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II Domingo da Páscoa

É claro que à volta daquele acontecimento (a morte de Jesus) se gerou um movimento inicialmente de medo, de dispersão, mas que misteriosamente se transforma num movimento de congregamento, de reunião, de coesão à volta do mesmo Jesus, porque Ele ressuscitou, Ele está vivo!

As leituras destes domingos de Páscoa têm a preocupação de nos ajudar a perceber que Jesus ressuscitado não é fruto de um delírio, ou de uma imaginação mórbida e fantasiosa. Ele é o mesmo Jesus da Galileia, dos milagres e das multidões, da crucifixão…e da morte na cruz.. e da sepultura…., mas que agora vive para sempre porque ressuscitou…Por outras palavras, o Cristo da fé é o mesmo que o Cristo da história e que agora continua a salvar, a libertar, a ser sinal do amor de Deus, tal e qual como antes ,mas através da Comunidade dos seus discípulos. Pedro no encontro com o paralítico, à porta do templo, tem o cuidado de dizer: ”em nome de Jesus de Nazaré, levanta-te e caminha”; ”foi a fé que vem de Jesus que o curou completamente”.

1. As leituras deste 2º Domingo de Páscoa traçam-nos o perfil de uma Comunidade de discípulos, nascida da Páscoa de Jesus, de modo que a sua ação salvadora e libertadora seja tão eficaz através dela, quanto o era nos anos da Sua vida pública nas terras da Palestina.

2. Uma Comunidade que tem consciência clara de que só existe devido “à misericórdia de Deus que nos fez renascer pela ressurreição de Seu Filho, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe”, despertando em cada um dos discípulos um dinamismo que ajuda a ultrapassar todas as dificuldades, de fora ou de dentro, ao longo do caminho a percorrer.

3. Comunidade de escuta da Palavra, comunidade de oração, comunidade de partilha de bens….Desta experiência, marcada pela certeza na fé do Senhor Ressuscitado, resulta uma outra maneira de estar na vida manifestada pela alegria, pela simplicidade e pela caridade que a todos unia.

4. Uma Comunidade pacificada e pacificadora, isto é, capaz de gerar a paz onde se encontrar e com que se encontrar. ”A paz esteja convosco” tornou-se a frase que traduz o desejo do Senhor, sempre que se encontra com os seus discípulos. Oito dias depois saudou-os novamente, dizendo: “a paz esteja convosco”.
Parece ser esta uma tarefa que Jesus entrega à Comunidade dos seus discípulos: no mundo desavindo, em lutas fratricidas, motivadas por interesses egoístas e mesquinhos, ela será construtora da paz. E faz da realização deste trabalho uma das suas bem aventuranças: “Bem aventurados os construtores da paz porque são chamados filhos de Deus”.

5. Uma Comunidade sempre “enviada” para continuar a missão de Jesus, o missionário do Pai. “Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós” e cuja função principal é anunciar a misericórdia de Deus através do Seu perdão. A Comunidade dos discípulos de Jesus torna-se assim um espaço onde se pede perdão com humildade e se tem a certeza de este ser dado com generosidade . Esta tarefa realiza-se através do Espirito Santo, entregue à Comunidade pelo Senhor Ressuscitado e de que esta é apenas o sinal. Todos nos recordamos das palavras do sacerdote na confissão “Deus Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição do seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espirito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz…

6. Confrontando este esboço da Comunidade nascida da Páscoa de Jesus, com as nossas Comunidades cristãs de hoje, também elas nascidas da Páscoa, há muita coisa que é preciso rever:
- As nossas comunidades cristãs causam ”espanto” e ganham simpatia pela maneira como encaram a vida, leem os acontecimentos e se relacionam com os outros, mesmos não crentes? Deixam transparecer a alegria de quem se sente amado e por isso, impelidas a amar todas as pessoas, mesmo que não sejam do círculo familiar ou dos amigos?
- As nossas Comunidades cristãs são espaço de apaziguamento de conflitos, porque nos habituámos a pedir desculpa e a desculpar de tal modo que as nossas questões nunca atinjam o nível de conflitualidade que nos colocam foram da esfera do evangelho de Jesus?
- As nossas Comunidades cristãs são espaço acolhedor de modo que descubram nelas o seu “habitat” natural, todos os rejeitados da vida?
- A nossa participação nas celebrações, quer na Eucaristia dominical, páscoa semanal, quer nos outros sacramentos, tem com objetivo fazer esta experiência surpreendente de Deus, tal como os discípulos transmitiam a Tomé a sua fé no ressuscitado: ”Vimos o Senhor” ou não passa de ato rotineiro que se perde, logo que se muda de contexto, sem qualquer repercussão na vida quotidiana?

É em Comunidade que se cresce na fé: estimulam-nos os testemunhos e os exemplos dos outros; corrigimos visões desfocadas; alargamos, ao mesmo tempo que aprofundamos, o nosso olhar; mas, sobretudo, deixamo-nos envolver pelo mistério de Deus que nos revela toda a força do Seu amor através do encontro com Cristo Ressuscitado.

Pe. José Alves, CM
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