IV Domingo da Quaresma
Peçamos ao Senhor que nos dê o dom de poder responder-lhe com as palavras e a vida a mesma resposta e atitude daquele cego que acreditou no Senhor: “Ei creio, Senhor!”. E prostrou-se diante dele”
(DOMINGO DA ALEGRIA)
A alegre antífona de entrada (festejai, gozai, alegrai-vos) confere entusiasmo a este quarto domingo, chamado, por isso, domingo laetare. Devemos destacar o carater festivo que é, ou deveria ser mostrado visualmente pelo uso de paramentos litúrgicos de cor rosa em substituição do roxo, o do homem velho, de barro, coberto de cinza e à espera da renovação. A cor rosa parece atenuar a austeridade penitencial do roxo e assim nos permite dar conta da iminência da Páscoa do Senhor que faz novas todas as coisas. Como diz a oração coleta, podemos apressar-nos com fé e atitude de entrega para celebrar as já próximas pascais.
(EVANGELHO)
O evangelho de S. João, lido neste domingo, com a narração da cura do cego de nascença que recupera a vista, e também a Carta de São Paulo aos cristãos de Éfeso em que somos convidados a viver como os que são da luz e a frutificar em toda a espécie de boas obras. Os que são do Senhor, diz-nos São Paulo, são luz. Também o salmista faz referência a este aspeto recordando como o Senhor, nosso pastor, gera confiança quando passamos por vales tenebrosos. A primeira leitura, do livro de Samuel, não faz referência a isso diretamente. Todavia, entender o sentido da luz ajuda a assimilar a profundidade do texto: o homem vê apenas as aparências, mas Deus vê o coração.
Este Tempo de Quaresma pode gerar duas reações em nós: entusiasmo, de motivação por avançar e aproveitar esta oportunidade; ou frustração e desencanto ao ver de entrada o que te havia apaixonado e agora se pode converter em pedra de tropeço, pois te dás conta de que não te agrada o que te deste conta em ti. A Palavra deste domingo é um claro convite a fugir da segunda atitude, que pode ser uma tentação para impedir que vivamos intensamente este tempo de graça. Deus não se fixa no aspeto exterior, mas vai ao fundo do coração. Os teus defeitos, pecados, más recordações de algo passado que te pesa, as tuas feridas ou máscaras não é o que Deus vê. Ele vê a intenção do nosso coração, os desejos, aspirações do nosso interior. Conhece-nos como nenhum outro. Nada devemos temer, “porque Tu estás comigo: o teu braço e o teu cajado me sossegam”.
Nós presbíteros temos a oportunidade de conhecer o coração das pessoas tal como ele é. E é muito grande! Não deixemos escapar a grande oportunidade que estamos a viver e que viveremos no mistério pascal. O Senhor é a luz que vem iluminar as nossas obscuridades. Não tenhamos medo de abrir-Lhe a porta do nosso coração. Ele, como o cego do Evangelho, também nos pergunta: “Crês no Filho do Homem?”. Peçamos ao Senhor que nos dê o dom de poder responder-lhe com as palavras e a vida a mesma resposta e atitude daquele cego que acreditou no Senhor: “Ei creio, Senhor!”. E prostrou-se diante dele”. Façamos nossa esta profissão de fé tão bonita e repitamo-la também durante esta semana no nosso dia-a-dia.
A despedida da missa supõe uma missão: da missa à missão, como dizia o Papa Bento XVI. São Paulo dizia-nos na segunda leitura que nós cristãos fomos convertidos em luz (pelo batismo: iluminados), e que devemos conduzir-nos como filhos da luz, dar frutos de luz. A missa tem de encarnar-se na vida: lex ornadi, lex vivendi. Temos de insistir nesta máxima afim de evitar uma dissociação entre celebração e vida.
O batismo dá-nos luz. É o significado do Círio Pascal, que acenderemos na Vigília pascal para ser iluminados pela luz a da Ressurreição e, juntamente connosco, o mundo, a história e a Igreja.
Pelo batismo, renascemos, transformando-nos em filhos adotivos de Deus. Como filhos dirigimo-nos ao Pai com a oração que o Senhor ensinou aos seus discípulos e que dirigimos ao Pai juntamente com Ele. Ao orar jubilosos com o Pai nosso, descubramo-nos filhos pelo batismo, descubramos a Deus com Pai.