na escola do profeta da Galileia sabe que Ele é a causa da nossa paz. Graças a Ele, foi derrubado o muro que nos separava. Com Ele, por Ele, n’Ele, aproximamo-nos definitivamente de Deus e tornamo-nos membros de uma única família. Somos servos uns dos outros, sem perdermos a dignidade de filhos amados, de irmãos únicos e especiais. Empobrecemo-nos para constantemente sermos enriquecidos pelos bens que Ele nos oferece. E não desistimos de repetir que «Ele é a nossa paz».
Esta é a grande novidade do cristianismo. Em Cristo, formamos um só corpo. Ele consubstancia um novo modo de agir. Por Ele são desconstruídas as culturas que justificam desequilíbrios sociais, promovem a injustiça, favorecem a corrupção, exploram recursos, como se o amanhã fosse um problema para outros resolverem.
Hoje somos os novos enviados (os apóstolos) que, movidos pela compaixão, como o mestre fez outrora, assumimos como prioridade a promoção de uma cultura que reflita a natureza do reino de Deus. Essa nova realidade, este reino, começa na nossa família, na nossa comunidade, eclesial e laboral.