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III Domingo da Quaresma

Este encontro de Jesus com a Samaritana é o exemplo da maneira como Ele se faz conhecer àqueles que o procuram. Ele faz-se conhecer, gradativamente, como se dá na Iniciação à Vida Cristã.

Dizem os cientistas que a vida existe porque há água e sem ela, campeia a aridez e a morte. A criação no livro do Génesis opera-se mediante a força e a eficácia da Palavra de Deus que no caos estabelece a ordem e separa as águas. O Povo de Israel constituiu-se porque é salvo das águas e Jesus começa a sua vida pública nas águas do Jordão, no Baptismo de João. Assim, o tema catecumenal deste terceiro domingo da Quaresma assenta sobre a água, a sede e o desejo.

Na primeira leitura (Êx 17,3-7), o povo de Israel atormentado pela sede no deserto do Sinai duvida da fidelidade de Deus às suas promessas e alterca com Moisés pondo assim o Senhor à prova: “O Senhor está ou não está no meio de nós?” (Ex,17,7). Esse lugar recebe o nome de “Massa e Meriba” que em hebraico quer dizer “tentação-discussão”. Essa é também a atitude do cristão perante as dificuldades, na constatação que a vida não é mais fácil, pelo simples facto de aderirmos ao Senhor.

No meio das dificuldades e incertezas da vida, também nós podemos pensar que Deus nos tenha abandonado e que não há base sólida para a nossa esperança. A essa questão nos responde o texto da segunda leitura da Carta aos Romanos que nos recorda que a “a esperança não engana porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. No acto de derramar o seu Espírito sobre nós, sentimos que a nossa sede é saciada pela água do rochedo que é Cristo. Por isso, o Salmo 94 nos aconselha a não fechar o coração à voz do Senhor.

O Evangelho (Jo 4, 5-42) é um dos trechos mais belos de todo o Novo Testamento onde podemos ver o modelo do verdadeiro diálogo e da progressão do Discípulo perante o Mestre.

O diálogo desenvolve-se entre Jesus e a Samaritana. Jesus pede de beber; tem “sede de almas”, tem sede daquela mulher samaritana. A uma observação da mulher ao pedido de Jesus, Ele responde: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva”. A Samaritana, ainda não iniciada na fé, não entendeu o que Jesus queria dizer. Se fosse iniciada, ela saberia que Jesus é maior do que Jacob, e que também, ‘água viva’ é a água do baptismo e tudo o que ele significa. No Antigo Testamento a água viva significa a sabedoria e a Lei. Mas o símbolo da água também pode significar o Espírito de Deus. Jesus é mais que Jacob, mais que a Sabedoria dos livros bíblicos, é uma fonte de vida que não estanca e que nos comunica o Espírito Santo. A Samaritana, por não ser uma iniciada na fé, vai desejar a água que Jesus oferece por razões materialistas, ou seja, não precisar mais de vir ao poço. O mesmo acontece connosco quando não somos iniciados na fé: desejamos receber os sacramentos, mas não entendemos o seu significado na nossa vida.

No decorrer do diálogo muitos subtemas são abordados, tais como: o lugar da adoração, o tempo da adoração, a busca dos adoradores, o verdadeiro adorador, a quem se deve adorar, o modo correcto de se adorar, etc. Jesus vai responder como e onde será a adoração, quando o Messias vier. Jesus, então, diz: “Vai chegar a hora - e já chegou - , em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade”, isto é, movidos pelo sopro de Deus que é o Espírito e fiéis à manifestação de Deus em Cristo, que é a verdade.
O poço, em várias passagens bíblicas é o lugar de encontro dos namorados que depois acabam por casar-se; também entre nós, na nossa literatura sempre os poços e as fontes foram lugares de encontro e de poesia amorosa. Tendo como, pano de fundo a história bíblica, dos esponsais de Deus com o seu povo, vemos claramente as várias traições (prostituições) ao longo dos tempos - em que a esposa infiel se lançou nos braços dos Egípcios, Assírios, Babilónios, Persas, Helénicos e agora dos Romanos, - Jesus pede à mulher para ir chamar o marido e voltar, ao que ela responde que não tem marido; Jesus diz-lhe que falou verdade, pois teve cinco e o que tem agora não é seu marido. Isto foi o pivô que fez a mulher cair em si e abrir-se totalmente ao Senhor.

O resultado do encontro de Jesus com a mulher samaritana não poderia ter sido melhor. A Samaritana, tendo ouvido Jesus, e desejosa de participar do culto verdadeiro, tornou-se missionária! Deixou o seu cântaro e correu para anunciar na cidade a sua grande descoberta: o Messias chegou! A mulher despertou o interesse dos seus concidadãos de tal modo que conseguiu levá-los a Jesus (vv29-30). Os Samaritanos convidam Jesus a passar alguns dias na Samaria e Ele aproveita para evangelizar.

Também nós, somos convocados, pelo Baptismo, a ouvir e anunciar os ensinamentos de Jesus. João transmite-nos alguns princípios básicos da evangelização. Jesus conduzia a conversa, a partir de uma necessidade física, (a sede) para falar da necessidade espiritual (sede de Deus). Não é preciso ter pressa quando se evangeliza. o processo de evangelização é um progresso, gradual e permanente. Observando o percurso da Samaritana, ela foi subindo degrau a degrau: Primeiro viu Jesus como um simples forasteiro, judeu; depois, um profeta que revelou coisas da sua vida particular e, por último, o Messias.

Este encontro de Jesus com a Samaritana é o exemplo da maneira como Ele se faz conhecer àqueles que o procuram. Ele faz-se conhecer, gradativamente, como se dá na Iniciação à Vida Cristã. Primeiramente na experiência do encontro individual e pessoal com Jesus; depois, transforma o encontro em vivência na comunidade. Também nós, hoje, no processo da Iniciação à Vida Cristã, precisamos de promover o encontro que leva a uma experiência pessoal com Jesus, vivência na comunidade e testemunho de vida em Cristo.

Assim, a propósito de sede de água há o desejo de Deus.

Pe. Manuel Martins, CM
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