
A Palavra de Deus leva-me a concluir que é importante cuidar do sentido missionário do batismo. A exemplo dos discípulos, a escuta, o envio e a liberdade são sinais importantes para saber discernir sobre como me aproximar de alguém e com ele caminhar, fazer a experiência da cura, do acolhimento, da caridade, da comunhão...
Domingo XV do Tempo Comum
A Palavra de Deus deste Domingo XV do Tempo Comum convida-nos a dar mais uns passos no caminho com Jesus e os seus discípulos em direção a Jerusalém. Depois de meditarmos na semana passada no episódio do regresso de Jesus à sua terra (Mc 6, 1-6) e da famosa expressão «um profeta só é desprezado na sua terra» (Mc 6, 4), eis que o Evangelho deste Domingo (Mc 6, 7-13) nos coloca diante do «chamamento» e «envio» dos discípulos em missão.
Ultrapassada a experiência de aparente fracasso (não ser aceite na sua terra), Jesus faz-se de novo à estrada e apresenta aos discípulos a missão que lhes tem reservada. Uma experiência que S. Paulo, na segunda leitura deste Domingo (Ef 1, 3-14), resume desta forma: Deus que nos abençoou, chamou-nos para sermos santos e irrepreensíveis em caridade, a fim de sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, que nos deu a conhecer o mistério da sua vontade… Esta profissão de fé ajuda-nos a identificar mais claramente algumas caraterísticas da missão dos discípulos que, também nós, pelo batismo que recebemos, nos tornamos participantes:
A primeira caraterística, e mais fundamental, é que a iniciativa é de Jesus. É Ele que chama os discípulos e os envia. No meio de tanto ruido em que vivemos e, ao mesmo tempo, sem grande disponibilidade para parar e contemplar, reconheço que é preciso voltar a descobrir fé como experiência ligada à escuta, à resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama por nome (Encíclica Lumen Fidei, 8).
A segunda caraterística é, necessariamente, consequência da escuta. Os discípulos ouvem aquilo que Jesus tem para lhes oferecer: um poder capaz de libertar as pessoas do mal. Não consigo dissociar esta experiência do pedido do Papa Francisco à Igreja para cuidar o “pós-pandemia”: «pedir ao Senhor que nos conceda um olhar atento aos irmãos e irmãs, especialmente aos que sofrem. Como discípulos de Jesus, não queremos ser indiferentes ou individualistas. São estas as duas atitudes negativas contra a harmonia. Indiferente: olho para o outro lado. Individualista: considerar apenas o próprio interesse» (Audiência geral, 12 de agosto, 2020).
Por fim, a terceira caraterística sublinha o comportamento que os discípulos são chamados a viver: «nada leveis para o caminho» (Mc 6, 8). Acredito que Jesus, com estas palavras, convida os discípulos a uma missão que assenta na liberdade e, por isso, desprendida de pesos ou de barreiras que impeçam a revelação da presença de Deus e, consequentemente, do essencial, que experimentaram: pregar, expulsar os demónios, ungir e curar os doentes… Num tempo em que somos confrontados com excesso de informação e de múltiplas ofertas, este envio de Jesus recorda-nos a importância de saber em que colocamos a nossa confiança, em quem nos apoiamos para não cair.
Este olhar sobre a Palavra de Deus leva-me a concluir que é importante cuidar do sentido missionário do batismo. A exemplo dos discípulos, a escuta, o envio e a liberdade são sinais importantes para saber discernir sobre como me aproximar de alguém e com ele caminhar, fazer a experiência da cura, do acolhimento, da caridade, da comunhão...
S. Bento, cuja festa celebramos neste dia, é um bom exemplo de discípulo missionário. Este patrono da Europa e fundador dos monges beneditinos, demonstra-nos através da regra de vida que deixou aos monges que a escuta de Deus, a vida comunitária e a hospitalidade, por exemplo, que a resposta ao chamamento de Jesus passa sempre por fazer de cada encontro com o ser humano, um encontro com Deus. E como é urgente, também, hoje, descobrir que a nova normalidade para a Igreja é um caminho em nome de Jesus, capaz de “fazer novas todas as coisas”.
