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XXVII Domingo do Tempo Comum

No Domingo em que Jesus nos convida a meditar na sua palavra a partir da parábola da vinha que o proprietário arrendou a vinhateiros, é a vez de o fazermos com a "companhia" do D. Augusto César.

O profeta Isaías olha para o procedimento do povo e sente a tristeza dum pai que vê os seus filhos desviarem-se das orientações que lhes dá. Com efeito, como profeta de Deus, Isaías sente as inspirações do céu e procura transmiti-las com zelo e sempre à conta da responsabilidade. Mas os guias do povo deixam-se levar mais pelos gostos e caprichos da moda, do que pelo bem do mesmo povo. E, assim, o profeta sente de narrar uma ‘parábola’ com sinais positivos e negativos, que deixem ver, a cada um, o que é preciso praticar ou evitar.

E qual é o conteúdo da parábola? Fala duma vinha plantada com brio e tratada com esmero, a ponto de prometer um fruto abundante. Simplesmente, o fruto não chegou a aparecer e o dono decepcionado, desprezou a vinha e ela acabou num montão de ruínas. Será assim o que acontece, hoje, com a pandemia do tempo? Pelo menos, faz reflectir no seguinte: quando se ouve falar do aborto e da eutanásia, com uma linguagem despretenciosa ou mesmo banal, parece querer afirmar-se que Deus não existe ou, então, não ouve nem vê. E, assim, a natureza encarrega-se de responder em voz alta, deixando as pessoas inquietas e o ambiente perturbado.

E, tudo isto, o que sugere? O mesmo que S. Paulo diz aos Filipenses - e a nós também: ‘apresentai os vossos pedidos a Deus, mediante a oração, e dai-Lhe graças, também, pelo dom da paz’. E acrescenta: ‘a paz de Deus guardará os vossos corações e os vossos pensamentos, em Jesus Cristo’.
Então, bastará pedir, simplesmente, e sem qualquer esforço? Não, decerto; pois, a liberdade com que Deus nos dotou, também nos torna responsáveis diante d’Ele e colaboradores uns dos outros. E sendo assim, há que procurar abrir caminho através do que é ‘verdadeiro e justo… virtuoso e de boa fama’. Pois, doutro modo, não chegamos a saborear a paz de Deus nem a confiança que Ele nos inspira, ao longo do caminho.
O Apóstolo Paulo, depois da revelação que teve, quando se dirigia à cidade de Damasco, optou decididamente por estas duas atitudes: imitar a Jesus Cristo, com humilde confiança e todo o empenho… e praticar a fraternidade entre todos, olhando a cada um, como verdadeiro irmão. E, a partir daí, tornou-se um autêntico modelo de vida cristã, caminhando com fé e ajudando a caminhar.

Ora, isto mesmo nos pede a Igreja, mormente, quando a sociedade se organiza, à conta do dinheiro… e a moda prefere a autonomia, em vez da fraternidade. E, então, é preciso discernimento e atenção ao fundamental. Pois, como diz o Papa francisco: ‘não é o dinheiro nem a autonomia que constroem uma sociedade fraterna… mas, antes, o gosto de solidariedade e o propósito de colaboração’. E S. Paulo ensina-nos a dizer, através do seu exemplo e depois de colocar Jesus Cristo no horizonte da sua vida: “tudo posso n’Aquele que me conforta”!
Mas já antes, Jesus Cristo havia colocado tudo na vontade de Deus, rezando assim, a cada passo: “Pai, qual é a Tua vontade”? E se a vontade do Pai era o Seu “projecto de vida”, também a nossa vida depende desse projecto. Confiemos e empenhemo-nos com todo o esforço.

O caminho que sempre deve atrair
Agora, ponhamos os olhos no ambiente que nos rodeia, e procuremos discernir o que mais convém. Pois, nem sempre o que apetece, corresponde ao que é melhor. E a parábola narrada por Jesus, diante dos fariseus e doutores da Lei, mostra isso mesmo.
Trata-se duma vinha igualmente plantada com esmero… e que o dono confia ao cuidado de alguns dos seus empregados. Pois, sente necessidade de se ausentar para longe, à conta de novas obrigações. Simplesmente, quando chega o tempo da colheita, envia outros empregados, a fim de recolherem os frutos que lhe pertencem. Mas os vinhateiros julgando que podem ficar com a vinha, usando-a para proveito próprio, maltratam os que acabam de chegar; e, empurrando-os para fora do terreno, tratam-nos com agressividade. O dono, tomando conhecimento de tal procedimento, envia outros empregados, já devidamente prevenidos. Simplesmente, são tratados de igual modo e com maior crueldade, ainda.
Então, depois de reflectir sobre aquelas atitudes, decide enviar o seu próprio ‘filho’, dizendo para consigo: hão-de respeitar o meu filho, que é herdeiro também! Simplesmente, os empregados da vinha pensaram de modo diferente: acharam que se o matassem, seriam eles os herdeiros. E assim fizeram.

Mas a parábola não acaba aqui. Com efeito, Jesus procurando escutar dos ‘fariseus e doutores da Lei’, o que eles pensavam àcerca dos malfeitores e que sentença lhes dariam...ouviu esta resposta: ‘o dono da vinha arrendá-la-á a outros vinhateiros que lhe paguem o que devem…e aqueles malvados receberão o que merecem, através duma morte afrontosa’! - Mal eles sabiam que a história narrada na parábola lhes dizia respeito e que o ‘filho’ em causa, era o próprio Jesus. Por isso, acrescentou: também “o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um outro povo que produza os seus frutos”! Pois, bem sabia que eles O acompanhavam, com frequência, na Sua missão apostólica…menos por admiração e mais para O acusar e conduzir até ao Calvário. E assim viria a acontecer, apesar da revelação do Pai do céu, que repetia algumas vezes: “este é o Meu Filho muito amado, em quem pus a Minha complacência…escutai-O”!

Ponhamos, agora, os olhos no nosso mundo e vejamos as conversas que se fazem, à conta da ‘pandemia’ do tempo: tudo vai acabar bem - dizem uns… não sabemos o tempo que perdura nem as forças que nos restam – dizem outros… façamos de conta que tudo é normal, para não causar medo às crianças e aos jovens – acrescentam alguns… e outros ainda: o tempo é nosso, saibamos tirar dele o melhor proveito… E no meio disto tudo, a fé diz doutro modo: é preciso ‘testemunhar confiança (uma confiança rezada) e usar de prudência e de fraternidade, para com todos’. Ora, a fé não se testemunha com palavras sòmente…mas com a vida! E quanto menos abundar a sua prática, à nossa volta, maior responsabilidade deve comprometer a nossa vontade e o nosso coração. Basta olhar para Jesus, logo a partir da Gruta de Belém… pois, foi a partir daí, que Ele começou a construir a Sua Cruz e a nossa salvação.

Então, olhemos menos para as diferenças ou rivalidades, e mais para o que Jesus nos recomenda: “Vinde a Mim que sou manso e humilde de coração”! Pois, é na expressão do Seu rosto que vemos o amor de Deus e no Seu comportamento que descobrimos as nossas obrigações. E, assim, Jesus tornando visível o “Invisível”, mediante a incarnação… também nos faz Suas testemunhas, à conta da fé e em jeito de parábola. Concluímos, então: Jesus, aproximai-nos do céu, com esforço e confiança.

Fátima, Outubro de 2020.

D. Augusto César
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