Ascensão do Senhor - Solenidade
É necessário estar disposto a percorrer o itinerário da Via Lucis onde ocupa um lugar fulcral a descida do Espírito Santo. E não basta que se faça esta procissão com as pernas, é necessário implicar nesse processo a vida espiritual.
Estimados Irmãos,
A Procissão de Nossa Senhora da “Burrinha”, na Cidade de Braga, termina com o Cristo morto na Cruz. Dois dias depois é feita a Procissão do Cristo Morto, o Enterro do Senhor. Em algumas localidades, do norte ao sul, esta tradição do “Enterro do Senhor” é tão concorrida que até aqueles que nunca vêm à igreja aparecem uma vez por ano para enterrarem o Senhor. Entretanto o salmo de hoje faz uma solene interpelação: “Povos, batei palmas, aclamai a Deus com brados de alegria”. Ora, palmas de alegria com que motivação? Para quem e porquê? Para um morto por ter sido enterrado? Certamente que não.
Busquemos, pois, o sentido destas palmas e deste júbilo. Esta busca de sentido só é possível se o itinerário processional da vida do crente, ou não crente, entrar num dinamismo pascal da morte à vida: Cristo está vivo, não está morto. É necessário que essa via não tenha a morte por última estação, ou que apenas exista a Via Sacra Dolorosa. Também não basta que se adicione à Via Sacra a décima quinta estação da Ressurreição do Senhor porque o Ressuscitado não quer ser detido à porta do sepulcro (Jo 20, 17). É necessário estar disposto a percorrer o itinerário da Via Lucis onde ocupa um lugar fulcral a descida do Espírito Santo. E não basta que se faça esta procissão com as pernas, é necessário implicar nesse processo a vida espiritual.
O Senhor subiu com esta explicação: “é melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei” (Jo 16, 7). Portanto, é necessário que o Senhor nos envie o Espírito Santo e que Maria, Mãe da Igreja, interceda para nos obter tão grande Dom. E assim aconteceu: forte rajada de vento e línguas de fogo pousaram sobre cada um deles. Agora sim, estamos em condições de perceber as motivações e o sentido do salmo quando nos convida ao júbilo das palmas. Só à luz daquelas outras línguas se pode chegar ao conhecimento do mistério de Cristo e, por este, ao mistério de Deus Pai. Não é por acaso que o Papa Francisco recomenda, com tanta insistência, o batismo no Espírito Santo dentro do itinerário do Seminário de Vida Nova no Espírito. E também por aqui se percebe a relevância que lhe dá o Cardeal Raniero Cantalamessa. Cresce na Igreja a consciência da importância dos itinerários catecumenais. É pertinente que a Missão Popular seja definida como “uma ação extraordinária do Espírito Santo”. Sabemos como Ele é o principal agente da Nova Evangelização.
A Família Vicentina tem agora uma excelente oportunidade para valorizar a perspetiva pneumatológica da sua espiritualidade a pretexto do 400º aniversário da experiência de Santa Luísa com a “Luz do Pentecostes”. Seria um desperdício que esta evocação, reduzida à entrega de um pergaminho, acabasse por ser uma oportunidade perdida em matéria de evangelização. Não há palmas jubilosas autênticas sem uma consciência existencial que brote desse “vinho doce” que o Pentecostes celebra. Fecunda Novena do Pentecostes para todos.