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Domingo X do Tempo Comum

Tal como estes dois homens de Fé deixemo-nos desafiar pelo chamamento muitas vezes inesperado de Deus. Não tenhamos medo em imediatamente seguir Jesus, de nos deixarmos transformar por Ele.

Da mesa da cobrança à mesa da misericórdia

Este X Domingo do Tempo Comum é-nos narrada a vocação de Mateus - o cobrador de impostos. É o único Evangelho onde nos é apresentado com este nome, sendo que nos restantes é tratado por Levi. Mateus significa “Dom de Deus". Este novo nome traduz muito bem aquilo que é a mudança radical da sua vida: de uma banca de impostos para discípulo do senhor.

Mas que mudança foi essa que foi operada na vida de Mateus? Podemos definir o processo de conversão de Mateus em três passos:

O primeiro passo é sempre tomado por Jesus. É Jesus que vem ao Encontro de Mateus, tal como vem ao nosso encontro. A iniciativa é sempre Dele, que nos olha com misericórdia e vê o que todos não querem ver. Tal como dizia Bento XVI: "Assim como Jesus olhou para Mateus com misericórdia, Ele olha para cada um de nós com um amor que não se baseia nos nossos méritos, mas na Sua graça." É muito fácil julgar a nossa vida pelo que fazemos, mas muito mais difícil é olhar para o interior daquilo que somos. O chamamento de Mateus é um sinal poderoso de que Deus chama aqueles que o mundo descarta. Um sinal de que Deus continua a correr atrás de nós, tal como correu atrás de Mateus, de Zaqueu, de Maria Madalena, tal como foi atrás de muitos e muitas que andavam e andam perdidos. A única condição que Jesus coloca é o seu seguimento. Tal como dizia Santo Agostinho: “A maior vocação do ser humano é responder ao chamamento de Deus." Como vemos, não é necessário muito para nos deixar tocar por Jesus, um olhar no caso de Mateus mudou a Sua vida, um toque no caso da mulher ensanguentada, uma palavra no caso do centurião. É necessário muito pouco, mas que nestes casos se faz muito.

O segundo passo é realmente a transformação profunda de uma vida. Jesus não pede uma mudança assim tão drástica da forma de vida, mas sim uma mudança drástica da forma como eu vivo essa mesma vida. Assim como transforma pescadores de peixes em pescadores de homens, assim transforma levitas sentados na mesa de cobrança para os fazer sentar na mesa do pão e da partilha. É interessante ver que o perdão que Jesus outorgou a Mateus naquela mesa de cobrança fez com que ele o seguisse. A consequência de um convite a participar na mesa com os discípulos - mesa, essa, onde se dá a verdadeira cobrança: a graça e a misericórdia. O chamamento de Mateus é uma demonstração do amor incondicional de Deus, que nos convida a uma vida de transformação e serviço. A misericórdia de Deus não conhece limites.

O terceiro passo é um reconhecimento desta mesma graça recebida. Não são os sãos que necessitam de médico, mas os doentes. É assim que Jesus remata este relato de vocação com a necessidade de reconhecermos a nossa própria doença. A humildade para reconhecer a nossa própria enfermidade é o primeiro passo para receber a cura que Jesus oferece. Ele está pronto para nos tratar e restaurar. Infelizmente, ainda são muitos aqueles que acham que na mesa de Jesus só se deve sentar um núcleo de perfeitos, de eleitos puros e sem mancha. O que nós nos esquecemos é que tal como no filho pródigo e tal como na ovelha perdida o importante é reconhecer que só em Jesus podemos encontrar o nosso tesouro. Afinal, Jesus não vê apenas o que somos, mas também no que nos podemos tornar. Ele chama Mateus não apenas como ele era, mas como ele poderia ser transformado pela graça. E como vimos foi muito, foi tanto.

Por fim, neste domingo não poderíamos deixar de falar de outro vocacionado que nos é apresentado pela segunda Leitura: Abraão. O Homem que disse o grande “sim” a Deus começando um novo ciclo na História, a de um Deus que se faz companheiro de viagem. A única coisa que Deus pediu a Abraão é que acreditasse que a sua promessa se iria concretizar e contra toda a Esperança Abraão acreditou. Este não tinha terra, não tinha descendência aos olhos do mundo, era um nada, mas a sua fé fê-lo tudo. Por isso, contra tudo o que era provável ao mundo Deus fez: deu-lhe uma descendência e uma terra. A confiança de Abraão em Deus o tornou um modelo de fé para todas as gerações. Ele nos mostra que, quando confiamos inteiramente em Deus, Ele nos conduzirá por caminhos que superam nossas expectativas.

Tal como estes dois homens de Fé deixemo-nos desafiar pelo chamamento muitas vezes inesperado de Deus. Não tenhamos medo em imediatamente seguir Jesus, de nos deixarmos transformar por Ele. Sejamos testemunho e propósito em testemunhar a alegria da ressurreição e não nos esqueçamos que não importa quão perdidos ou afastados estejamos. Deus está disposto a nos resgatar para a Sua glória. Ele pode convidar até mesmo os mais improváveis para cumprir os Seus planos.

Pe. João Soares, CM
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