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V Domingo da Páscoa

Pela sua vida e pelas suas palavras, Jesus revelou-nos, perfeita e seguramente o Pai. Jesus insere-nos neste encontro de comunhão com Deus.

“Eu sou o caminho, a verdade, a vida”

O caminho pascal põe-nos em contacto com uma Igreja em expansão, uma Igreja missionária atenta às necessidades dos mais frágeis, dos que necessitam de alguma forma de apoio. Por outro lado, estamos em contacto com Cristo ressuscitado que nos faz o apelo de o seguirmos radicalmente, tendo-O como o nosso caminho, a nossa verdade e a nossa vida.

No diálogo com Filipe, Filipe, hoje, é cada um de nós, Jesus revela-se como Deus, o rosto de Deus junto de nós, o rosto de Deus em cada irmão que necessita da nossa presença, em cada irmão que caminha connosco, em cada irmão que quer viver connosco a verdade que é Cristo. Pois, como afirma o Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti, a caridade está no centro de toda a vida social sadia e aberta. Todavia, hoje, não é difícil ouvir declarar a sua irrelevância para interpretar e orientar as responsabilidades morais. É muito mais do que um sentimentalismo subjetivo, naturalmente se aparece unida ao compromisso com a verdade, para que não acabe prisioneira das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos (FT 184). A Caridade e a Verdade unidas. Jesus diz-nos que é a Verdade, a verdade de Deus que se vive no amor, na caridade próxima dos irmãos, não só um amor professado, mas sim um amor vivido. É, precisamente, a relação da caridade com a verdade que favorece o seu universalismo, evitando assim que ela acabe confinada num âmbito restrito e carente de relações. Caso contrário, será excluída dos projetos e processos de construção dum desenvolvimento humano de alcance universal, no diálogo entre o saber e a realização prática. Privada da verdade, a emotividade fica sem conteúdos relacionais e sociais. Por isso, a abertura à verdade protege a caridade duma fé falsa, que a priva de amplitude humana e universal (FT 184). Esta abertura à verdade faz com que cada um de nós se preocupe em viver um amor testemunhado na vida que Cristo nos continua a dar dia após dia, chamando-nos à vida eterna no seio de Deus Pai. No nosso horizonte está sempre a verdade da ressurreição “quem Me vê, vê o Pai”.

Pela sua vida e pelas suas palavras, Jesus revelou-nos, perfeita e seguramente o Pai. Jesus insere-nos neste encontro de comunhão com Deus. Esta comunhão com Deus é possível, mesmo neste mundo cercado por egoísmos e individualismos, neste mundo de ódios, ciúmes e invejas, …, porque Jesus é caminho e sempre que caminhamos com ele dissipamos o ódio e o amor brilha na nossa vida, no nosso coração, porque fazendo o caminho de Jesus estamos a fazer um caminho de santidade, onde a caridade tem o seu lugar central. Jesus – caminho, leva-nos a afirmar que, reconhecer todo o ser humano como um irmão ou uma irmã e procurar uma amizade social que integre a todos não são meras utopias. Exigem a decisão e a capacidade de encontrar os percursos eficazes, que assegurem a sua real possibilidade. Todo e qualquer esforço nesta linha torna-se um exercício alto da caridade. Com efeito, um indivíduo pode ajudar uma pessoa necessitada, mas, quando se une a outros para gerar processos sociais de fraternidade e justiça para todos, entra no «campo da caridade mais ampla, a caridade política». Trata-se de avançar para uma ordem social e política, cuja alma seja a caridade social – a busca o bem comum (FT 184).

Esta busca do bem comum é o que vemos plasmado na primeira leitura do livro dos Actos dos Apóstolos. A Igreja que começa a ganhar corpo e, nessa medida, necessita de ministérios, necessita de estruturas, necessita de abranger todas as dimensões do ser humano, políticas, sociais, morais… A Igreja abre novas portas, abre fronteiras, não se fecha sobre si mesma, sobre os seus problemas internos, mas inflamada pelo Espírito Santo abre a porta da caridade e do amor. A Palavra de Deus tinha que se tornar viva e evidenciada no amor efectivo pelo “irmão”. Tal como na primeira comunidade cristã, também hoje, dentro da comunidade cristã, surgem problemas, surgem adversidades, surgem conflitos… tal como a primeira comunidade cristã, também nós temos de rezar sobre estes problemas, temos de invocar o Espírito Santo para que a fé nasça e cresça no coração frágil da humanidade e o amor de Deus se torne visível por esta dimensão tão rica na Igreja que é a caridade.

Como afirma o Papa Francisco, a caridade precisa da luz da verdade, que buscamos constantemente, e esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé, sem relativismos. Isto supõe também o desenvolvimento das ciências e a sua contribuição insubstituível para encontrar os percursos concretos e mais seguros para alcançar os resultados esperados. Com efeito, quando está em jogo o bem dos outros, não bastam as boas intenções, mas é preciso conseguir efetivamente aquilo de que eles e seus países necessitam para se realizar (FT 185).

Só assim, podemos ser a geração eleita o sacerdócio real, porque temos Cristo como caminho, verdade, vida e unido a Ele, todo o cristão, se torna pedra viva do templo do Senhor, porque anuncia as maravilhas do amor de Deus.

Deste modo ecoa com mais força no nosso coração as palavras de São Vicente de Paulo “Amemos a Deus meus irmãos, amemos a Deus, com o suor do nosso rosto e com esforço dos nossos braços”.

“Deus é amor e quer que a ele se vá por amor!”
(S. Vicente de Paulo)

Pe. Gonçalo Fernandes, CM
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