O Reino de Deus requer a nossa colaboração, mas é sobretudo iniciativa e dom do Senhor. A nossa obra frágil, aparentemente pequenina face aos problemas do mundo, se for inserida na de Deus não receia as dificuldades.
Domingo XI do Tempo Comum
No Evangelho deste domingo Jesus conta-nos duas parábolas muito breves: a da semente que germina e cresce sozinha, e a do grão de mostarda que humilde e lentamente se torna a mais frondosa das árvores. Tal como a primeira leitura e o salmo, ambas as parábolas ensinam-nos, em primeiro lugar, a contemplar e a admirar a beleza da criação, que nos foi confiada por Deus e que temos o dever de respeitar e proteger. É o próprio Papa Francisco que nos recorda este convite e ensinamento na encíclica Laudato Si:
“O Senhor convidava os outros a estar atentos à beleza que existe no mundo, porque Ele próprio vivia em contacto permanente com a natureza e prestava-lhe uma atenção cheia de carinho e admiração. Quando percorria os quatro cantos da sua terra, detinha-Se a contemplar a beleza semeada pelo seu Pai e convidava os discípulos a vislumbrarem nas coisas uma mensagem divina: «Levantai os olhos e vede os campos que estão doirados para a ceifa» (Jo 4, 35). «O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. É a menor de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore»” (Mt 13, 31-32).
Na linguagem evangélica, a semente é símbolo da Palavra de Deus, cuja fecundidade é recordada por ambas as parábolas. Na primeira parábola a atenção é dada ao facto de que a semente, lançada na terra, germina e cresce sozinha, quer o semeador durma quer vigie. E do mesmo modo que a semente se desenvolve na terra, também a Palavra age com o poder de Deus no coração de quem a ouve. Deus confiou a sua Palavra à nossa terra, ou seja, a cada um de nós, mas é a Palavra de Deus que faz crescer, que dá vida. Tudo isto faz compreender que é sempre Deus e a sua Palavra quem faz crescer o seu Reino — por isso rezamos no Pai Nosso «venha a nós o vosso Reino». O homem é apenas o seu humilde colaborador, que contempla e rejubila pela criadora ação divina e aguarda paciente os seus frutos. A segunda parábola, do grão de mostarda, reforça esta ideia: apesar de ser a mais pequenina de todas as sementes, está cheia de vida e cresce até se tornar «a planta mais frondosa do horto» (Mc 4, 32). É assim o Reino de Deus: uma realidade humanamente pequena e de aparência irrelevante. Para fazer parte dele é preciso ser pobre de coração e não confiar nas próprias capacidades, mas no poder do amor de Deus.
De tudo isto devemos guardar um segundo ensinamento: o Reino de Deus requer a nossa colaboração, mas é sobretudo iniciativa e dom do Senhor. A nossa obra frágil, aparentemente pequenina face aos problemas do mundo, se for inserida na de Deus não receia as dificuldades.
Através destas parábolas Jesus apresenta a eficácia da Palavra de Deus e as exigências do seu Reino, mostrando as razões da esperança cristã de quem, como diz São Paulo na segunda leitura, vive exilado na fragilidade do corpo, mas confiante de que, pela fé, habitará junto do Senhor.
Deixemos a semente da Palavra fecundar o íntimo do nosso coração e criar em nós o Homem novo cheio da vida interior, capaz de construir o Reino de Deus. E isto é necessário porque, como diz São Vicente de Paulo numa conferência sobre «a busca do Reino de Deus» “A vida interior é necessária, devemos cuidar dela, porque se nos falta, falta-nos tudo”. É, pois, no interior do Homem, no seu coração, que a palavra de Deus gera verdadeira vida.
Como compromisso com o Reino de Deus que cada cristão deve assumir, alimentemo-nos da leitura constante da Palavra de Deus, contemplemos e protejamos a beleza da criação, confiemos na iniciativa e no poder de Deus presente na semente que nasce independentemente da nossa ação, e fortaleçamos a nossa vida interior porque sem ela «falta-nos tudo»!