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IV Domingo do Tempo Comum

Como entender, com critérios humanos, as Bem-aventuranças? Como dizer ao pobre que ele é bem-aventurado, ou feliz, prometendo-lhe um reino que ele não pode ‘tocar’?

“Procurai o Senhor, vós todos os humildes da terra” (1ª leitura). Esta é uma proposta frequente na Sagrada Escritura. Trata-se de uma procura que parece difícil. E é possível que seja porque, muitas vezes, procuramos o Senhor em ‘lugares’ complicados, onde não o encontraremos. Ou então somos nós os complicados porque desprezamos a humildade e a simplicidade. Procuramo-lo em grandes templos, em vez de prestarmos atenção ao nosso interior, o lugar, por excelência, onde Deus quer estar. É possível que procuremos Deus, também, nos sábios deste mundo. E corremos o risco de vermos apenas o brilho das suas palavras ou dos seus escritos. O próprio Deus nos diz, muitas vezes, que, se o queremos encontrar, temos de descer àquilo que é simples, àquilo ou àqueles que o munto despreza.

Se a primeira leitura deixa essa mensagem bem clara, o Evangelho aprofunda e esclarece como deve ser a nossa atitude na busca de Deus. Esta passagem bíblica pode parecer o grande paradoxo, pela sua estranheza, da mensagem de Jesus. Como entender, com critérios humanos, as Bem-aventuranças? Como dizer ao pobre que ele é bem-aventurado, ou feliz, prometendo-lhe um reino que ele não pode ‘tocar’?
Precisamos de olhar para as Bem-aventuranças a partir de outra perspetiva. Este grande ensinamento de Jesus decorre numa montanha. É, talvez, a imagem da montanha em que Moisés recebeu a antiga Lei. Ora, Jesus quer apresentar a nova Lei, aquela que leva a antiga à perfeição ou a substitui.

As Bem-aventuranças contêm, em si, toda a essência do cristianismo. Mas, ao contrário do monte Sinai, não se apresentam como mandamentos ou preceitos, mas como propostas radicais de vida para aqueles que querem seguir a mensagem de Cristo.

É possível que tenhamos entendido, com frequência, as Bem-aventuranças como um discurso contra os ricos e poderosos. Mas a pobreza não é vista como uma coisa boa e querida por Deus. A pobreza é sempre uma desgraça que precisamos de combater. E talvez a mensagem de Jesus nos esteja a dizer que há quem se coloque no papel de deuses, dominando e enriquecendo à custa dos pobres. E isto vale para o dinheiro, mas também para a sabedoria ou outra forma de riqueza.

Os pobres, os humildes e os simples são prediletos de Deus, não por causa da sua precariedade económica, ou pela sua baixa formação intelectual, ou pela sua fraca capacidade empreendedora, mas por estarem numa melhor (dis)posição para receber, aceitar e viver com alegria o Evangelho. Colocar a confiança em Deus à frente da riqueza, da inteligência, do prestígio pessoal e do êxito, é estar aberto à experiência divina e ao encontro com os outros.

A mensagem de Jesus parece muito clara: é preferível ser pobre, a ser rico à custa dos pobres; é melhor chorar com quem chora do que fazer chorar os outros; é melhor passar fome do que ser testemunha da fome dos outros, sem fazer alguma coisa para a evitar; é melhor ser oprimido por alguma situação do que ser opressor.

E, se olharmos bem para a proposta de Jesus, há apenas uma mensagem e uma esperança: a única coisa importante é o amor. Quando o amor é a razão de ser da nossa vida, as várias situações de bem-aventurança surgem de forma natural e espontânea.

Pe. César Mendes, CM
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