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VI Domingo do Tempo Comum

Tens a liberdade para escolheres o bem ou o mal, a liberdade para seguires a radicalidade de Cristo ou para ficares a olhar estagnado para a beleza de Deus. Deus quer que vás mais além, não te contentes com o mínimo, mas arrisca o máximo.

“Foi dito aos antigos… Eu, porém, digo-vos…”

O Capítulo 5º de São Mateus inicia com as bem-aventuranças e termina com o Evangelho deste domingo. Inicia com a apresentação do caminho de santidade e termina com a exigência para o cristão que quer seguir verdadeiramente a Cristo. Cristo pede a cada cristão que não se fique, só, pelo parecer bem, não se fique pelos “mínimos”, mas a sua exigência é mais radical, é um convite a irmos muito mais além daquilo que qualquer pessoa pode fazer. Ele é o nosso exemplo. Apresenta-se como o centro e o termo da salvação, não vem para suprimir a Lei e os Profetas, mas para levar à perfeição o ideal moral do Antigo Testamento – vem completar a Lei e os Profetas.

A exigência que nos faz é que nós possamos ir mais além do que fazermos o bem – Ele está no centro – e, por isso convida-nos à interioridade e à autenticidade. O cristão tem de ser verdadeiro: verdadeiro com Deus, verdadeiro consigo mesmo, verdadeiro com os irmãos. A escuta da palavra e a sua degustação não pode ficar pelo apetite próprio, mas tem de ir à autenticidade com que foi proferida. Não posso olhar para os mandamentos e interpretá-los da forma como me agrada, mas tenho de mergulhar na autenticidade, por mais rigorosa que possa ser, com que Deus no-los deixou, na Lei e nos Profetas.

Nesta exigência o cristão reconhece o amor filial para com Deus, o amor de fraternal união com os irmãos. Jesus pede-nos para realizarmos o bem, para pormos em prática o amor filial que Deus nos manifesta e isso posso vivê-lo no meu dia-a-dia de entrega, de reconhecimento do outro, de dedicação ao bem, à caridade, ao reconhecer no outro a presença de Deus. Daí a exigência de ir mais longe. Jesus inaugura uma nova ordem de valores. Se a Lei e os Profetas nos exigem ir até cinco, Jesus pede-nos que vamos até dez, que vamos muito além daquilo que os mandamentos exigem de nós. A sua palavra ecoa em nós “… Eu, porém, digo-vos…”

A primeira leitura do Livro de Ben-Sirá apresenta-nos o bem mais precioso que podemos ter, a liberdade, a liberdade de escolha, a liberdade para discernir a nossa vocação. Ser fiel depende da nossa vontade, escolher o bem ou o mal depende da abundância que cada um tem no seu coração. O amor de Deus, ou o orgulho próprio? Somente quem está disposto a escutar é que tem a liberdade de renunciar ao seu ponto de vista parcial e insuficiente (…). Desta forma, está realmente disponível para acolher um chamamento que rompe as suas seguranças, mas que o conduz a uma vida melhor, porque não basta que tudo corra bem, que tudo esteja tranquilo. Deus pode estar a oferecer alguma coisa mais, e, na nossa cómoda distração, não o reconhecermos» (ChrV 284). Nós somos convidados a dar a Deus uma resposta de amor, por maiores que sejam as dificuldades, nunca faltará o auxílio divino. Desta forma, se conseguires apreciar, com o coração, a beleza deste anúncio e te deixares encontrar pelo Senhor, se te deixares amar e salvar por Ele; se travares amizade com Ele e começares a conversar com Cristo vivo sobre as coisas concretas da tua vida, será essa a grande experiência, será essa a experiência fundamental que sustentará a tua vida cristã. Essa é também a experiência que poderás comunicar a outros jovens. Porque, não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou por uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que confere um novo horizonte e, com Ele, uma orientação decisiva para a vida (ChrV 129). Aqui está a tua liberdade, no encontro com Cristo, encontras o bem que sobressaí em ti.

Como afirma São Paulo adquires a verdadeira sabedoria na medida em que te envolves no Mistério de Cristo. Sabedoria que põe de manifesto a pequenez dos sistemas e dos valores humanos num caminho de salvação.

Tens a liberdade para escolheres o bem ou o mal, a liberdade para seguires a radicalidade de Cristo ou para ficares a olhar estagnado para a beleza de Deus. Deus quer que vás mais além, não te contentes com o mínimo, mas arrisca o máximo.

“Peço a Nosso Senhor que nos anime com o seu espírito para que façamos, incessantemente, obras agradáveis a seu Pai e úteis à sua Igreja” (SVP)

Pe. Gonçalo Fernandes, CM
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