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VII Domingo do Tempo Comum

O nosso mundo precisa deste anúncio solene porque, em grande medida, corremos o risco de, pelas nossas faltas de caridade, apresentarmos aos outros um Deus desacreditado no nosso contratestemunho.

Amados irmãos,

O Salmo Responsorial que hoje é cantado constitui um anúncio solene do Tempo Quaresmal que vai iniciar esta semana: “O Senhor é clemente e cheio de compaixão”. Repetimos este refrão seis vezes para assimilarmos, de uma vez por todas, que o nosso Deus é amor. Talvez não baste repetir seis vezes; talvez seja necessário acrescentar mais uma, para que sejam sete vezes. Ou melhor, setenta vezes sete que daria o total de uma vida inteira a cantar e a testemunhar que Deus é amor. O nosso mundo precisa deste anúncio solene porque, em grande medida, corremos o risco de, pelas nossas faltas de caridade, apresentarmos aos outros um Deus desacreditado no nosso contratestemunho. Não apenas para convencermos os outros, mas, primeiro, para nos convencermos a nós próprios de que o Pai do Céu tem poder para perdoar o nosso desamor.

Acabemos definitivamente com esse progressivo costume de cruzar os braços no peito quando, na fila da comunhão, nos apresentamos diante do Senhor para não O recebermos. Desejar a sua bênção é coisa boa, mas, para isso, esperemos pelo fim da missa porque esse sim, é o momento próprio da bênção sempre solene. E se estamos interessados na bênção do fim, então interessemo-nos também pelo perdão do início. Não faltemos às pontas da missa: no princípio para sermos reconciliados, e no fim para sermos abençoados, sem intervalos para o telemóvel. Ou será que o início penitencial de cada missa não tem poder para perdoar os pecados e nos introduzir no processo sacramental da reconciliação?

Não seria desadequado este salmo como cântico de entrada para tomarmos consciência, logo ao começar, dessa palavra: “Ele perdoa TODOS os teus pecados e cura as tuas enfermidades. Cura e libertação. E no fim da missa cantarmos o mesmo salmo e agradecermos enquanto somos abençoados: “Bendiz ó minha alma o Senhor e não esqueças nenhum dos Seus benefícios”. O benefício da misericórdia está no topo de todas as graças: se eu não tiver o amor que me é dado nada sou (Cf. 1 Cor 13, 2).

Lamentavelmente temos experiências limitadas de paternidade e não enxergámos a parábola do Filho Pródigo espelhada no salmo: “Como um Pai se compadece dos seus filhos, assim o Senhor se compadece”. Temos um grande caminho a percorrer para chegarmos a dar testemunho vivo deste Senhor e Pai que muitos não vêm em nós.

Esta tarefa é tanto maior quanto mais a primeira leitura eleva à utopia os níveis da nossa vocação batismal: “Sede Santos”. O Evangelho vai na mesma medida: “Amai os vossos inimigos”. O Senhor não se contenta com menos. “Quem poderá então salvar-se? Ao homem isso é impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19, 25-26). Também Maria se questionava: “Como é que isso vai ser possível”? (Lc 1, 34). O Anjo explica: “O Espírito Santo virá sobre ti (Lc 1, 35). Tão simples quanto isso: o Pentecostes na tua vida. “O Espírito Santo é o coração pulsante da Trindade” (Guido Marini). Porque desconhecemos ou desacreditamos na explicação do Anjo é que o Apóstolo Paulo, na segunda leitura, pergunta e interpela: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós”? Agora pergunto eu: não sabeis que no nosso batismo-crisma recebemos o Espírito Santo e que agora somos Templo de Deus que é Santo? E a resposta não se faz esperar: “Mas nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo”! Ora bem, então é necessário que as pessoas oiçam dizer que existe o Espírito da promessa. A fé entra pelo ouvido. “Devemos aprender a conhecer o Espírito Santo e a relacionar-nos com Ele” (Guido Marini).

Pe. Mário Ribeiro, CM
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