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Solenidade da Imaculada Conceição

Precisamos do olhar do outro, em especial, do olhar daqueles que, para nós, são afetivamente importantes. Só eles podem confirmar as nossas visões do mundo. Precisamos do olhar de Maria, nossa mãe. Contemplemo-lo neste tempo de Advento.

Um olhar

Ouvimos repetidamente, em especial na boca das crianças, como um apelo inadiável: «olha pai» ou «mãe, olha». Crescemos sob o olhar amoroso do outro e, na sua ausência, arriscamos a suspender o que somos chamados a ser. Sem esse olhar atento, paciente e compreensivo, tornamo-nos incapazes de ver ou vemos, apenas, a camada superficial, como se ficássemos impossibilitados de aceder ao que está para além das aparências.

Há pessoas naturalmente dotadas nesta arte de ver mais profundamente. Há também aqueles que treinaram o olhar na escola do sofrimento, por isso, são desejados como amigos e conselheiros. Podemos contar com eles. Pedimos-lhes que nos ajudem a ver, como quem pede esmola.

Há medida que crescemos, somos moldados por aqueles que nos acompanham, identificando-nos com eles, definindo-nos gradualmente através da aproximação, tornando-nos semelhantes, procurando pontos de contacto, visões coincidentes.

Como discípulos de Jesus, procuramos naturalmente os olhos maternos de Maria, a Imaculada. Em certas ocasiões, só Deus sabe quando e como, aproximamo-nos dela com desejos antigos e repetimos em tons suplicantes, em forma de sussurros que só ela entende: «olha, olha mãe…». E a mulher discreta e humilde, a quase invisível jovem de Nazaré, a quem o Senhor olhou com amor, parece confortar-nos apenas com o seu olhar. Ela abre os nossos olhos «para as necessidades dos nossos irmãos». Ela interpela-nos com o seu olhar sereno e confiante, mesmo quando no horizonte se advinha um calvário. E parece repetir-nos os conselhos maternais que, tantas vezes desvalorizamos: «olha bem, tudo o que vês é passageiro e ilusório. Só Deus permanece. Não feches os olhos ao teu irmão».

Precisamos do olhar do outro, em especial, do olhar daqueles que, para nós, são afetivamente importantes. Só eles podem confirmar as nossas visões do mundo. Precisamos do olhar de Maria, nossa mãe. Contemplemo-lo neste tempo de Advento.

Pe. Nélio Pita, CM
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