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II Domingo do Tempo Comum

Depois deste encontro com Jesus, depois desta maravilhosa experiência da revelação divina, desta única e singular experiência de Deus, João Batista não fica com isto só para si. Ele não se julga o destinatário final, mas apenas intermediário, de algo que o ultrapassa, e que não pode ficar consigo, mas que é preciso passar, transmitir.

Com a celebração da Epifania, no Domingo passado e do Batismo de Jesus, na segunda feira, encerrámos as celebrações do Mistério da Incarnação e começámos o ciclo do chamado Tempo Comum: bloco constituído por 34 semanas e domingos, em que iremos fazendo a aprendizagem da vida cristã. Este conjunto será interrompido para a preparação e celebração da Páscoa, e retomado depois do Pentecostes, até ao fim de novembro...

Mas então o que é que nos propõe este domingo para nossa reflexão a partir dos textos litúrgicos?

1 - “Tu és o meu servo por quem manifestarei a minha glória”. Mas “não basta que sejas meu servo para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue aos confins da terra”…

Sobre este personagem profético, figura de Jesus Messias, chamado servo do Senhor, paira um duplo desígnio, um projeto de Deus e, por isso também sobre todos os que se tornaram discípulos de Jesus, o mesmo projeto e o mesmo desígnio:

a) Será revelador da glória de Deus; nele se manifestará toda a sua força e o seu poder para restaurar a esperança messiânica do povo de Deus, destruída por uma degradação moral e social que teve o seu desfecho trágico no exílio…reabilitar-se desta humilhação era o grande desejo do povo, sobretudo dos crentes mais piedosos… Restaurar, reconduzir, juntar os dispersos parecia ser o mais urgente…

b) Mas o Senhor pede muito mais ao seu servo, ao seu eleito. Que ele seja luz para todos povos, proclamando a universalidade da salvação, expressão do amor e da ternura de Deus por todos os povos. O tema da luz aparece muitas vezes nas celebrações litúrgicas deste tempo. É isso que Jesus é para nós, os seus discípulos: uma iluminação interior que nos leva a ver, a apreciar as coisas de outro modo

c) Por vezes contentamo-nos com ser simplesmente boas pessoas, reparar brechas, trabalhar no que já está feito, corrigir algum defeito pessoal, cerzir algum tecido roto pela divisão ou pela rotina, tapar buracos ou deitar remendos. Uma espécie de conservador de museus. Mais do que pró-ativos, ficamo-nos pela passividade, menos trabalhosa e menos arriscada.

d) Mas aos seus eleitos (e os cristãos são denominados eleitos de Deus, sobretudo nas cartas de S. Paulo) o Senhor pede que sejam luz para que através das suas vidas iluminadas por Jesus Cristo se transformem, também elas, em luz, irradiando sem limites nem fronteiras, a luz da sua bondade, da sua honestidade, da sua consciência bem formada e, sobretudo, da sua caridade… E que todos possam dizer com o salmista: “na tua luz, Senhor, veremos a luz”

2 - Isto chama-se anúncio, missão, testemunho. João Batista, encontrou se com Jesus e viu n'Ele o Messias de Deus e imediatamente O proclama aos seus discípulos com palavras tais que lhe podiam causar baixas no seu grupo, como aliás aconteceu: “Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira o pecado do mundo. Ele é maior do que eu. E u não o conhecia, mas o Espírito do Senhor mo revelou...” E dois dos discípulos foram atrás de Jesus.

Depois deste encontro com Jesus, depois desta maravilhosa experiência da revelação divina, desta única e singular experiência de Deus, João Batista não fica com isto só para si. Ele não se julga o destinatário final, mas apenas intermediário, de algo que o ultrapassa, e que não pode ficar consigo, mas que é preciso passar, transmitir.

E João Batista termina com esta frase que, quando lida e refletida com atenção, permanentemente nos desafia: “Eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus”. Dizendo de outro modo: eu acreditei e dou testemunho, comunico a minha fé.

Foi esta metodologia seguida na evangelização nas primeiras comunidades cristãs:
- Pedro e João diante do Sinédrio dizem bem alto: “Nós não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos...” (Act. IV, 20)
- “Não foi com fábulas ilusórias que vos fizemos conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas por termos sido testemunhas oculares…Nós ouvimos esta voz, vinda do céu, quando estávamos com Ele nos monte santo…” (2Pedro I, 17…)
- “O que nós ouvimos e vimos com os nossos próprios olhos, o que contemplámos e tocámos com as nossas mãos: a vida deu-se a conhecer e nós vimo-la e falamos dela...” (1ª João I, 1/2)
- Paulo, no processo da sua conversão ouve de Ananias estas palavras: “Tu serás testemunha dele (de Jesus) para dizeres a todos o que viste e ouviste” (Act. XXII, 15).

3 - Sem dúvida que são necessários programas pastorais, sem dúvidas que são muito úteis as modernas tecnologias de comunicação. Certamente algumas ideologias criam um ambiente hostil e contrariam a mensagem cristã… Mas que ambiente mais hostil do que aquele que nos é relatado nos Atos dos Apóstolos e nos primeiros séculos do cristianismo? Que espaço havia para reuniões e discussões de programas? Tudo na clandestinidade!... A vencer estes e outros obstáculos à evangelização, havia vidas transformadas e iluminadas por Cristo a testemunhar a sua experiência de Deus, base da sua fé.
E é nisto que se encontra o dinamismo da evangelização: assim como a caridade nos impele para a ação, a fé nos impele para o testemunho, para o anúncio, para a missão.

Pe. José Alves, CM
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