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XXVI Domingo do Tempo Comum

No dia em que a Igreja celebra a Festa de S. Vicente de Paulo, a família vicentina, de modo especial, é chamada a reler a Palavra de Deus deste Domingo a partir do perdão e da misericórdia. Duas palavras que o Pe. Albertino nos propõe através da sua reflexão.

O Perdão e a Misericórdia
Ao contrário do que pensamos, o poder de Deus revela-se quando perdoa e tem misericórdia de nós. É para aqui que se enfoca a liturgia da palavra deste domingo. Acolher os dons da graça levará a sentir-nos pobres e necessitados da conversão do nosso coração.

Na primeira leitura, do profeta Ezequiel, fala-se da retribuição individual: cada um recebe as consequências dos seus próprios erros, e não como tradicionalmente se pensava que Deus castigou com o exílio aquela geração por causa das culpas de seus antepassados. Ezequiel repete amiúde que a vontade de Deus é que o pecador se converta.

Na carta aos Filipenses, Paulo explica-lhes quais são os sentimentos de Jesus Cristo e convida-os a segui-los, afastando as discórdias, rivalidades e ostentação, mantendo-se unidos na humildade e tendo Cristo por modelo.

No evangelho, Jesus serve-se da vinha como símbolo tradicional do povo de Deus; o primeiro filho associa-se aos pecadores e gentios que estavam excluídos do povo de Deus mas acabaram por converter-se; o segundo filho representa os judeus que seguem a Lei de maneira teórica, mas que fecharam o coração à prática que Jesus tinha pedido. Assemelha-se à parábola do filho pródigo, de S. Lucas (Lc. 15, 11-32).

Para Deus, conta o que se faz, não o que se diz
A Palavra de Deus pede que a nossa conduta seja mais autêntica e credível. Para Deus, contam as ações, não as palavras. É um apelo a levarmos uma vida autêntica. Ma coisa é dizer, outra é fazer. Mateus diz o mesmo em 7,21: “Nem todo aquele que me diz “Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos céus, mas quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus”. A fé não é um conhecimento teórico, mas entrega confiada e obediente a Deus.

S. Vicente de Paulo, “contemplativo na ação”
O santo que hoje celebramos é um exemplo eloquente desta fé traduzida na prática. A caridade de Cristo quando se compadeceu da multidão (cf. Mc. 8,2) é a fonte de toda a atividade apostólica. Ela nos impele, segundo as palavras de São Vicente, a “tornar o Evangelho realmente efetivo” (SV VII, 84). São Vicente é “um místico da ação” (Henry Bremond). A espiritualidade atual fala de “místicos horizontais” e de “contemplativos na ação”, isto é, integram a oração e a ação. A grande atividade de São Vicente brota do amor, do flux de descendente, procedente de Deus. São Vicente é antí-místico só enquanto se opõe aos exageros, ao narcisismo espiritual e ao modo sentimental, verbalista e intelectualista de alguém se dirigir a Deus. Contra isto, propõe uma vida real transida de contemplação, mas voltada para o mundo real, em que a mística seja oração como ação. Uma espiritualidade encerrada nas suas elucubrações, sem perceber o “clamor dos pobres” não é autêntica, porque não basta amar a Deus se meu próximo não o ama”. A perfeição não consiste em êxtases, mas me cumprir a vontade de Deus” S. Vicente, XI, 211). É o decreto Perfectae Caritatis, 5, do Concílio d Vaticano II, que anima os membros de todos os Institutos a integrar juntando a contemplação e o amor apostólico. Enquanto os acontecimentos, a vida, os pobres… não se converterem em matéria de contemplação, isto é, enquanto não se aprender a ver a Deus em tudo isso, a ouvir a sua voz e a sentir internamente a sua paixão por aqueles que são vítimas da injustiça do mundo, não se poderá estar seguro se Deus é uma realidade ou uma simples ideia. ”Dez vezes ao dia irá uma Irmã ver os doentes, e dez vezes ao dia encontrará neles a Deus” (S. Vicente, IX, 240…).

Pe. Albertino Gonçalves, CM
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