Solenidade da Santíssima Trindade
Podemos dizer que todos os domingos são dias da Santíssima Trindade. Não se trata, pois, na celebração de hoje, de decifrar o mistério que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”, mas de um convite a contemplar o Deus que é amor, que é relação em comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.
A solenidade da Santíssima Trindade é a primeira das três grandes festas que, após o Pentecostes, celebram o Amor divino. A seguir, vêm o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo e o Sagrado Coração de Jesus. Na primeira, o amor que une num só Deus três pessoas distintas, na segunda o amor serviço e alimento que se oferece continuamente na Eucaristia e, na terceira, o amor que encarna no coração amoroso do Deus/ Homem, Jesus.
Podemos dizer que todos os domingos são dias da Santíssima Trindade. Não se trata, pois, na celebração de hoje, de decifrar o mistério que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”, mas de um convite a contemplar o Deus que é amor, que é relação em comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.
Na primeira leitura (Ex 34,4b-6.8-9), o Deus da comunhão e da aliança, apostado em estabelecer laços familiares com o homem, apresenta-se a Moisés e ao seu povo como um Deus clemente e compassivo, lento para a ira e rico em misericórdia.
Na segunda (2Cor 13,11-13), com a saudação do Apóstolo, claramente trinitária e litúrgica, - “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco!” - manifesta-Se como comunhão e relação recíproca de pessoas no amor, à qual deseja atrair os homens.
No Evangelho (Jo 3,16-18), afirma-se o incomensurável amor de Deus pela humanidade, a ponto de lhe entregar o seu Filho único que, na verdade, fez da sua vida um dom total, até à morte na cruz, para nos oferecer a vida em plenitude.
- Contemplar o mistério que nos envolve e nos eleva.
Foi o próprio Jesus quem revelou o segredo de um único Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. É Ele que nos revela a intimidade do mistério trinitário e o convite para que participemos dele. “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11, 27). Explicou também a existência do Espírito Santo junto com o Pai, enviou-o à Igreja para que a santificasse até ao fim dos tempos; e revelou-nos a perfeitíssima Unidade de vida entre as Pessoas divinas (Jo 16, 12-15).
O mistério da Santíssima Trindade é o ponto de partida de toda a verdade revelada e a fonte de que procede a vida sobrenatural, para a qual nos encaminhamos: somos filhos do Pai, irmãos e co-herdeiros do Filho, santificados continuamente pelo Espírito Santo para nos assemelharmos cada vez mais a Cristo.
Por ser o mistério central da vida da Igreja, a Santíssima Trindade é continuamente invocada na liturgia; somos batizados em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e em seu nome são perdoados os pecados; ao começarmos e concluirmos muitas orações, dirigimo-nos ao Pai, por meio de Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Muitas vezes repetimos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo!
- Viver em comunhão, à imagem da Santíssima Trindade:
O nosso Deus é, pois, comunhão de amor e constitui a Igreja como Povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo (LG 4). A Igreja, à imagem da Trindade, é chamada a contemplar o mistério de amor que é o próprio Deus e a realizar a sua ação no mundo como testemunha da comunhão e da unidade.
Chamamos Santíssima Trindade a esta comunhão perfeita de amor entre as três Pessoas divinas (Pai, Filho e Espírito Santo), as quais existem uma para a outra, uma com a outra, uma pela outra, uma na outra. É no oceano infinito deste Deus que é Amor (1 Jo 4,6), que afinal todos nós “nos movemos, somos e existimos” (At 17,28). Este amor, que se vive em Deus, à imagem do qual fomos criados, chama-nos, por isso, a viver, no mesmo amor, não uns sem os outros, não uns sobre os outros ou uns contra os outros, mas uns com os outros, uns pelos outros e uns nos outros. Onde houver este amor, capaz de se dar e receber mutuamente, na aceitação, partilha e valorização das diferenças, aí habita o nosso Deus, pois, como disse Santo Agostinho: «Se vês a caridade, vês a Trindade».
- Ideal de relação entre seres humanos
A Santíssima Trindade é princípio e modelo de toda a relação humana, o que leva a professar que no Deus Trindade está a chave para a superação dos egoísmos humanos, geradores da violência e exclusão, e vislumbrar uma sociedade, onde a comunhão das diferenças resulta numa harmonia geradora de Vida. Boa nova a anunciar com mais força.
Na Trindade, cada pessoa vive para a outra e age em comunhão e em perfeito entendimento. É importante, a esta luz, revermos a nossa relação com o Deus trinitário e a nossa vida de relação familiar e comunitária! É importante crescer na relação com todas as pessoas! É fundamental para nós cristãos contemplar a vida trinitária de Deus e modelar sobre ela as nossas relações com todas as diversidades do mundo em que vivemos! É o diálogo da vida cada vez mais urgente no nosso tempo.
Nós, crentes, devíamos ser as testemunhas desse Deus que é amor; e as nossas comunidades cristãs ou religiosas deviam ser a expressão viva do amor trinitário. É isso que acontece? Que contributo posso eu dar para que a minha comunidade - cristã ou religiosa - seja sinal vivo do amor de Deus no meio dos homens?
Jesus apresentou-nos a Trindade como o modelo perfeito de “relações”. Contemplar e adorar este mistério deve ir acompanhado da vontade de encarnar este modelo na situação de vida concreta em que me encontro, na comunidade em que vivo, ou no grupo a que pertenço, na minha família, com as pessoas a quem o Senhor me envia a servir.
Este “modelo perfeito de relações” foi o que S. Vicente de Paulo propôs aos seus seguidores e mantém plena actualidade para todo a Família Vicentina: “Como Igreja e em Igreja, descobrimos na Trindade o princípio supremo da sua ação e da sua vida” (CM, Const. II, 20). Não será por acaso que, ao abrir o jubileu dos 400 anos do carisma vicentino, é publicada a obra: La Santísima Trinidad, origen de nuestra perfección y modelo de nuestra vida: la espiritualidad vicenciana en clave trinitaria (Vinícius Augusto Teixeira, CM, ed. La Milagrosa, CEME, 464 p, Fev, 2023).