III Domingo de Advento
Se quisermos construir um Deus à nossa medida, que nos resolva os problemas na hora… talvez não consigamos reconhecer o Senhor que virá novamente neste Natal.
Todos os anos, por esta altura, somos inundados por muitas campanhas que apelam à alegria, com luzes e cores nas nossas ruas, nos comércios e televisão, cheiros e sons que pairam no ar, que, mais que um convite, tornaram-se uma imposição de alegria. Pois bem, este terceiro domingo do Advento é aquele que nos recorda o fundamento da nossa alegria "O Senhor está perto e virá para nos salvar”. É uma alegria que se baseia na sua presença e que não depende das cores, das luzes e das prendas. Este convite à alegria nasce da certeza de que o Senhor caminha com o seu povo, sendo fiel às suas promessas.
Na Primeira Leitura, o profeta Isaías dirige-se ao povo que se sentia cansado e com o coração vacilante. Marcados pela experiência dolorosa do exílio, recebem do profeta um convite a reconhecerem no seu caminho a presença e o cuidado divinos e uma exortação a manterem viva a alegria, sinal da confiança e certeza de que Deus não os abandonará.
Neste belo poema, o profeta refere que é o próprio Deus que virá salvar: Ele transformará o deserto em jardins e a terra árida em campos verdejantes, mudando a tristeza, o cansaço e a desilusão dos corações, marcados pela saudade da terra prometida, em gritos de festa e de alegria.
Depois, o Evangelho convida-nos a contemplar a figura de uma personagem única, João Batista. No texto que escutamos, João Batista encontra-se na prisão. O que o preocupa, no entanto, não é a sua prisão, mas a esperança que ele tinha depositado em Jesus como o Messias esperado. João sabia que Jesus era o enviado de Deus, o anunciado pelos profetas, aquele que ele devia anunciar como precursor. Mas duvida, porque Jesus não se encaixa na sua imagem de Messias. É por isso que envia um grupo dos seus discípulos para lhe perguntar se Ele era o Messias ou se deveriam esperar por outro.
A resposta de Jesus não é um discurso ou um sermão sobre a sua identidade, mas um convite aos discípulos de João Batista para olharem mais de perto a realidade. E Jesus refere-se à sua atuação: “Ide contar a João o que vedes e ouvis: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres”. Possivelmente João esperava um Messias mais poderoso, que julgaria radicalmente as pessoas e de repente estabeleceria o Reino. Por isso ele pregava a conversão e a mudança de vida como forma de evitar a condenação e o castigo. Um Deus bom e misericordioso para com todos não se encaixava nos esquemas de João. Imagina um Deus duro e exigente. Mas o caminho do Senhor não passa pelo poder e pela força, ou por ações extraordinárias que despertam a admiração e o temor dos seus compatriotas, mas pelo serviço e pelo amor. E encaminha para os pequenos sinais que mostram como no dia a dia está a realizar o sonho, a profecia de Isaías que escutamos na 1ª leitura.
Os sinais que realiza em favor dos pobres e necessitados identificam Jesus como o Messias. Por isso Jesus termina a sua resposta com uma bem-aventurança: “bem-aventurado aquele que não se escandalizar de mim”, que é certamente um desafio para João. João, o escolhido para ser o Precursor, duvidou da forma de Jesus agir, e por isso tem de fazer um caminho de redescoberta da maneira como Jesus vem inaugurar o novo Reino. O mesmo pode acontecer a cada um de nós. Se quisermos construir um Deus à nossa medida, que nos resolva os problemas na hora… talvez não consigamos reconhecer o Senhor que virá novamente neste Natal.
E como fazer isso no meio de tantas dificuldades e incertezas no momento que vivemos? O tempo do Advento ensina-nos que não é hora de nos resignarmos a um mundo cada vez mais ferido e desanimado. Mais do que nunca, precisamos de ouvir as palavras do profeta: “tende coragem, não temais”.
As angústias, as incertezas do mundo atual apresentam-se como um tempo muito difícil, e apenas a certeza de que o Senhor veio, vem e virá, que caminha ao nosso lado, é que pode dissipar o nosso medo, redobrar as nossas forças e alimentar a nossa esperança. O motivo da alegria é a certeza de que Deus não nos abandona, mas que é um Deus presente e que no seu Filho Jesus, veio pessoalmente ao nosso encontro. Para nos ajudar nesta espera, S. Tiago convida a mantermo-nos firmes e pacientes até que tudo isto aconteça. E que esta atitude de espera, que é o Advento, possa dar um sentido novo à nossa vida e assim renovados possamos acolher o Senhor que virá novamente a nós neste Natal.