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Quinta-feira Santa

A Eucaristia é o lugar da eternidade: o divino torna-se presente e o humano abraça o infinito.

«que TE conheçam»

O quarto evangelista tem a particularidade de apresentar os grandes discursos de Jesus. Logo após a embaraçosa cena do lava-pés, na última ceia, o Mestre disserta longamente sobre a eminente partida para o Pai e, em modo de conclusão, no capítulo XVII, ora por si mesmo e pelos seus, aqueles que vão continuar a obra iniciada. Na denominada «oração sacerdotal», são extremamente significativas as derradeiras palavras. Elas contêm o resumo da divina mensagem e explicita a razão da «saída» do Pai – o mistério da encarnação – bem como a aceitação da paixão e morte na cruz – mistério da redenção. Tudo é realizado para que o homem tivesse a vida eterna pelo conhecimento do verdadeiro Deus e do seu enviado, Jesus Cristo.
É algo de extraordinário que nunca devia sair das nossas mentes. Podíamos escrever em letras maiúsculas e colocar em lugares bem visíveis, em nossas casas e por onde andamos:

«É ESTA A VIDA ETERNA: QUE TE CONHEÇAM A TI…».

A vida eterna está ao nosso alcance. A chave da compreensão desta oferta está na palavra «conhecer». Conhecer é experienciar internamente, é cimentar uma relação, é identificar-se com o conhecido. Neste sentido, porque Deus é eternidade, a vida humana estende-se até ao infinito quando está associada a Ele. A Eucaristia é o lugar da eternidade: o divino torna-se presente e o humano abraça o infinito. Assim, a eternidade não é uma realidade do outro mundo, mas um aqui e agora que se consome inexoravelmente até um certo limite, um sopro que se esgota num tempo, sem ser o fim de tudo, pois quando a morte aparece, o vivente sabe que ela é o salto definitivo para a comunhão total com Aquele que ele já conhece pela fé. A eucaristia condensa esse mistério, ela é o grande mistério da nossa fé. Através dela aprendemos a dar esse salto entre mundos que, pela natureza da fé, já estão entrelaçados. Por isso, como o Mestre no calvário, quando a morte bater à nossa porta, recebê-la-emos como um acontecimento de um capítulo de uma história sem fim.

Não foi por acaso que os primeiros cristãos foram chamados de «viventes» pois o modo como estavam no mundo denunciava uma satisfação plena, um sentido desmedido da graça, uma força desmesurada que os fortalecia e que, aos olhos dos não crentes, era incompreensível. São as razões do coração que a razão desconhece (B. Pascal). São as razões da nossa esperança fundamentada na fé em Cristo que se faz Pão da Vida!

A experiência da eternidade motiva a atitude destemida e intrépida dos seguidores, aqueles que preferem a morte a atraiçoar a vida. Esta continua a ser a missão de todos os que participam na Eucaristia: ser testemunhas da verdadeira vida e não de uma “vidinha” ensimesmada, cinzenta, tantas vezes pesada, mas aparentemente cheia de êxito, uma pobre existência que é resultado do esquecimento da oferta que Jesus nos faz.
Se O conhecermos temos a vida eterna. Estaremos interessados?

Pe. Nélio Pita, CM
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