Domingo de Páscoa
O Cristianismo e a Igreja nasceram e re-nascerão sempre da Páscoa de Cristo. É este o acontecimento fundante da nossa religião, da nossa relação com Deus.
«… JESUS VIVE E NÃO NOS DEIXA SÓS…»
O Cristianismo e a Igreja nasceram e re-nascerão sempre da Páscoa de Cristo.
É este o acontecimento fundante da nossa religião, da nossa relação com Deus.
Quando o Papa Bento XVI, na encíclica Deus caritas est, escreve: «Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo», está a falar-nos deste acontecimento: a Ressurreição de Jesus, testemunhado por Maria Madalena, Pedro e João, como podemos voltar a escutar no evangelho da liturgia deste dia de Páscoa.
Santo Agostinho, não se cansou de ensinar: «não é grande coisa acreditar na morte de Cristo. Também os pagãos creem nela, assim como os Judeus e os que não têm fé. Que Ele morreu todos acreditam; mas a fé do cristão é na ressurreição de Cristo. É este o nosso distintivo fundamental: acreditar que Cristo ressuscitou».
Efetivamente, nós cremos no amor de Deus que, no seu Evangelho, São João tinha expressado neste acontecimento com as seguintes palavras: «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n'Ele crer (...) tenha a vida eterna» (3, 16). É deste modo que o cristão exprime a opção fundamental da sua vida.
Ora, a nossa relação com Deus tem como pedra angular a fé em Cristo realmente Crucificado e Ressuscitado. Usando uma bonita expressão de Santo Inácio de Antioquia (séc. II), também nós podemos dizer que «somos fruto da sua Paixão» (Carta aos Esmirnenses, I, 1-2). E esta expressão é subsidiária duma convicção primordial de São Paulo aos Coríntios: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé» (1Cor 15, 14).
A ressurreição tem algo de “final feliz” que emerge da história da salvação.
A ressurreição, ao mesmo tempo que põem fim em tudo, inicia tudo. Pois, se os evangelhos começam pela infância (no caso de Mateus e Lucas) ou pelo início da pregação do Reino (no caso de Marcos e João, à exceção do prólogo); na realidade, sabemo-lo, estão escritos a partir do final, a partir da ressurreição: são a vida do Ressuscitado.
E isto porque na vida do Ressuscitado revela-se o significado de tudo o que o antecede; porque a vida do Ressuscitado é o fim que, desde o começo, anima todo o processo. A ressurreição é a palavra decisiva e irrevogável sobre Jesus de Nazaré.
Se Jesus de Nazaré não tivesse ressuscitado, teria sido reduzido a ser uma das muitas personagens – trágicas e sublimes, grandes ou miseráveis – que se estilhaçaram, com todo o seu voluntarismo, contra o muro frio da história. Teria sido um fracassado, um homem triturado pelos implacáveis mecanismos e estruturas de poder. Porém, Jesus ressuscitou, e n’Ele tudo se faz único e diferente.
Isto mesmo recorda o Papa Francisco aos jovens e ao povo de Deus, na Exortação Apostólica Christus vivit (Cristo vive). No capítulo do grande anúncio para todos os jovens, depois de lembrar um Deus que é amor e nos ama; e que Cristo, por amor, nos salva, conclui, no número 124, «…Ele vive!» E recomenda que «é preciso recordá-lo com frequência, porque corremos o risco de tomar Jesus Cristo apenas como um bom exemplo do passado, como uma recordação, como Alguém que nos salvou há dois mil anos. De nada nos aproveitaria isto: deixava-nos como antes, não nos libertaria. Aquele que nos enche com a sua graça, Aquele que nos liberta, Aquele que nos transforma, Aquele que nos cura e consola é Alguém que vive. É Cristo ressuscitado, cheio de vitalidade sobrenatural, revestido de luz infinita.»
Ora, se Cristo vive, podemos perguntar-nos: que repercussões tem a sua Ressurreição na nossa vida real? Nos números 125-129, da mesma Exortação Apostólica, responde.
• Se Ele vive, poderá estar presente na tua vida, em cada momento, para enchê-la de luz e nunca mais haverá solidão e abandono;
• Se Ele vive, mesmo que todos se vão embora, Ele, tal como prometeu, estará contigo até ao fim da história;
• Se Ele vive, enche tudo com a sua presença invisível e, onde quer que tu vás, Ele estará à tua espera;
• Se o teu Salvador vive, o mal e a morte não têm a última palavra e, na tua vida, o mal e a morte também não terão a última palavra, porque o teu Amigo quer triunfar em ti;
• Se Ele vive, é uma garantia de que o bem se pode tornar caminho na nossa vida e que as nossas fadigas servirão para alguma coisa;
• Se Ele vive, podemos deixar as lamentações e olhar para a frente, porque com Ele é sempre possível;
• Se Ele vive, agarrados a Ele, viveremos e atravessaremos todas as formas de morte e de violência que nos espreitam no caminho.
E conclui, «se conseguires apreciar, com o coração, a beleza deste anúncio de que Ele vive!» Essa será a grande experiência, será essa a experiência fundamental que sustentará a tua vida cristã. E essa será também a grande experiência que poderás comunicar a outros jovens (cf. Ch.V. 125-129).
Sabemos que, até ao século IV, a Páscoa era a FESTA dos cristãos, não existiam outras solenidades. Por isso, os discípulos de Jesus reuniam-se na grande noite, isto é, na Vigília Pascal para celebrar a Páscoa de Cristo, como a nossa Páscoa, mas sem esquecer toda a história da salvação, como história de êxodo e caminho (passagem) para a consumação em Cristo.
No refrão do hino da Jornada Mundial da Juventude, cantamos: «… JESUS VIVE E NÃO NOS DEIXA SÓS…» Ao longo deste dia e deste Tempo Pascal, façamos ouvir a nossa voz com este grande anúncio: “Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!”
Seja com a «visita pascal», seja com a «visita do Espírito Santo», seja com o «Compasso», ou outra, e, como diz o fado, “até que a voz nos doa”, façamos ouvir que: «… JESUS VIVE E NÃO NOS DEIXA SÓS, JAMAIS DEIXAREMOS DE AMAR…»
PS: Para os românticos/saudosistas, deixo este belo poema de Teixeira de Pascoaes.
PÁSCOA NA ALDEIA
Minha aldeia na Páscoa
Infância, mês de Abril!
Manhã primaveril!
A velha igreja,
Entre árvores alveja
Alegre e rumorosa
De povo, luzes, flores …
E, na penumbra dos altares cor-de-rosa,
Rasgados pelo sol os negros véus,
Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores,
Ressurreição de Deus! (…)
Em pleno azul, erguida
Entre a verde folhagem das uveiras,
Rebrilha a cruz de prata florescida …
Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal
Ébrias de cor, tremulam as bandeiras …
Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
Ei-lo que entra contente nos casais;
E, com ano, visita as rústicas choupanas,
É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
As grandes alegrias sobre-humanas.
Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
Linda manhã, canções de passarinhos!
A campainha toca; Aleluia! Aleluia! (…)
Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus
E mães, acalentando os filhos no regaço,
Esperam o compasso …
E, ajoelhando com séria devoção,
Beijam os pés da Cruz.