XXXI Domingo do Tempo Comum - Solenidade de Todos os Santos
«Todos somos chamados à santidade». É este o convite deste Domingo, 01.11, Solenidade de Todos os Santos. Para aprofundar este convite, contamos com a reflexão do Pe. Pedro Guimarães que, centrando-se nas Bem-aventuranças que o Evangelho nos apresenta, nos convida a "deixar passar a luz".
A celebração da Solenidade de Todos os Santos traz-me à memória uma história que julgo ser interessante para nos ajudar a meditar na identidade fundamental deste dia, no meio da complexidade do tempo atual. A história é a seguinte:
«Mais um final de dia e a avó já está à porta da escola, à espera do Miguel, seu neto… toca a campainha, abrem-se as portas e lá vem ele, correndo. No caminho para casa, a avó gosta de fazer uma visita à igreja que fica entre a escola e a sua casa. Entra e, umas vezes sentada outras de joelhos, reza. Por seu lado, o Miguel, na sua tenra idade, sentado, vai contemplando o espaço onde se encontra: grande, um pouco escuro, umas janelas com uns vitrais por onde entram os raios de sol… Um dia, dois dias, uma semana… até que um dia, pergunta: avó, quem é que está naquelas janelas? Responde a avó: são santos! Alguns dias mais tarde, aproximando-se o dia de Todos os Santos, a professora, na sala de aulas, pergunta aos alunos: alguém sabe o que é um Santo? Imediatamente o Miguel levanta o braço e responde: o santo é aquele que deixa entrar a luz!»
Que «luz» é esta e de que forma a podemos «deixar entrar», sobretudo, neste tempo de pandemia?
Esta «luz» é o chamamento de Deus a quem respondemos «sim», assumindo o caminho de Jesus para a nossa vida. Um «sim» visível ao longo da história da Igreja, através do exemplo de tantos homens e mulheres que, no meio das suas forças e fraquezas, descobriram que a sua vida só em Jesus tem sentido. Neste encontro com Ele, constataram que a vida é uma experiência de plenitude que um dia viveriam totalmente no céu. Por isso, quando conhecemos os santos e celebramos o seu dia, estamos a reconhecer que também nós podemos ser iluminados por Deus e, assim, nos tornarmos peregrinos do seu Amor, experimentando, como eles, uma vida em Deus e para Deus (1Jo 3, 1-3). Penso, concretamente em S. Vicente de Paulo, fundador dos Padres Vicentinos, e no seu caminho em que, procurando viver com luz própria, se encontra com um doente e descobre que Deus o chama a algo mais do que apenas viver para si mesmo: a viver o seu amor com os mais pobres e abandonados.
Na realidade, S. Vicente de Paulo e cada um desses homens e mulheres – que também hoje reconhecemos à nossa porta – souberam colocar em prática a Palavra de Deus que ouvimos no Evangelho deste dia: as bem-aventuranças (Mt 5, 1-12)! O seu testemunho ensina-nos a encontrar «as coordenadas» para a vida plena: bem-aventurados os pobres em espírito, os humildes, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que sofrem perseguição por amor da justiça, os que, por causa de Jesus, forem insultados, perseguidos e, mentindo, disserem todo o mal contra eles, porque é grande nos céus a sua recompensa.
Cada uma destas coordenadas representam, assim, não só o convite a ver o mundo com os olhos do «discípulo de Jesus», mas também a incarná-las, revelando, deste modo, quem somos, com quem estamos e para onde vamos. É urgente redescobrir este caminho de santidade! Num tempo em que a sociedade parece querer viver sem passado e com medo do futuro, esta Solenidade de Todos os Santos interpela-nos a redescobrir a comunidade, como experiência de fraternidade: não vivemos para nós mesmos, mas para tecer relações que iluminem a nossa e a vida dos outros, descobrindo que só criados e amados por Deus, podemos fazer da terra, uma peregrinação para o céu.
Que esta Solenidade, que também antecede o dia dos fiéis defuntos e marca o início da semana de oração pelos seminários em Portugal, nos faça descobrir nas bem-aventuranças a nossa vocação, como caminho de santidade … minha e do meu irmão.